terça-feira, 3 de maio de 2016

Apontamentos do III Congresso de Futebol da UTAD

No passado dia 11 de Abril teve lugar na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro o 3º Congresso de Futebol. O evento, organizado pelo Núcleo de Estudantes de Desporto da UTAD, contou com a participação de vários intervenientes, das mais diversas áreas específicas do Futebol.

Foram palestrantes Alexandre Monteiro (Coaching Desportivo); Rui Tomé, Bruno Freitas, Tiago Fernandes e Gilberto Freitas (Formação de Elite); António Oliveira (O Treinador e os Diferentes Contextos); Rui Lança (O Treinador e a Equipa – Liderança); Vítor Maçãs (Organização Ofensiva – Prático); Francisco Neto (Desenvolvimento do Futebol Feminino); Daúto Faquirá, Vítor Oliveira e Luís Castro (Estruturação e Preparação de uma Equipa); Carlos Soares (O Calendário Desportivo como Meio de Melhoria da Modalidade); André Ribeiro, Rui Malheiro e Ricardo Damas (Scouting – Equipas/Jogadores O que Ver/Como Aplicar); e Bruno Gonçalves (Apresentação dos Resultados Obtidos por GPS).     

Coaching Desportivo - Alexandre Monteiro

Por motivos superiores não nos foi possível chegarmos a tempo de assistir na totalidade à apresentação deste primeiro palestrante.
Contudo, pelo que nos foi possível aperceber, Alexandre Monteiro abordou, sobretudo, a utilização da Linguagem Corporal no modo de actuação do Treinador. Essa é mesmo a sua área de especialização tendo sidos apresentados alguns detalhes comportamentais que ajudam os treinadores a serem mais fortes no seu processo comunicacional e motivacional.

Formação de Elite (Mesa Redonda) – Rui Tomé, Bruno Freitas, Tiago Fernandes e Gilberto Freitas

Com esta Mesa Redonda podemos ficar a conhecer mais e melhor o processo de operacionalização de quatro equipas de Top nacional. Rui Tomé a representar a equipa Sub19 do SC Braga, Bruno Freitas a abordar as suas ideias dos Sub13 do SL Benfica, Tiago Fernandes a dar o seu exemplo dos Sub19 do Sporting CP e Gilberto Freitas a expor o seu trabalho dos Sub15 do Vitória SC.
Tentámos “beber” o máximo de informação de cada um dos intervenientes pelo que tentaremos apresentar aquilo que cada um foi dizendo acerca da sua postura perante o processo de formação assim como a do clube que representam.

Rui Tomé (SC Braga):
·         Existe uma intervenção sobre o lado humano com cuidados especiais para os que não chegam ao top.
·         Embora muitas vezes se confunda, é muito importante distinguir Competitividade de Competição. Podem parecer sinónimos mas estão relacionados com posturas sobre o processo bastante diferentes. No clube, pretende-se criar altos padrões de competitividade, que promovam um desenvolvimento saudável na relação entre a Aprendizagem e o Resultado; já a competição é encarada, maior parte das vezes, como um elemento nocivo ao processo de aprendizagem dos jogadores, corroendo-os e aos seus encarregados de educação.
·         Fará sentido criar a mesma estrutura posicional para todas as equipas da formação? Pode-se ter a propensão de Jogar com os mesmos princípios manifestando diferentes “formas” (leia-se estruturas).
·         Julian Draxler (habilidoso extremo alemão de 22 anos) jogou uma época durante os escalões de formação na posição “6” para sentir e aprender a interpretar o que o jogador dessa posição “sofre” quando o extremo perde a bola. São diferentes estratégias para tentar desenvolver o jogador.
·         Um outro exemplo é o de Diogo Capel, outrora apontado como um dos jogadores com mais potencial do mundo. Com o intuito de valorizar a diversidade de posições/funções em campo, não seria interessante o espanhol ter experimentado jogar em posições mais interiores dadas as diferenças das dinâmicas e constrangimentos espácio-temporais?
·         No Braga, foi contratado o João Tomás para trabalhar de forma mais eficiente os Pontas de Lança, normalmente com um treino semanal. Com isso, não se faz um treino analítico mas um treino orientado para o detalhe específico da posição. Acredita-se que é possível criar um PL, ficando o trabalho facilitado se existirem bons modelos sociais de PL, o que, neste momento, não é o caso do Éder.
·         Sobre o processo comunicacional e o tipo de feedbacks utilizado no treino, tenta-se que os constrangimentos do exercício não sejam demasiadamente difíceis e que os feedbacks sejam orientados para a dimensão emocional reforçando-se positivamente o jogador.
          
