segunda-feira, 18 de abril de 2016

A Aprendizagem num Jogo da Champions - SL Benfica vs FC Bayern

Na passada quarta-feira tivemos o prazer de assistir no Estádio da Luz ao duelo da Champions entre o SL Benfica e FC Bayern.
As diferenças entre as duas equipas foram muitas, tendendo maior parte delas, na nossa opinião, em favorecimento do Bayern de Munique.

É conhecido a intencionalidade de Guardiola estruturar a Organização Colectiva da sua equipa “em função de como querer atacar e o como atacar”. Embora pareça paradoxal, tal propósito tem como base uma atitude extraordinariamente defensiva, retirando dessa forma a bola ao adversário e antecipando posicionalmente, fruto de um número elevado de jogadores na zona da bola, a possibilidade de a perder – não é um acaso a sua eficácia no momento de transição defensiva. Enquanto o Bayern utilizou essa dinâmica ofensiva, o Benfica utilizava outra estratégia, colocando apenas normalmente 2 jogadores no espaço circundante da bola, o seu portador e mais um apoio. Este princípio ajudava a que a equipa se mantivesse o mais rígida e disciplinada possível no que refere à sua estrutura em campo, tentando manter a equipa o menos descomposta possível para o momento de transição defensiva.

Por termos visto o jogo metros atrás do Guardiola, reparámos bastante na sua postura no banco. Ao contrário de Rui Vitória, sempre de pé, sereno e concentrado no jogo, o espanhol alternou períodos em que se encontrava de pé, bastante comunicativo e expressivo, com momentos em que se abrigava no banco de suplentes. Contudo, aquilo que nos chamou mais a atenção foi o facto de Guardiola comunicar e dialogar bastante com os elementos do banco de suplentes (infelizmente não sabemos se com os seus colegas do corpo técnico se com os jogadores suplentes).

No que à sub-dimensão técnica do Jogo diz respeito, os jogadores do Bayern Munique são bastante superiores aos do Benfica. Não querendo ter uma opinião bastante extremada, e reportando-nos somente às características táctico-técnicas dos jogadores, julgamos que dificilmente algum jogador do Benfica teria lugar na convocatória do clube alemão. A qualidade com que os jogadores do Bayern jogam sob fortes constrangimentos espácio-temporais, é enorme. Com excepção do Javi Martinez que nos pareceu mais limitado e “pesado” de movimentos, todos os outros jogadores são verdadeiramente fenomenais e eficazes tecnicamente.

