quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Uma Ode ao Taarabt - ou o que é uma reflexão sobre Criatividade

O ano de 2020 está a ser um ano um ano bem difícil que por razões óbvias, já todos o sabemos.

Paralelamente, também o está a ser no que diz respeito à Criatividade. No mesmo ano perdemos Sir Ken Robinson, expoente máximo da investigação e reflexão sobre Criatividade; e Diego Maradona, um dos jogadores mais Criativos da História do Futebol, senão aquele que melhor manifestou esta capacidade.

Por coincidência, já há muitos anos que não era exigida à sociedade que fosse tão criativa como nos dias de hoje. Seja por uma questão de tentar encontrar formas de se divertir, de trabalhar ou até de sobreviver em contexto de tamanhos constrangimentos e confinamentos.

Também no Futebol, e fruto da evolução (?) do Jogo, urge a necessidade do jogador e da equipa serem criativos e imprevisíveis perante o adversário, como forma de ultrapassar a crescente preponderância da dimensão estratégica que o Futebol de hoje acarreta.

Ao vermos Futebol português, existe um jogador que nos últimos anos nos tem cativado a tentar contrariar essa tendência mais “fechada” que o jogo tem tido: Falamos de Adel Taarabt.

Na mesma altura que choramos a morte de Maradona e nos lamentamos de uma forma gritante da ausência de Criatividade no Futebol actual, assistimos a uma crucificação daquele que poderá ser o jogador mais Criativo que passou por Portugal nos últimos anos.

Quem ataca o marroquino justifica-o na maior parte das vezes com o reducionismo da estatística das “bolas perdidas”, desprezando a premissa preconizada por Vítor Frade de que a estatística é muitas vezes como o biquíni, mostrando muita coisa mas tapando o essencial.

Outro “problema” que Taarabt parece manifestar prende-se com o facto de ele não ser um jogador que goste muito daquilo a que muito chamam das “amarras tácticas” do jogo. Ao contrário do que muitos treinadores (?) querem para a sua equipa, Taarabt nem sempre respeita uma cobertura defensiva, nem sempre preenche o espaço do duplo-pivot de uma forma mais eficaz e nem sempre toma uma opção demasiado segura. Ou seja, Taarabt mostra muitas vezes dificuldade em respeitar os sub-princípios dos sub-princípios que muitos treinadores procuram ver implementados nas suas equipas.

Treinadores esses que enquanto choram pelo desaparecimento do “Futebol de Rua”, são muitas vezes os primeiros a castrar ou a condenar os jogadores que trazem aquilo que melhor as ruas lhes deram para o Estádio.





Com todo o devido respeito, por aqui seremos sempre a favor dos Taarabts desta vida. Enquanto podermos, escolheremos sempre a Criatividade, a Imprevisibilidade e a Fantasia…

 

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Quando fazes merd# a dobrar - Payet e o golo sofrido do Marseille frente ao Reims

Uma das qualidades que apreciamos mais no jogador de Futebol é a sua capacidade em lidar com a adversidade. Seja numa escala mais Macro, como por exemplo o falecimento de um ente querido, ou numa escala mais Micro, como uma perda de bola num drible.


Foi precisamente isso que não aconteceu com Payet, no empate caseiro do Marselha frente ao Reims.



- Perda de bola em situação arriscada.

- Ausência de cobertura defensiva em zona perigosa.

Ou seja, não soube lidar com a primeira adversidade, onde teve uma reacção à perda bastante desconcentrada e tacticamente fraca perante a circunstância em causa.

Dois erros crassos numa mesma jogada, e golo inaugural para o Reims.


🎥 Metrica Sports

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

A displicência defensiva dos médios do Benfica - os exemplos de Glasgow e de Liège

 


À atenção do Arsenal!

Notámos em algo comum a dois golos sofridos pelo Benfica na presente edição da Liga Europa.

Parece óbvia a diferença entre o Benfica de Jesus da sua primeira passagem, e este, que assistimos no seu regresso.

Seja em que momento do jogo for, nesta segunda passagem não vemos um Benfica tão forte tacticamente, e isso, por mais que muitos o queiram fazer parecer, deve ser visto como um Todo.

