sexta-feira, 24 de junho de 2022

A operacionalização (?) da Periodização Táctica em contexto amador - o Dia "Intencionalmente" Amarelo

 Dia “Intencionalmente” Amarelo

sexta

Preocupações Fundamentais

Afinar o Jogo que todos devem saber jogar.

Preocupações Complementares

Desenvolvimento estruturado do passe e recepção.

Escalas de Complexidade

Grandes Princípios e sub- princípios; Relações no plano Coletivo (pouco tempo), Intersetorial, Setorial, Grupal e Individual.

Variáveis Quantitativas

Adaptabilidade máxima aos problemas tidos do jogo anterior e potenciais do jogo posterior; períodos de 10' a 15'. Colocação de pouco estorvo nas dinâmicas pretendidas – aproveitamento do contexto de  Finalização.

 

Podemos dizer que o treino de sexta-feira, teve um grau de riqueza bastante interessante, muito embora não fosse com a regularidade que desejaríamos.

Era aqui que pretendíamos aprofundar as escalas dos princípios de jogo, valorizando determinados detalhes, sobretudo relativos ao nosso Jogar, já que ao longo da época foi sobretudo com a nossa equipa que nos preocupámos. Porém, e ao contrário do que era nosso desejo, nem sempre conseguimos aproveitar este dia para afinar o nosso jogo, fruto de algumas ausências de jogadores potencialmente titulares. Era neste treino que pretendíamos explorar determinadas ideias, mas nem sempre o conseguimos fazer por faltarem ao treino os intervenientes e intérpretes dessa intenção.

Direitos de imagem - B/R Football

Felizmente, tais ausências não foram tão habituais neste dia, o que nos permitiu fazer um balanço positivo do rescaldo dos treinos de sexta-feira.   

Sobre a riqueza do treino de sexta, é importante realçar o valor que os “simples” exercícios estruturados de passe e recepção tiveram ao longo da época. Este tipo de exercícios, onde os jogadores basicamente iam do sinalizador A para o sinalizador B cumprindo determinada tarefa, mostraram ser bastante ricos do ponto de vista aquisitivo.

Isto porque, embora possam ser operacionalizados segundo uma lógica muito “analítica” e “fechada”, no nosso caso tinham bastante ligação às nossas ideias relativas ao Jogar construído. Mesmo dentro dos seus constrangimentos próprios, havia espaço para ser específico com o nosso Jogar. Curiosamente, numa fase da época onde não operacionalizámos tanto este tipo de exercícios, foi também um período mais pobre relativo ao nosso momento de organização ofensiva.       

Tal como nos treinos de quinta-feira, voltámos a ter problemas relacionados com a área do exercício. Nos nossos primeiros treinos de sexta-feira, quando queríamos potenciar a melhoria da velocidade de contracção muscular, apostámos em distâncias longas, “convidando” os jogadores a terem de desempenhar sprints de 30-40m, sem grande “ruído”.

Ou seja, eram exercícios orientados para situações de finalização, sem grandes constrangimentos ou graus de complexidade, e até, muitas vezes, sem oposição.

“Na sexta-feira (…) o fundamental, ao ser algo sem estorvo, (isto é, sem travagens, mudanças de direcção, saltos), ao ser sobre a maximização da velocidade de contracção, importa que se garanta uma certa distância de forma a que os indivíduos possam alcançar a sua velocidade máxima (30 metros mínimo aprox.)” (Reis, 2020)

Contudo, contrariando esta lógica, a partir do primeiro terço da época alterámos significativamente as distâncias de acção deste tipo de exercícios, indo de encontro à ideia manifestada por alguns jogadores que diziam que era muito espaço para percorrer em velocidade máxima. Ou seja, mesmo reconhecendo que parte da intenção prévia do objectivo do dia de sexta-feira não estava a ser concretizado, achámos que deveríamos ceder e ir de encontro ao conforto desses jogadores.

No entanto, numa próxima oportunidade, voltaremos a tentar recuperar as tais distâncias inicialmente idealizadas, já que, através do seu encurtamento é notório ver que alguns jogadores estão longe de alcançar a sua velocidade máxima, pois não têm tempo-espaço para isso.

Por fim, resta-nos ainda abordar a constante preocupação que tínhamos na planificação deste treino em função do que tinha sido o treino do dia anterior. Fruto de algum desgaste conquistado no treino de quinta, era nossa preocupação no treino de sexta-feira que a relação esforço-recuperação fosse muito bem equilibrada.

Este nosso cuidado, para além de se ocupar na dimensão fisiológica, estava fundamentalmente atento aos indicadores emocionais e psicológicos dos jogadores. Ou seja, como era habitualmente um treino em que através dos exercícios “fundamentais” procurávamos “afinar” e “aprofundar” o nosso Jogar, tendo assim uma alta exigência emocional e psicológica, conferíamos aos primeiros exercícios do treino, um grau de complexidade menos exigente do ponto de vista emocional e psicológico. Isto para não sobrecarregar os jogadores que manifestavam corporalmente ainda algum desconforto em relação ao treino do dia anterior.   

 

Contextualização

Na quinta-feira anterior à J5 da divisão principal da AF Guarda, aceitámos o desafio de orientar a equipa principal do GD Foz Côa, naquela que foi a nossa primeira experiência no futebol sénior. A equipa vinha de um início algo atribulado, quer em termos de processo (um período pré-competitivo com bastantes ausências), quer em termos de resultado (uma 1V e 3D).

Uma equipa experiente, que variou entre os 18 e os 23 jogadores com alguns dos mais influentes acima dos 35 anos e com percursos muito heterogéneos, havendo desde o jogador internacional jovem por Portugal, ao jogador com menos de 10 jogos na principal divisão do distrito da Guarda.

Escusado será dizer que neste grupo, nenhum jogador era profissional. Pelo contrário, alguns jogadores nem sempre estavam disponíveis para o jogo e/ou treino. Aliado a esse constrangimento, muitos dos jogadores têm profissões muito desgastantes ao nível físico, numa zona geográfica onde a agricultura é uma das áreas com maior empregabilidade.

Importa ainda referir que numa zona cada vez mais desertificada, a equipa viu-se órfã de defesas-centrais (apenas um de raiz) e laterais-esquerdos (apenas um jogador tinha desempenhado anteriormente essas funções e já como “adaptação”).

Esta “escassez” teve também reflexo na equipa técnica, centrada apenas na pessoa do Treinador, acumulando todas as outras funções mais técnicas.

Para finalizar, é também importante salientar que o clube não possui equipa de juniores, que tão importante poderia ter sido para enriquecer este processo.

 

Bibliografia

Reis, J. (2020). A Sustentabilidade do Morfociclo Padrão: A «Célula Mãe» da Periodização Táctica. Vigo: MCSports.

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