A permanência de Fejsa em campo durante o jogo todo pareceu-nos exagerada. Embora apreciemos as suas qualidades defensivas, não conseguimos perceber porque é que o seu papel ofensivo na equipa é nulo. Muito raras foram as vezes em que Fejsa tenha tocado na bola sem ser nas suas recuperações. Isto é, mesmo que se encontrasse livre de oposição, ele não constituía uma solução ao jogador portador da bola da sua equipa. Ele estava em campo para desempenhar tarefas quase exclusivamente defensivas. Acreditamos que é importante questionar e reflectir se fará sentido num jogo a Top onde o Benfica tinha que ganhar, o Fejsa apresentar-se com um comportamento ofensivo tão limitado? Ou então, com o desenrolar da partida, não seria importante ele ser substituído por outro jogador com outro perfil de médio-defensivo, como por exemplo Samaris, tentando dar alguma mais continuidade à posse de bola  da sua equipa?
Também por sermos bastante admiradores do Jogar do Bayern Munique, tentámos decifrar alguns padrões comportamentais que nos ajudassem a entender melhor o porquê do mesmo ser tão cativante. Daquilo que conseguimos “atingir” verificámos que:
·         Uma das maiores dificuldades nesta “análise” do Bayern foi tentar conceptualizar a sua estrutura posicional com e sem bola. Em especial, por ter andado a “experimentar” algumas dinâmicas nos minutos iniciais do jogo. Assim, e tentando decifrar a propensão de comportamentos podemos inferir que:
o   com bola, a equipa apresentou-se numa espécie de 1x2x3x4x1, com Neuer; Javi Martinez (DCE), Kimmich (DCD); Alaba (MDE), Xabi Alonso (DC), Lahm (MDD); Ribéry (EE), Thiago Alcântara (MIE), Vidal (MID) e Douglas Costa (ED); Müller (AV).
o   sem bola, o Bayern dispôs-se em 1x4x3x3, com o triângulo do meio-campo a estruturar-se em 1 (Xabi Alonso) x 2 (Alcântara e Vidal).   
·         A largura foi maioritariamente assegurada pelos extremos, que mesmo jogando sobre o lado do pé não-dominante, raramente viram o defesa lateral realizar o chamado “overlap”. Ao contrário do que muitas vezes se assiste, os extremos não trocaram de lado durante a partida.
·         Das poucas vezes que os laterais realizaram movimentos de rotura, sobre a defesa adversária, originaram golo. Isso aconteceu no primeiro golo do Bayern, quando Lahm entrou no espaço entre Eliseu e Jardel; e no golo anulado a Müller quando Alaba entrou nas costas de Lindelöf. A linha defensiva do Benfica não pareceu estar muito bem preparada para se ajustar perante estas desmarcações dos laterais contrários.
·         Como os defesas-laterais não passam muitas vezes para terrenos mais adiantados que os extremos, permite à equipa estar muito mais preparada para as percas de bola.
·         Em organização defensiva, o Bayern cria uma zona de pressão com muitos jogadores sobre a bola que tornam a zona extremamente sufocante. Contudo, quando a mesma não é eficaz e os adversários se conseguem libertar, existe alguma dificuldade em reajustar os seus posicionamentos e em definir uma outra zona de pressão sufocante que condicione os seus adversários. Isso aconteceu por algumas vezes na parte inicial da partida, culminando a favor do Benfica com o golo inaugural de Jimenez que aproveitou um belo cruzamento de Eliseu, que se livre de pressão durante alguns momentos foi progredindo até efectuar a assistência para golo.  
·         As referências do processo ofensivo eram precisamente os extremos. A equipa procurava fazer uma sequência de passes sobre um corredor, de forma a libertar o mais possível tempo e espaço defensivos do adversário sobre o outro corredor – quase sempre no sentido esquerda direita, para Douglas Costa ficar em situação de 1v1 para Eliseu.
·         Sempre que a bola era chutada por Neuer ou por qualquer defesa para zonas adiantadas do campo, a linha defensiva “subia” em sprint (como se fosse uma final dos 100m!) para a frente, com o propósito de retirar o máximo de espaço ao seu adversário, confiando a Neuer o controlo da profundidade;
·         O Jogar das equipas de Pep Guardiola é caracterizado por se basear num futebol de posse dinâmica e apoiada. No entanto, um dos jogadores mais importantes nesta partida foi Xabi Alonso, que se destacou pelos seus passes… longos! à procura dos extremos. Acreditamos que esta característica específica de Xabi (talvez um dos melhores do mundo nesta tarefa táctico-técnica) tenha sido fulcral (para a sua contratação e) para a estratégia de Pep para este jogo
·         Por fim, queremos destacar o entendimento que os jogadores do Bayern têm da ideia do seu treinador. Sempre que o jogador X tem a bola, os outros 10 jogadores sabem o que têm de fazer. Seja uma cobertura ofensiva, uma desmarcação em profundidade, um movimento de largura ou aproximação ao portador da bola… e fazer isso a uma exigência Top é extremamente complexo e extraordinário. Comparando novamente as equipas, no caso do Benfica, por mais do que uma vez se constatou a dificuldade que os jogadores com bola tinham em resolver os seus problemas. Sobretudo na primeira-parte, o portador da bola encontrava imensas dificuldades em obter algo de positivo com ela. A tal noção colectiva que o jogo do Bayern foi completamente díspar da do seu adversário. Enquanto que vimos, por exemplo o Renato Sanches ao “meiinho” no meu de três adversários, vimos jogadores do Benfica com bola como o Pizzi, Carcela-Gonzaléz e Salvio em “meiinhos” de pressão do seu adversário, sem saber o que fazer com ela, fruto de uma abordagem mais individualista do jogo.


Por fim, não podíamos deixar uma palavra de apreço a toda a “nação benfiquista”. Embora reconheçamos muita mais qualidade no conjunto bávaro, o campeão nacional tem, sem dúvida, uma falange de apoio de fazer arrepiar. Embora se tenham deixado ir um pouco a baixo no momento do empate, a verdade é que não faltou apoio aos jogadores encarnados que podem contar com os seus adeptos para o que falta do campeonato. Com este ambiente, ficará mais acessível atingir o 35º título de campeão nacional…       

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