Reportamo-nos a dois golos sofridos na Liga Europa. Ambos fora, e ambos nos empates frente ao Rangers e ao Standard de Liége. Ambos em consequência de cruzamentos para a área. Ambos com responsabilidades dos médios da equipa.

Muitos comentadores e adeptos têm sido bastante críticos para com os defesas do Benfica. Contudo, e como pretendemos mostrar, quando se sofrem golos, a análise têm que ir muito para além de uma responsabilização individual ou sectorial sobre os defesas.

Neste golo sofrido em Glasgow, vemos como Gabriel tem uma atitude completamente displicente aquilo que está acontecer a poucos metros de si. Gabriel mostra-se muito pouco determinado em colaborar com os seus colegas, permitindo que na recarga, Scott Arfield inaugure o marcador.

Já no golo sofrido em Liége, é Taarabt quem parece não promover a necessária superioridade defensiva dentro da grande área, permitindo a Raskin aproximar-se da linha defensiva e cabecear com sucesso para o primeiro golo do jogo.



Com estes vídeos quisemos mostrar que os golos sofridos de uma equipa vão muito para além dos comportamentos da sua linha defensiva. Essa visão mais cartesiana do Futebol, leva a que não se veja o Jogo como um Fenómeno Caótico, Sistémico e Complexo que ele é…  

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Entre-Linhas com Pedro Teles

 

De regresso com as nossas conversas, “visitamos” desta vez a Inglaterra, e o scout Pedro Teles. Conhecemos o Pedro através das redes sociais onde lhe pedimos para ele partilhar um pouco daquilo que é o Futebol onde tudo começou, tocando em variadíssimos pontos que achamos de interesse.

O Pedro tem 32 anos, é natural da Guarda e conta com formação base na área da saúde. Tem o sonho de se tornar scout no futebol profissional e tendo focado grande parte do seu tempo livre em estudar e analisar o jogo de futebol e os seus intervenientes.

Trabalhou com o Mansfield Town da League 2 e além disso tem tido mais trabalho com empresas de recrutamento e consultadoria de agentes em Inglaterra e Dinamarca, mas nada profissional.

Começou por se focar em scouting colectivo - do "próximo adversário" mas ultimamente tem tido um grande prazer em trabalhar na área da identificação de talento.

1.    Em primeiro lugar há algo de superior que queremos muito entender que nos causa alguma confusão: os Quadros Competitivos ingleses. Podes-nos falar sobre eles e explicar-nos a diferença em relação aos os nossos?

 Em geral, a maior diferença dos quadros competitivos passa pelo maior numero de escalões profissionais. O futebol profissional vai desde a Premier League – Championship – League One e League Two e depois existe a National League e a National League Conference Norte e Sul que são as 5ª e 6ª divisões mas já semi profissionais. Abaixo dessas ainda existem a Isthmian League e a Isthmian “Regional” mas já são de futebol amador. E por fim cada região tem as suas taças locais e regionais. O investimento e a dimensão dos clubes, comparativamente às ligas portuguesas é incrível.

Depois o futebol jovem tem a Premier League 2 – Sub 23 e a Premier League Sub 21, além dos campeonatos Junior, Juvenis, etc. A EFL ainda organiza a Taça e Taça da Liga e depois há torneios como a Vase Cup ou EFL Trophy onde jogam equipas de Sub 21 com equipas da League 1 e 2. Em geral à uma grande variedade de competições e uma exposição ao futebol profissional maior para as equipas e jogadores mais jovens. Não sei se respondi à vossa pergunta!!

 

2.    E nos escalões mais baixos e de iniciação. Também é uma estrutura idêntica a Portugal, com as competições fundamentalmente regionais? 

Sim. Do meu conhecimento qualquer pequena associação ou colectividade ficam registadas na Federação e ganham o estatuto de Charter Standard Club e ficam habilitados a jogar desde que cumpram certos requisitos. As competições estão organizadas essencialmente a nível local e regional e com selecções regionais de todos os escalões também. 

 

3.    Sobre os mais novos… Qual a tua opinião sobre a equipa de elite dos Sub5 do Manchester City? Não se estará a exagerar com o grau de exigência? Não estará a Inglaterra a tentar ser “profissional” de mais?