Bruno Freitas (SL Benfica):
·         No clube, tenta-se ajudar os pais a gerir as expectativas dos filhos (para além das expectativas criadas pelos próprios jovens jogadores), “ensinando” os pais a lidar com o fracasso. Daí, haver também um acompanhamento muito forte nas áreas da formação académica e social do indivíduo. Pretende-se mostrar a diferença de processos entre a Formação e a Alta Competição.
·         Salvo muito raras excepções, o “individual” não se promove sem um bom “colectivo”. Quando o colectivo rende, o individual tem tudo para emergir e evoluir.
·         Os conceitos de Especialização e de Diversificação são conceitos confusos e que muitas vezes são mal interpretados e/ou utilizados, não tendo necessariamente a ver com posições em campo mas antes com liberdades e funções a desempenhar pelo jogador.
·         Quando é que a criança joga futebol, hoje em dia? Pelas condições socioculturais actuais, a criança não joga na rua nem na escola, e cada vez menos ela joga no clube, fruto da metodologia de treino adoptada por determinados clubes e/ou treinadores! É fulcral mudar este paradigma!
·         Fazemos “mea culpa” no processo de formação ao não reconhecermos a lacuna que existe na qualidade demonstrada pelos Pontas de Lanças. As limitações são evidentes. Ao mesmo tempo, todos temos de reflectir quando tentamos responder à seguinte pergunta: o que é mais valorizado, “encostar” de bico para a baliza e fazer o golo ou fintar o guarda-redes com uma finta habilidosa e falhar?
·         Orientação dos constrangimentos dos exercícios para o desenvolvimento de um Jogar. Utilização da dimensão competitiva como punição da derrota – p. e. quem perde arruma o material. Ainda sobre o feedback, deixa-se errar algumas vezes para que eles tentem interpretar o erro, e só quando este se torna sistemático é que se interfere.
·         A multidisciplinaridade desportiva pode ser favorável ao crescimento das competências motoras, mas também existem exemplos de quem chegou muito longe a top sem ter experimentado diferentes modalidades desportivas.

Tiago Fernandes (Sporting CP):
·         A prioridade do processo é o desenvolvimento do jogador. Colá-lo na equipa A e/ou na B. É desejo do clube formar o máximo de jogadores que sejam competentes para jogar nas equipas profissionais. Nesse sentido, existe um foco muito grande dirigido ao grupo de jogadores de elite.
·         O colectivo forte é um contexto mais estimulante e profícuo para o desenvolvimento do jogador. Com essa preocupação, quando se está a gerir um talento, o maior erro que se pode cometer é dando-lhe “palmadinhas nas costas” e dizendo-lhe que é um crack (ou seja, tirando-o da noção colectiva da Aprendizagem).
·         O Cédric (antigo jogador do Sporting) foi médio durante todo o seu processo de formação. Tentar gerir a sua cabeça e a do seu encarregado de educação foi o mais difícil para tentar fazer ver a ambos que o seu futuro profissional era facilitado com a sua passagem para defesa-direito. 
·         No clube, dá-se imensa importância à mentalidade de um jogador de formação para se adaptar à adversidade.
·         A evolução do futebol tendeu a que o Ponta de Lança não tenha a preponderância que tinha outrora. No futebol de formação, estamos a formatar muito o 1x4x3x3 em que o avançado não tem muito a bola nem grande importância para o Jogar da equipa.
·         Para o desenvolvimento do jogador, é relevante que exista uma preparação do próprio para ser emprestado. Nesse caso, se for bom ele “chega e assume”!
·         Relativamente ao PL – no Sporting também existe um trabalho individual para esta “posição” – é indispensável que se oriente o processo de treino para a repetição de dinâmicas abertas para o desenvolvimento individual do jogador.
·         Na pré-época o quadro competitivo foi composto por 10 jogos contra equipas do CNS, tentando-se promover um elevado grau de exigência.
·         O próprio tira ideias do Basquetebol e do Futsal para as aplicar no jogo da equipa, em especial nos esquemas táticos.

