quarta-feira, 8 de junho de 2022

A operacionalização (?) da Periodização Táctica em contexto amador - o Morfociclo Padrão

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A dias de findarmos a nossa época desportiva, é tempo de começarmos a reflectir sobre a mesma. E mais do que nos questionarmos sobre o resultado, importa-nos ser bastante autocríticos em relação ao processo.

Com necessidade de crescermos do ponto de vista metodológico, partilhamos aquilo que podemos considerar “A operacionalização (?) da Periodização Táctica em contexto amador”, que é nesse que desenvolvemos o nosso treinar. Extremamente influenciados pelo Professor Vítor Frade, tentámos aplicar na prática aquilo que fomos “bebendo” ao longo de anos em teoria, reconhecendo que esta Metodologia é sobretudo orientada para contextos de rendimento superior, com outro tipo de circunstâncias que não as que nós encontrámos na equipa.

Antes de mais, acreditamos que para uma melhor compreensão das nossas decisões é importar enquadrá-las naquilo que foi a nossa realidade.

 

Contextualização

Na quinta-feira anterior à J5 da divisão principal da AF Guarda, aceitámos o desafio de orientar a equipa principal do GD Foz Côa, naquela que foi a nossa primeira experiência no futebol sénior. A equipa vinha de um início algo atribulado, quer em termos de processo (um período pré-competitivo com bastantes ausências), quer em termos de resultado (uma 1V e 3D).

Uma equipa experiente, que variou entre os 18 e os 23 jogadores com alguns dos mais influentes acima dos 35 anos e com percursos muito heterogéneos, havendo desde o jogador internacional jovem por Portugal, ao jogador com menos de 10 jogos na principal divisão do distrito da Guarda.

Escusado será dizer que neste grupo, nenhum jogador era profissional. Pelo contrário, alguns jogadores nem sempre estavam disponíveis para o jogo e/ou treino. Aliado a esse constrangimento, muitos dos jogadores têm profissões muito desgastantes ao nível físico, numa zona geográfica onde a agricultura é uma das áreas com maior empregabilidade.

Importa ainda referir que numa zona cada vez mais desertificada, a equipa viu-se órfã de defesas-centrais (apenas um de raiz) e laterais-esquerdos (apenas um jogador tinha desempenhado anteriormente essas funções e já como “adaptação”).

Esta “escassez” teve também reflexo na equipa técnica, centrada apenas na pessoa do Treinador, acumulando todas as outras funções mais técnicas.

Para finalizar, é também importante salientar que o clube não possui equipa de juniores, que tão importante poderia ter sido para enriquecer este processo.

 

Morfociclo-Padrão

Mantendo as referências metodológicas da Periodização Táctica, tentámos adaptar esta Metodologia de Treino de rendimento superior a um contexto bastante amador. Foi uma tarefa de construção diária, em que algumas nuances foram sendo ajustadas, mas sempre com o propósito de melhor operacionalizar esta Metodologia em função do que foram as circunstâncias que rondaram a nossa equipa.

Seguindo sempre uma lógica de pensamento Sistémico e Complexo tentámos que existisse sempre uma Relação entre o dia da semana em que treinámos e aquilo que foi e poderá vir a ser o jogo, aquilo que é o nosso Jogar e aquilo que é o Corpo. Seja de Todos, seja de cada um dos jogadores.

Nesse sentido, e admitindo que o mesmo possa ter bastantes falhas ou seja completamente desajustado para outras realidades amadoras, adoptámos o seguinte Morfociclo Padrão como matriz de periodização e operacionalização dos nossos treinos:

terça

quinta

sexta

Preocupações Fundamentais

Recuperar/Estimular o Corpo, em função do último jogo.

Fazer com todos juntos joguem o mesmo Jogo.

Afinar o Jogo que todos devem saber jogar.

Preocupações Complementares

Desenvolvimento da técnica “mais individual.”

Melhoria da Manutenção da Posse de Bola.

Desenvolvimento estruturado do passe e recepção.

Escalas de Complexidade

Sub-princípios . Relações no plano intersetorial, Setorial, Grupal e individual

Grandes Princípios e sub- princípios; Relações no plano Coletivo, Intersetorial.

Grandes Princípios e sub- princípios; Relações no plano Coletivo (pouco tempo), Intersetorial, Setorial, Grupal e Individual.

Variáveis Quantitativas

Exercícios com complexidade máxima de GR+6v6+GR;

Espaços relativamente curtos; períodos maiores de 8´ a 12' de exercício. Marcado pela descontinuidade: joga-descansa.

Aproximação do 11v11 – de forma condicionada para a Propensão de comportamentos desejados;

Espaço com largura e profundidade o mais parecida ao terreno de jogo; períodos de 15' a 20'.

Adaptabilidade máxima aos problemas tidos do jogo anterior e potenciais do jogo posterior; períodos de 10' a 15'. Colocação de pouco estorvo nas dinâmicas pretendidas – aproveitamento do contexto de  Finalização.

 

A escolha das cores não foi aleatória. As mesmas estão relacionadas com a escolha das cores do Morfociclo Padrão utilizado pela Periodização Táctica para o Alto Rendimento.

Contudo, temos noção que nesta nossa adaptação falta muita cor branca para ajudar a colorir alguns dias da semana. Sobretudo no dia de terça-feira, onde admitimos que o Corpo de alguns possa ainda não estar muito preparado para determinado tipo de esforços. Mas mesmo sem marcar presença neste quadro, a preocupação com a recuperação foi sempre presente ao longo dos treinos.       

Reconhecendo o benefício de termos esta matriz a orientar o nosso processo de treino, acreditamos que possa ter algumas falhas. Seja no plano intencional, seja depois na operacionalização das dinâmicas referentes de cada dia, que possam vir a ser diferentes na prática do que aquilo que era na intenção-prévia.

Prova disso, foram algumas lesões musculares que tivemos, tanto ao nível dos adutores como dos isquiotibiais, que nos fizeram continuar a questionar determinadas nuances do nosso processo. Muito embora alguns desses mesmos problemas terem surgido no decorrer de jogos em relvado natural, diferente do nosso relvado de treino e jogo que é sintético.

Nas próximas reflexões iremos abordar cada um dos dias de treino, onde falaremos de forma mais particular de cada um deles, e da relação dos treinos entre si.


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