Creio que não. A ideia base é fomentar o “divertimento” em futebol e não criar a ideia de estrutura profissional, contudo simular esse ambiente em torno dos jovens: equipamentos, tecnologia, treino e treinadores competentes. Esse jovens são permitidos a jogar em outros clubes e na escola, etc, mas simultaneamente serem expostos a uma estrutura profissional. Outro dos aspectos mais importantes é a educação dos pais/ educadores em torno dos jogadores. Veremos quais os resultados destes métodos nos próximos anos.

4.    Já sobre os escalões mais velhos de formação… Nas tais competições da FA que falaste, em que equipas de Sub21 de clubes da Premier competem com clubes da League 1 e League 2 temos visto que essas equipas Sub21 são muitas vezes limitadas a nível individual e colectivo... Fará sentido os clubes terem estas equipas se não as valorizam?

Tal como em Portugal existem equipas juniores, B, Sub 23. Creio que faz sentido manter estas equipas uma vez que há espaço para todos evoluírem de uma forma e ritmos diferentes. Há jovens de 16 anos nas equipas séniores e outros com 20, 23 que mostram dificuldades em apresentar-se a um nível mais elevado. Estas diferentes competições permitem aos clubes manter os seus talentos e faze-los desenvolver conforme o seu nível individual. Contudo há dois aspectos com os quais não concordo:

- Equipas que têm dezenas de jogadores e mante-los em equipas de desenvolvimento ou empréstimos constantes (Chelsea, Arsenal) sem nunca os apoiar na direcção do plantel principal;

- Apesar de compreender a necessidade de unificar a estrutura de treino do clube para preparar os jovens para a realidade da equipa sénior, raramente existe uma estrutura no clube (conforme existe no Barcelona) e estas equipas acabam por ser formatadas para irem de encontro ao que o treinador principal pretende e tudo volta praticamente ao zero assim que há mudanças na equipa técnica.

Vi recentemente um jogo de Sub-23 entre um clube da Premier League e da Bundesliga e a diferença é gritante, entre o formatar os jogadores para o futebol sénior do momento actual da equipa e o foco no desenvolvimento do jovem jogador e dos princípios de jogo.

 

5.    Passando para o Treino na Formação, um estudo recente da Barça Innovation Hub indicou algumas diferenças metodológicas Inglaterra e Portugal. Nomeadamente no que diz respeito aos exercícios que recrutam a tomada de decisão de uma forma passiva (mais em Inglaterra), ou activa (mais em Portugal). O Treino na Formação é assim tão diferente entre os dois países?

Não tenho conhecimento da realidade de treino em Portugal, mas pela minha curta experiencia de treino aqui, julgo que há verdadeiramente uma cultura de decisão passiva e limitação de desenvolvimento dos jogadores em formação. Infelizmente ainda há muitos treinadores que baseiam as suas sessões em treinos de repetição e drills para colocar o jogador em situações de desenvolvimento técnico contudo bastante longe da realidade competitiva. Retiram toda a imaginação e capacidade de decisão e de jogo em contexto real, colocando os jovens a rematar a baliza ou a fintar barreiras sem os incluir na tomada de decisão para alem da direcção do remate ou do drible.

 

6.    Em Portugal, a Federação Portuguesa de Futebol está a começar a implementar o Processo de Certificação de Entidades Formadoras de Futebol. Em Inglaterra algo de parecido já funciona há alguns anos com as chamadas “Categorias”, certo!?

 

Sim, a FA “obrigou” os clubes que estão patenteados na federação a ter os seus treinadores todos certificados pela federação e os clubes têm certificados de entidades formadoras e pessoal especifico que trabalha na área do desenvolvimento pessoal e criam formação dentro dos clubes para manter todo o staff técnico actualizado. Além disso a FA criou o Elite Player’s Perfromance Plan (EPPP) para criar standards e categorias de academia (Sub 9 até Sub 23). E as academias são categorizadas entre nível 1 e 4 (melhor para menos bom) dependendo das infra-estruturas, do investimento dos clubes, da formação dada aos jovens e apoio técnico do clube, etc.