Gilberto Freitas (Vitória SC):
·         Mais do que ganhar, deseja-se Formar – potenciando o individual dentro do colectivo. É preocupação tentar potenciar capacidades e qualidades que ainda vão aparecer no desenvolvimento desportivo e maturacional dos jogadores.
·         O Talento (ou jogador talentoso) desenvolve-se mais em contextos mais complexos. Assim, um Modelo de Jogo que seja mais exigente nos Princípios potencia o aparecimento de jogadores mais complexos.  
·         O desenvolvimento do jogador pode ser favorável quando o contexto permite a experimentação de outras posições em campo. Casos recentes no Vitória em que jogadores que jogam a determinada posição no clube são convocados à selecção nacional para jogarem noutras posições.
·         É muito mau criar rótulos aos jogadores. Ser o “novo Ronaldo” ou “novo Messi” pode ser muito prejudicial para o processo de Aprendizagem do jogador. Nesse aspecto, os empresários poderão ser muito nefastos com os seus feedbacks e juízos de valor.
·         Nas idades mais precoces da formação é importantíssimo haver um contacto com outras modalidades desportivas. No Vitória existe um caso muito interessante de prática multidesportiva que favoreceu o seu desenvolvimento como jogador, levando-o mesmo a chegar à selecção nacional Sub16 – André Almeida.

O Treinador e os Diferentes Contextos - António Oliveira

O treinador António começou por fazer uma breve apresentação do seu currículo, abordando a sua carreira como jogador – passagens por Benfica, Braga, Santa Clara e Oriental – e como treinador – adjunto do Tractor, do Irão, e adjunto da equipa sub19 da AD Oeiras.
O treinador António Oliveira considera que a CULTURA deva ser a base que sustenta do trabalho do treinador no estrangeiro, sendo que é a CULTURA que o ajuda a definir:
·         o Modelo de Jogo;
·         o Modelo de Treino;
·         o Modelo de Comunicação;
·         o Modelo de Observação.
Assim, António Oliveira considera pertinente que o Treinador, quando está no estrangeiro, seja um pleno conhecedor do País para onde vá exercer a sua profissão, conhecendo exaustivamente o contexto sociopolítico, a língua, a cultura desportiva, os hábitos alimentares, os costumes religiosos, os adeptos, a vida social e a formação dos seus habitantes – no caso jogadores.

·         Modelo de Jogo
Organização + Compromisso + Concentração + Confiança = Sucesso
Abordagem aos grandes princípios do Modelo de Jogo:
o   disposição dos jogadores em campo,
o   1ª e 2ª fases de construção,
o   lado fraco e lado forte,
o   linha defensiva em função da bola,
o   bola aberta vs bola fechada.

·         Modelo de Treino
Muita dificuldade foi encontrada na operacionalização dos exercícios, sobretudo no que se refere às exigências relativas à complexidade dos mesmos.
Devido também a algumas carências de ordem tático-técnica, chegou-se a utilizar o treino analítico para ensino de alguns comportamentos individuais.
Tendo em conta a experiência a sua experiência no Tractor, António Oliveira “mostrou” o Plano Anual de Trabalho da equipa, assim como o Microciclo Padrão, exemplos das Sessões de Treino e do Controlo das mesmas.

