sexta-feira, 10 de junho de 2022

A operacionalização (?) da Periodização Táctica em contexto amador - o Dia "Intencionalmente" Azul

 
Dia “Intencionalmente” Azul


terça

Preocupações Fundamentais

Recuperar/Estimular o Corpo, em função do último jogo.

Preocupações Complementares

Desenvolvimento da técnica “mais individual.”

Escalas de Complexidade

Sub-princípios . Relações no plano intersetorial, Setorial, Grupal e individual

Variáveis Quantitativas

Exercícios com complexidade máxima de GR+6v6+GR;

Espaços relativamente curtos; períodos maiores de 8´ a 12' de exercício. Marcado pela descontinuidade: joga-descansa.

 

De todos os dias os dias de treino, foi o treino de terça-feira que mais dificuldades sentimos em o planificar.

As nossas preocupações fundamentais para este treino baseavam-se maioritariamente naquilo que se tinha passado no jogo anterior. Em especial na dimensão emocional e na dimensão fisiológica dos jogadores.

Por um lado, julgamos ser importante que logo no início da semana sejam incrementadas as cargas motivacionais necessárias para encarar a semana de treinos de uma forma positiva. Tanto mantendo um espírito alegremente humilde após um bom resultado, como encorajar os jogadores após um resultado menos bom. Dessa forma, valorizámos o treino de terça para melhorarmos a sócio-afectividade dos jogadores, tanto em termos de escolha de exercícios, como ao nível da instrução.


Vítor Severino e Luís Castro - direitos da imagem "Terra"


Sempre que possível tentámos definir dois grupos neste treino. O grupo de jogadores com maior necessidade de recuperação e o grupo de maior necessidade de jogo.

O primeiro grupo era normalmente aquele que fazia bastantes minutos no jogo de domingo, e onde a nossa preocupação passava por “afinar porcas e parafusos” ou seja agilizar a zona pélvica e todas as estruturas ósteo-articulares que a rodeiam, através de jogos de futvólei, por exemplo, para dessa forma estarem mais “oleadas” para o resto da semana. Por outro lado, tentávamos que a participação desse grupo nos outros exercícios fosse a uma escala de muito maior recuperação do que desempenho, sem que a intensidade em acção fosse perdida. Ou seja, os jogadores passavam mais tempo a recuperar do que a treinar, mas no momento de desempenho era-lhes exigido sempre uma postura muito intensa a nível Táctico.

Já ao segundo grupo, tentámos oferecer o máximo de jogo possível. Em espaços curtos, muitas das vezes pouco maiores que a grande-área, com equipas pequenas, tentámos que os jogadores vivenciassem uma fatia do bolo que o jogo de domingo habitualmente é.

Através deste tipo de jogo, tentámos que este segundo grupo fosse sempre nivelado por cima o que nem sempre aconteceu, já que, curiosamente ou não, era neste dia em que as ausências dos jogadores tendencialmente suplentes mais se notavam.  

Intrinsecamente a esta preocupação do Recuperação/Esforço (em que a palavra Recuperação vem em primeiro por hierarquia de prioridades), eram escolhidos exercícios em espaços reduzidos que conseguissem promover alguma tensão muscular aos jogadores. Segundo a lógica de necessidades dos tais grupos mencionados acima.

Pelo facto de queremos gerir a relação Recuperação/Esforço da melhor forma, admitimos que ao longo do desgaste da época fomos utilizando cada vez menos este dia como dia aquisitivo. Ou seja, fomos utilizando este dia para tentar melhorar o Corpo de cada um dos jogadores (mais do que o Corpo da equipa), potenciando-o para que quinta e sexta-feira estivessem mais limpos para a tal aquisição.

Com maior ou menor grau de especificidade aquisitiva, este dia foi sempre aquele que procurámos ser o menos instrutivos quanto possível. O facto de grande parte dos jogadores chegar ao treino ainda com algum desgaste, fez-nos adoptar esta postura bastante neutra, deixando espaço para os jogadores desfrutarem ao máximo do seu treino, puxando um bocado do espírito do “Futebol de Rua”, mais rebelde e imprevisível, para os diferentes exercícios.

Por fim, resta reconhecer que embora estivesse presente a intenção de trabalharmos neste dia da semana de forma “mais individual”, tal não aconteceu ao longo da época. Gostaríamos de ter trazido para o treino de terça-feira o desenvolvimento de certas ferramentas individuais mais ligadas à dimensão técnica do jogo, fosse o passe, a recepção, o drible, a finalização, a colocação de apoios, o cabeceamento, o pé não-dominante… mas que por diversas circunstâncias não foi possível concretizar. Sempre com a reflexão de Aristóteles presente, que nos diz que “o todo é maior que a soma das partes”, consideramos ser importante agirmos mais directamente ao longo do nosso processo sobre o Todo, mas também sobre as Partes.

Sendo uma área do Treinar que tanto prazer nos dá em operacionalizar, esperamos ter oportunidade para concretizar esta nossa intenção na próxima época.


*Contextualização

Na quinta-feira anterior à J5 da divisão principal da AF Guarda, aceitámos o desafio de orientar a equipa principal do GD Foz Côa, naquela que foi a nossa primeira experiência no futebol sénior. A equipa vinha de um início algo atribulado, quer em termos de processo (um período pré-competitivo com bastantes ausências), quer em termos de resultado (uma 1V e 3D).

Uma equipa experiente, que variou entre os 18 e os 23 jogadores com alguns dos mais influentes acima dos 35 anos e com percursos muito heterogéneos, havendo desde o jogador internacional jovem por Portugal, ao jogador com menos de 10 jogos na principal divisão do distrito da Guarda.

Escusado será dizer que neste grupo, nenhum jogador era profissional. Pelo contrário, alguns jogadores nem sempre estavam disponíveis para o jogo e/ou treino. Aliado a esse constrangimento, muitos dos jogadores têm profissões muito desgastantes ao nível físico, numa zona geográfica onde a agricultura é uma das áreas com maior empregabilidade.

Importa ainda referir que numa zona cada vez mais desertificada, a equipa viu-se órfã de defesas-centrais (apenas um de raiz) e laterais-esquerdos (apenas um jogador tinha desempenhado anteriormente essas funções e já como “adaptação”).

Esta “escassez” teve também reflexo na equipa técnica, centrada apenas na pessoa do Treinador, acumulando todas as outras funções mais técnicas.

Para finalizar, é também importante salientar que o clube não possui equipa de juniores, que tão importante poderia ter sido para enriquecer este processo.

 

 

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