 

7.    Há tempos lemos um artigo onde falava na quantidade absurda de jogadores oriundos da zona de Londres que jogam ao mais alto nível europeu. O que faz deste nicho ecológico ser uma das regiões do Mundo com maior número de craques por metro quadrado?

 

Não tenho noção exacta dos dados mas certamente que há imenso talento a nascer na região de Londres. É uma área gigantesca, com imensos clubes de futebol e muitos deles com academias de qualidade e redes de recrutamento de muito bom nível. Dependendo no nível da tua academia, podes ser autorizado a contratar jogadores jovens numa rede geográfica maior e trazer o melhor talento para Londres. Além disso é como transferir para a realidade portuguesa, a dimensão de lisboa e toda a margem sul e região urbana. Há clubes em cada esquina, olheiros, centros de treino e então há identificação de talento muito maior. Além disso há uma enorme multiculturalidade e paixão pelo futebol, então muitos dos clubes com maior capacidade, desenvolvem programas na comunidade e têm treinadores nas escolas e em bairros a desenvolver jovens dentro do futebol o que leva a que surjam mais jovens talentosos nessa zona. E pelo que tenho encontrado em conversas, há também muitos treinadores experientes ou consultores/ agentes que criam centros de formação/ academias que funcionam como fábricas de jogadores e que preparam jovens para trials em clubes maiores quando estiverem dentro da idade para assinarem contratos profissionais. Há mais olheiros, mais agentes, mais futebol. Tudo isto leva a que haja mais probabilidade de encontrar talento do que em zonas mais pequenas. O Norte – Manchester, Liverpool, Birmingham são excelentes centros também.

 

8.    Vários jogadores portugueses contam com formação inglesa no seu currículo: Ruben Lameiras (Famalicão), Fábio Abreu (Al-Batin), Ronaldo Vieira (Hellas Verona), Leonardo Lopes (Cercle Brugge), Tiago Augusto (Sporting Sub19) são alguns exemplos de jogadores que passaram pelo contexto formativo inglês, e que embora não fossem muito mediáticos, alcançaram níveis competitivos interessantes...  Há outros exemplos de jovens jogadores portugueses que podem vir a chegar a um bom patamar nas próximas épocas?

 

Sem dúvida. O futebol português e acima de tudo a formação, são bastante reconhecidos aqui em Inglaterra. O mediatismo dos trabalhos do Nuno Espirito Santo, do José Gomes no Reading, Carvalhal no Sheffield, trouxeram muita atenção à qualidade do treino em Portugal. Depois todos os jogadores que referiram e os jogadores mais velhos como o Lucas João e a equipa do Wolverhampton levaram a que o jogador português e a aposta no jovem português faça sentido pelo nível de maturidade e qualidade que temos. O Domingos Quina fez a formação quase toda em clubes da Premier League e está agora no Watford, Gonçalo Cardoso está no West Ham, João Virginia do Everton e o Fábio Silva e o Vitinha são outros exemplos de jogadores que estão a terminar a sua formação por aqui.

 

9.    É interessante que alguns deles até passaram por equipas mais humildes… o que nos leva a inferir que em Inglaterra, na dualidade Treino/Competição, é muito mais a vertente a competitiva que provoca um maior desenvolvimento dos jovens jogadores, do que a qualidade do processo competitivo... Estaremos certos!?

 

Sim. É um pouco difícil compreender essa situação. É mais uma questão clube a clube. De uma forma geral, como referi noutra questão, os jogadores são expostos a uma vertente competitiva muito maior. Há jovens de 17/18 anos com presenças regulares nas League 1 e até no Championship – ligas profissionais e bastante competitivas (uns por aposta na formação, outros por necessidades financeiras). Mesmo equipas de topo, por vezes utilizam bastantes jogadores Sub 20 em jogos de taça, sem qualquer problema. E há sempre a EFL Trophy onde jogam Sub 21 contra equipas seniores. Além disso os clubes apostam de forma diferente nas suas academias e há clubes da League 2 com academias de categoria 2, ao nível ou melhor que clubes da Premier League. Por outro lado, muitos clubes, principalmente os de topo, têm exigências competitivas maiores e muitas vezes focam-se nos títulos e não no processo de desenvolvimento e há imensos jogadores que vão saindo das academias apesar de serem muito talentosos e acabam a jogar em outros ligas ou países.