·         Modelo de Observação
Neste capítulo, António Oliveira falou sobre o processo de Observação e Análise das equipas adversárias, explicando, as muitas dificuldades que existem na recolha de dados sobre as diferentes equipas do campeonato.
Foi abordado o Relatório de Scouting do adversário, em que se dá um ênfase especial aos Pontos (Comportamentos e Jogadores) Chave do processo ofensivo e defensivo do adversário; ao Processo Competitivo – referente à análise descritiva da equipa; à evolução da própria equipa; e à estatística comparativa.


O Treinador e a Equipa – Liderança - Rui Lança

O palestrante iniciou a sua apresentação com uma série de referências académicas acerca da definição de Liderança.
Assim, podemos considerar a Liderança e as suas diferentes Dinâmicas como o processo inter-relacional e comunicacional que existe entre o Treinador, os Atletas, o Contexto e uma Inteligência Colectiva que define o grupo e a equipa.
O investigador referiu-se também ao seu trabalho académico de doutoramento em que entrevistou doze treinadores campeões nacionais em diferentes modalidades desportivas, procurando encontrar um padrão comum de comportamentos de excelência. No seu estudo, e através da relação entre a literatura e as entrevistas realizadas, constituíram-se quatro dimensões que são consideradas fulcrais para “justificar” o sucesso, sendo elas:
·         A liderança;
·         As acções do treinador;
·         A equipa técnica;
·         As relações.
Uma outra conclusão da sua investigação, foi a de que não existem perfis mais correctos do que outros para se ser um treinador campeão. Dessa forma, não importa tanto o que o treinador faz mas sim como o faz. Rui Lança destacou também os canais comunicacionais que se criam na passagem da mensagem que o treinador pretende. Muitas vezes, o treinador tem que utilizar estratégias indirectas para se fazer expressar, deixando que “outros” o façam por si (p. e. o capitão, o adjunto, um colega de equipa).
Embora Rui Lança não considere que não exista um “Perfil de Campeão”, ele considera  os seguintes denominadores comuns dos campeões:
Adaptabilidade                                Flexíveis                               Paixão
Genuíno                                           Actor                                      Tudo e todo
O outro                                              Introspecção                        Consequências
Tudo em função de um Colectivo

Essencial
O que faço                                       O que penso                                    O que sinto

Fundamental
O que gostaria de fazer
O que gostaria de pensar
O que gostaria de sentir


Organização Ofensiva – Prático - Vítor Maçãs

Na única apresentação prática do Congresso, tivemos o prazer de assistir a uma sessão de treino “oferecida” pelo Prof. Dr. Vítor Maçãs, em conjunto com os alunos da associação de estudantes da UTAD.
Com o objectivo fundamental de treino a passar pela Organização Ofensiva, o professor e treinador Vítor Maçãs estruturou o treino basicamente em duas partes.
Na primeira, foi realizado um exercício de passe em estrutura: Y e Y invertido, em que foram trabalhadas algumas dinâmicas comportamentais por parte dos jogadores. O exercício foi realizado primeiro sem oposição e depois com oposição, em que cada adversário estava circunscrito a determinada zona, fazendo uma oposição passiva.
Na segunda fase, assistimos a um jogo condicionado de GR+9x9+GR com oposição passiva em que se tentaram recriar as dinâmicas do exercício anterior, sobretudo nos corredores centrais, em qua apenas os médios interiores, os extremos e os laterias poderia tocar na bola. Após algum tempo, o jogo deixou de ter as condicionantes, tentando-se trabalhar os mesmo princípios da organização ofensiva de forma mais aberta.
Foi interessante assistirmos às instruções do professor, bastante activo e correctivo nos seus feedbacks, não sabendo, no entanto, se tal comportamento é o habitual de Vítor Maçãs.  


