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A
dias de findarmos a nossa época desportiva, é tempo de começarmos a reflectir
sobre a mesma. E mais do que nos questionarmos sobre o resultado, importa-nos
ser bastante autocríticos em relação ao processo.
Com
necessidade de crescermos do ponto de vista metodológico, partilhamos aquilo
que podemos considerar “A operacionalização (?) da Periodização
Táctica em contexto amador”, que é nesse que desenvolvemos o nosso treinar. Extremamente influenciados pelo Professor
Vítor Frade, tentámos aplicar na prática aquilo que fomos “bebendo” ao longo de
anos em teoria, reconhecendo que esta Metodologia é sobretudo orientada para
contextos de rendimento superior, com outro tipo de circunstâncias que não as que
nós encontrámos na equipa.
Antes
de mais, acreditamos que para uma melhor compreensão das nossas decisões é
importar enquadrá-las naquilo que foi a nossa realidade.
Contextualização
Na
quinta-feira anterior à J5 da divisão principal da AF Guarda, aceitámos o
desafio de orientar a equipa principal do GD Foz Côa, naquela que foi a nossa
primeira experiência no futebol sénior. A equipa vinha de um início algo
atribulado, quer em termos de processo (um período pré-competitivo com
bastantes ausências), quer em termos de resultado (uma 1V e 3D).
Uma
equipa experiente, que variou entre os 18 e os 23 jogadores com alguns dos mais
influentes acima dos 35 anos e com percursos muito heterogéneos, havendo desde
o jogador internacional jovem por Portugal, ao jogador com menos de 10 jogos na
principal divisão do distrito da Guarda.
Escusado
será dizer que neste grupo, nenhum jogador era profissional. Pelo contrário,
alguns jogadores nem sempre estavam disponíveis para o jogo e/ou treino. Aliado
a esse constrangimento, muitos dos jogadores têm profissões muito desgastantes ao
nível físico, numa zona geográfica onde a agricultura é uma das áreas com maior
empregabilidade.
Importa
ainda referir que numa zona cada vez mais desertificada, a equipa viu-se órfã de
defesas-centrais (apenas um de raiz) e laterais-esquerdos (apenas um jogador
tinha desempenhado anteriormente essas funções e já como “adaptação”).
Esta
“escassez” teve também reflexo na equipa técnica, centrada apenas na pessoa do Treinador,
acumulando todas as outras funções mais técnicas.
Para
finalizar, é também importante salientar que o clube não possui equipa de
juniores, que tão importante poderia ter sido para enriquecer este processo.
Morfociclo-Padrão
Mantendo
as referências metodológicas da Periodização Táctica, tentámos adaptar esta Metodologia
de Treino de rendimento superior a um contexto bastante amador. Foi uma tarefa
de construção diária, em que algumas nuances foram sendo ajustadas, mas sempre
com o propósito de melhor operacionalizar esta Metodologia em função do que
foram as circunstâncias que rondaram a nossa equipa.
Seguindo
sempre uma lógica de pensamento Sistémico e Complexo tentámos que existisse
sempre uma Relação entre o dia da semana em que treinámos e aquilo que foi e
poderá vir a ser o jogo, aquilo que é o nosso Jogar e aquilo que é o Corpo.
Seja de Todos, seja de cada um dos jogadores.
Nesse
sentido, e admitindo que o mesmo possa ter bastantes falhas ou seja
completamente desajustado para outras realidades amadoras, adoptámos o seguinte
Morfociclo Padrão como matriz de periodização e operacionalização dos nossos
treinos:
terça |
quinta |
sexta |
|
Preocupações Fundamentais |
Recuperar/Estimular
o Corpo, em função do último jogo. |
Fazer
com todos juntos joguem o mesmo Jogo. |
Afinar
o Jogo que todos devem saber jogar. |
Preocupações Complementares |
Desenvolvimento
da técnica “mais individual.” |
Melhoria
da Manutenção da Posse de Bola. |
Desenvolvimento
estruturado do passe e recepção. |
Escalas de Complexidade |
Sub-princípios
. Relações no plano intersetorial, Setorial, Grupal e individual |
Grandes
Princípios e sub- princípios; Relações no plano Coletivo, Intersetorial. |
Grandes
Princípios e sub- princípios; Relações no plano Coletivo (pouco tempo),
Intersetorial, Setorial, Grupal e Individual. |
Variáveis Quantitativas |
Exercícios
com complexidade máxima de GR+6v6+GR; Espaços
relativamente curtos; períodos maiores de 8´ a 12' de exercício. Marcado pela
descontinuidade: joga-descansa. |
Aproximação
do 11v11 – de forma condicionada para a Propensão de comportamentos
desejados; Espaço
com largura e profundidade o mais parecida ao terreno de jogo; períodos de
15' a 20'. |
Adaptabilidade
máxima aos problemas tidos do jogo anterior e potenciais do jogo posterior;
períodos de 10' a 15'. Colocação de pouco estorvo nas dinâmicas pretendidas –
aproveitamento do contexto de Finalização. |
A
escolha das cores não foi aleatória. As mesmas estão relacionadas com a escolha
das cores do Morfociclo Padrão utilizado pela Periodização Táctica para o Alto Rendimento.
Contudo,
temos noção que nesta nossa adaptação falta muita cor branca para ajudar a
colorir alguns dias da semana. Sobretudo no dia de terça-feira, onde admitimos
que o Corpo de alguns possa ainda não estar muito preparado para determinado
tipo de esforços. Mas mesmo sem marcar presença neste quadro, a preocupação com
a recuperação foi sempre presente ao longo dos treinos.
Reconhecendo
o benefício de termos esta matriz a orientar o nosso processo de treino,
acreditamos que possa ter algumas falhas. Seja no plano intencional, seja
depois na operacionalização das dinâmicas referentes de cada dia, que possam
vir a ser diferentes na prática do que aquilo que era na intenção-prévia.
Prova
disso, foram algumas lesões musculares que tivemos, tanto ao nível dos adutores
como dos isquiotibiais, que nos fizeram continuar a questionar determinadas nuances
do nosso processo. Muito embora alguns desses mesmos problemas terem surgido no
decorrer de jogos em relvado natural, diferente do nosso relvado de treino e
jogo que é sintético.
Nas
próximas reflexões iremos abordar cada um dos dias de treino, onde falaremos de
forma mais particular de cada um deles, e da relação dos treinos entre si.
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