Desenvolvimento do Futebol Feminino  - Francisco Neto

O seleccionador nacional feminino começou a sua comunicação fazendo uma breve apresentação do organograma do Futebol Feminino nacional, no que à estrutura da Federação Portuguesa de Futebol diz respeito. Francisco Neto apresentou as equipas AA, Sub19, Sub17 e Sub16 nacionais, assim como as suas equipas técnicas.
Com um total de 2138 praticantes na época transacta, podem-se somar 15 a 20 jogadoras no estrangeiro assim como mais algumas luso-descendentes para se contabilizar o total de jogadoras de futebol portuguesas.
De todas, a mais conhecida é provavelmente Ana Borges, natural da cidade de Gouveia. (Nota: Não deixa de ser interessante que ao contrário do que se passa no futebol masculino, são muitas as jogadoras de top nacional oriundas do interior do país).
Neste momento existem 5 grandes projectos a nível nacional que tentam promover o desenvolvimento do Futebol Feminino.

1.    Liga Elite Feminina
Constituída até 14 equipas. 10 provenientes do campeonato regular + 4 formadas a partir dos clubes da Liga NOS masculina.

2.    Campeonato Nacional de Juniores Femininos
Disputado em Futebol de 9.
Tentar avançar o limite da competição mista até à idade de Sub17.

3.    Supertaça Feminina
Tentando aproveitar o dia com actividades de promoção do Futebol Feminino.

4.    Encontros Regionais e Nacionais de Futebol Feminino
Através da ligação entre a Federação Portuguesa de Futebol, o Desporto Escolar e as Associações de Futebol.
Constituída primeiro por uma Fase Regional aberta à todos, em que qualquer grupo ou colectividade pudesse participar: clubes, escolas, família. Os vencedores apuram-se para a Fase Final a disputar no mesmo dia da Final da Taça, disputada no Jamor.
5.    Centros de Treino/Formação de Futebol Feminino
Criação de espaços nas associações distritais de futebol próprios para o desenvolvimento das jogadoras referenciadas pela FPF. Estes Centros de Treino tentariam colmatar as carências de ordem técnica e táctica das jogadoras, com o incremento do número de treinos semanais. 


Estruturação e Preparação de uma Equipa - Daúto Faquirá, Vítor Oliveira e Luís Castro

Com a mais mediática das “Mesas Redondas” do Congresso, os técnicos Daúto Faquirá, que se encontra neste momento sem clube, Vítor Oliveira, treinador do GD Chaves, e Luís Castro do FC Porto B, deram a conhecer algum do seu trabalho diário enquanto treinadores no Alto Rendimento.

Luís Castro – FC Porto B:
·         Importa diferenciar o contexto da equipa para a podermos estruturar, para definirmos o seu propósito. No FC Porto B, deixámos de montar a equipa e o processo de treino em função do adversário. Devido ao elevado número de jogos da equipa, jogamos a dobrar e dessa forma descansamos a dobrar. Enquanto recuperação fazemos evoluir a equipa em alguma maneira para existir uma aquisição de princípios de jogo.
·         O plantel da equipa B deveria ser fechado no sentido equipa A para a equipa B, para que não houvessem tantas desconfianças.
·         Dormir bem, hidratar bem e comer bem é a melhor forma de recuperar, funcionando melhor que a recuperação activa. Alguns jogadores sentem-se muito confortáveis com a utilização da câmara de frio, para acelerar a recuperação. Nesta fase da época, tão sobrecarregada em número de jogos, é muito importante ter a cabeça limpa, viver num bom estado emocional. Até o próprio treinador precisa de recuperar – no treino da manhã, Luís Castro limitou-se a observá-lo entregando-o aos seus adjuntos.
·         Na planificação do morfociclo é hierarquizada a prioridade dos exercícios em função dos dados recolhidos referentes ao último jogo da equipa. Assim, é periodizado o treino tendo em conta os dados relativos por exemplo ao número de entradas em zonas de finalização, às reacções eficazes à perca da bola, etc.
·   Em quase todos os treinos o 11x11 aparece no treino, podendo ser devidamente condicionado, em função dos princípios de jogo.

Vítor Oliveira – GD Chaves
·         A escolha do plantel é o elemento mais importante para se desenvolver um trabalho com sucesso. Também ajuda conhecer extraordinariamente a  competição em que nos inserimos. Na operacionalização do processo de treino, todas as semanas há ajustes e reajustes, em especial durante o Inverno onde as condições do treino (leia-se terreno) são bastante difíceis. A criação de objectivos é também muito importante no que toca à preparação da equipa para os diferentes períodos da época.
·         Referência às equipas B que actuam na II Liga que utilizam os jogadores da equipa A como lhes convém, alterando muitas vezes a verdade desportiva. Neste ponto, a utilização desses jogadores agrava-se nos jogos das “grandes decisões” como a conquista do título ou a luta pela manutenção.
·         Por vezes “não se treinando, faz-se um bom treino”. Com folga à segunda-feira, a terça-feira é destinada à execução de corridas lentas, bolas paradas, combinações simples. A recuperação é ajustada em função do quadro competitivo e da altura do campeonato em que é feito.

Daúto Faquirá – sem clube
·         É o “bom senso” (na operacionalização do processo de treino, nomeadamente na questão do nº de treinos diários, no nº de folgas, nos próprios objectivos da sessão de treino, etc.) que permite que os treinadores tenham sucesso. É impossível ter-se sucesso sem que exista uma boa equipa técnica.
·         Na questão da recuperação, pode-se também utilizar a estratégia de alterar volumes e intensidades permitindo uma melhoria do estado de recuperação.
·         Considero a segunda-feira o dia de eleição para o descanso semanal. Já na quarta é dia de realização de duas sessões de treino.


O Calendário Desportivo como Meio de Melhoria da Modalidade  - Carlos Soares

O coordenador técnico da AF Vila Real começou a sua comunicação com a referência às assembleias gerais da associação, já que é neste órgão que todas as decisões sobre o futebol distrital são tomadas, em especial o assunto dos quadros competitivos (Nota: talvez os clubes e os seus coordenadores técnicos devessem valorizar este órgão procurando, também eles com as suas experiências, apresentar propostas que visam o desenvolvimento do futebol regional).
Em seguida, o palestrante dedicou uma boa parte da sua apresentação à estruturação dos quadros competitivos da AF Vila Real, em função do que a literatura e a prática noutras associações vão sugerindo. Tendo em conta as diferentes etapas de desenvolvimento da criança e jovem no desporto em geral e no futebol em particular, muito se tem reflectido dentro da associação sobre questões como:
·         A ausência ou não de campeonato no escalão de Benjamins (Nota: ao contrário do que foi dito, a AF Vila Real não é pioneira na ausência de campeonato classificativo neste escalão, já que na AF Guarda nunca existiu qualquer competição estruturada, funcionando como encontros esporádicos mensais sem qualquer relação com tabelas classificativas);
·         Aplicação das regras do Futebol de 9 em escalões como os Sub13 e/ou Sub14;
·         Utilização da regra + 1 jogador no Futebol de 7 quando determinada equipa tem uma desvantagem de 5 golos;
·         Possibilidade de realização de mais jogos por parte das crianças, com a existência de mais escalões etários de competição.


Scouting – Equipas/Jogadores O que Ver/Como Aplicar – André Ribeiro, Rui Malheiro e Ricardo Damas

Com a Mesa Redonda dedicada à Observação e Análise de Jogadores e Equipas foi extremamente interessante ficarmos a conhecer melhor as ideias e a metodologia de trabalho de quem anda a Top. Foi com muita atenção que estivemos a ouvir e a aprender com André Ribeiro, treinador de formação e Scout do FC Porto, Rui Malheiro, a representar a cada vez mais prestigiada plataforma Talent Spy, e Ricardo Damas, a dar-nos conta das suas ideias e das do seu Sporting CP sobre o Scouting.

Rui Malheiro (Talent Spy)
·         O padrão é tudo que queremos encontrar numa análise de uma equipa ou de um jogador. Assim, quando observamos um jogador procuramos identificar as suas qualidades nas suas dimensões técnico-táctica ofensiva, técnico-táctica defensiva, física e psicológica. Já quando observamos uma equipa damos ênfase aos momentos do jogo de organização ofensiva e defensiva, transições defensiva e ofensiva e aos esquemas tácticos defensivos e ofensivos.
·         Há scouts independentes que trabalham para equipas técnicas de clubes.
·         Antes de fazermos o trabalho de scouting de qualquer equipa ou jogador externa/o devemos fazer a devida análise da nossa própria equipa.
·         É necessário existir um conhecimento mútuo entre o scout e o treinador. Tanto o scout saber muito bem aquilo que o treinador quer, tal como o treinador saber muito bem como o scout observa e analisa. Sobretudo quando se tratam de formas de trabalhar diferentes que podem ir da realização de um relatório de 6 ou de 30 páginas.
·         Na construção de um relatório é relevante indicar o jogador(es) chave da equipa. Contudo, é ainda mais pertinente identificar o seu papel na equipa e o porquê de ele ser a “chave”.
·         Enquanto scout e colaborador de equipas profissionais, nunca iremos contratar jogadores pelo que eles jogam no “Youtube”. 
·         É extremamente relevante conhecermos os diferentes contextos do jogo, os diferentes futebóis, se preferirmos, para conseguirmos antecipar as qualidades de um jogador quando compete em contextos diferentes do seu habitual. O que mais me cativa num jogador é a sua tomada de decisão e é a sua interpretação do jogo, a sua leitura da circunstância.
·         Quando há possibilidade de termos um gabinete de scouting, deveremos criar uma base de observação da nossa própria equipa.
·         Considero a inteligência na tomada de decisões como uma das qualidades mais importantes num jogador, assim, quando o jogador é excessivamente individualista – quase como um egocentrista do jogo – poderá atrapalhar o seu desenvolvimento.
·         Para além da Talent Spy –da qual Rui Malheiro é o Chief Scout – também utilizo a WyScout para a o meu trabalho de prospecção.

André Ribeiro (FC Porto)
·         O meu trabalho vai de encontro ao que o treinador quer, sendo que cada vez mais o treinador procura saber mais sobre os esquemas tácticos dos adversários.
·         Não se pode fugir ao “olho do treinador”, já que é com ele que eu tenho que interpretar o jogo. Eu até posso ter um juízo de valor sobre determinado jogador ou comportamento da equipa mas tenho de me pôr no lugar do treinador e da sua maneira de ver as coisas.
·         Concordo com Rui Malheiro aquando da valorização do conhecimento sobre a própria equipa antes de qualquer trabalho externo.
·         Aquando da visualização dos relatórios por parte equipas, umas podem-se mostrar os pontos fortes dos adversários, outras já não, devido à forma motivacional e comportamental como elas reagem. E isso é relativo tanto a jogadores como a treinadores.
·         Quando se fala em imagens nos relatórios, é diferente apresentar-se um frame ou um vídeo. Com um frame, por ser uma imagem estática, até se podem tentar mostrar comportamentos negativos do jogador, quando na realidade ele até foi eficaz. Mas fruto da circunstância do frame o jogador até não adopta o comportamento mais correcto.
·         A nossa equipa deverá sempre tentar anular o “jogador chave” da equipa adversária de uma forma colectiva, e não com estratégias que o acompanhem individualmente.
·         O scout tem de ter muita paixão por aquilo que faz devendo ser o mais low-profile possível.
·         Devemos balizar os nossos gostos em consonância com os do treinador. No meu caso específico, o que me cativa mais num jogador é a sua técnica, o gosto que tem pelo jogo e a sua especificidade que confere à sua posição, tentando fazer sempre uma projecção de como é que o jogador X se adapta ao contexto Y.
·         Num contexto distrital poderá trabalhar-se de forma semelhante Às profissionais, adoptando obviamente os recursos à sua disposição.
·         A quem passa pelos distritais é-lhe permitida uma maior adaptabilidade que lhe potencia a qualidade como treinador.
·         Utilizo o software LongoMatch para ver se o jogador está a evoluir ou não, aquando da análise de vídeo do seu treino.
·         Um dos indicadores mais importantes da qualidade do jogador é a sua resiliência.
·         A família poderá ser um dos maiores entraves ao desenvolvimento de um jogador.
·         As plataformas de auxílio ao meu trabalho que utilizo são a LongoMatch e a WyScout.

Ricardo Damas (Sporting CP)
·         Muitos treinadores chegam a um ponto de detalhe que quase querem saber que número de chuteiras determinado jogador calça.
·         Qualquer um que perceba de futebol poderá fazer um relatório. A questão primordial é encontrar e contextualizar a informação junto em conformidade com o que o treinador quer.
·         Existe uma necessidade muito forte – com resultados positivos – ao recurso às imagens, na construção dos relatórios.
·         Quando o conhecimento sobre o contexto competitivo é extenso, como o são, por exemplo na I e II Ligas, o foco do relatório do scout deverá ser o comportamento colectivo das equipas.
·         O talento é observável por parte de toda a gente, mas é o “olhómetro” que permite uma sensibilidade que o ajuda a destacar ou não. Quando ele acaba por se destacar e é transferido para outros contextos, mesmo que a nível experimental, esses mesmos contextos acabam por ser agentes “moldadores” da sua qualidade e do seu potencial, fomentando ou inibindo o seu desenvolvimento. Por exemplo, alguns jogadores brilham nas captações e depois de contratados acabam por nem se afirmar.
·         O scout faz o seu trabalho sem ser reconhecido, não porque não lhe é reconhecido o seu valor, mas porque convém que ele não seja “mediático”.
·         Não deixa de ser curioso que os defesas continuam sem dar tanto nas vistas.
·         Eu filmo os meus jogos (escalão Sub10) com a intenção de melhorar e corrigir a minha própria equipa. Considero ridículo fazer-se “match analysis” nestes escalões.
·         Também utilizo o vídeo para filmar os treinos.
·         No nosso trabalho no Sporting, utilizamos uma plataforma própria de observação e análise de jogadores e equipas.

Apresentação dos Resultados Obtidos por GPS – Bruno Gonçalves

O investigador da UTAD começou a sua palestra fazendo referencia a algumas das tecnologias utilizadas na análise de treino e de jogo nos Jogos Desportivos Colectivos, em especial no Futebol.
É intenção de quem trabalha com as novas tecnologias da análise de dados recolhidos com a observação e monitorização dos jogadores servir para optimizar as decisões dos treinadores.
Podemos também constatar que a performance aumenta em função do uso efectivo dos dados oferecidos por essas mesmas tecnologias.
dados + informação + conhecimento = acção
A individualização dos dados permite:
·         Especificidades fisiológicas;
·         Perfil em função do posto específico;
·         Perfil real da carga/resposta ao treino;
·         Optimizar, potenciar e controlar a performance.
O palestrante abordou ainda as investigações sobre lesões no desporto que mais recentemente têm surgido na relação entre a carga e o retorno ao treino após lesão nomeadamente no estudo da probabilidade do jogador se voltar a lesionar outra vez.

Com esta apresentação do homem da casa, deu-se por terminado este longo dia de partilha de conhecimento futebolístico no III Congresso de Futebol do Núcleo de Estudantes de Desporto da UTAD. 




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