 

10. Será devido a essa grande competitividade que conhecemos tantos exemplos de jogadores ingleses que vieram ou passaram pelo "fundo" em Inglaterra, como Vardy ou Mings? Em Portugal isso é quase impossível…

Julgo que estes casos tem uma explicação simples. Por um lado ha um mercado interno muito forte e uma grande aceitação de meritocracia: Independentemente da idade ou do currículo, se és o melhor marcador da quarta divisão ou um jogador que mostra um conjunto de qualidades pouco comuns, alguém vai analisar o jogador em todas as suas vertentes e tentar promove-lo a um escalão superior ou a uma equipa melhor. Alem disso, apesar das evidentes diferenças entre divisões, há sempre um grande nível de competitividade e intensidade o que faz com que para muitos jogadores, a transferência de competências entre ligas seja muito fácil. Em Portugal isso não parece acontecer e só mais recentemente jogadores do CP tem sido contratados para a Liga 2 e até para a Primeira Liga.

Penso também que a forte cultura futebolística, do amor ao clube local e do investimento no futebol semi profissional alicerça este desenvolvimento. Vários departamentos de scouting começam a expandir-se em pequenas unidades regionais e assim fica mais fácil encontrar alguns destes casos de grandes jogadores em clubes de menor dimensão. Mas nem todos são Vardys e Mings e há muito a  melhorar para que mais jovem continuem em busca da sua oportunidade e de continuarem a sua carreira no futebol.

 

11. Ainda sobre a particularidade dos jogadores ingleses nos oferecem… Muito se tem lamentado no Futebol mundial o desaparecimento de jogadores da posição 10. Contrariando por completo essa "verdade absoluta" é talvez a Inglaterra o país que mais jogadores desse perfil tem no alto nível. Alli, Mount, Maddison, até mesmo Grealish poderá desempenhar essas funções... A Inglaterra não é propriamente conhecida por ser uma fonte de criatividade futebolística, certo?

 

O menor numero de jogadores “10” parece ser um problema global e a Inglaterra nunca foi nem um mercado produtor de grandes talentos, nem “produtor” de jogadores propriamente criativos e tecnicamente perfeitos (com excepções claro). Os ultimos 5-10 anos tem mostrado uma realidade diferente, com a Inglaterra a conquistar titulos no futebol de formação e não só a colocar jovens talentos em grandes ligas, como a utilizar algum desse talento no mercado interno (por opção ou por necessidade financeira). O surgimento de um grande numero de jogadores mais criativos, tem a meu ver, base na mudança de trabalho feita pela FA nos últimos anos ao nível da formação de treinadores (1) e também dos diferentes treinadores que chegaram aos campeonatos Ingleses (2). (1) – nos cursos que fiz, a ideia base é que os jogadores sejam mais livres e mais responsáveis por tomarem decisão em contexto de jogo. Os exercícios de treino focam-se mais em simular situações de jogo e deixar os jovens escolher como jogar e como resolver problemas em vez de treinarem apenas e só as ideias da equipa técnica. (2) – A multiculturalidade chegou aos treinadores e alguns deles marcaram a forma de jogar e organizar tacticamente e estruturalmente as equipas como Klopp ou Guradiola. Outros tentando “imitar” estes exemplos levam a que muitos dos jogadores se tentem adaptar a estes princípios de jogo e acabem por criar esta nova geração de médios criativos que parece estar a trazer bons resultados para o futebol Inglês e para as suas equipas nas diferentes ligas.

 

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Análise ao início de uma goleada - o primeiro do Benfica contra o Vilafranquense

 

Com o objectivo de melhorar a nossa competência através da análise de vídeo, tendo em conta que só o temos feito em foto, quisemos aventurar-nos com o fantástico software Metrica Play.

Nesse sentido, quisemos explorar um golo que nos permitisse reflectir sobre diferentes questões de análise, escolhendo o primeiro golo da vitória do Benfica frente ao Vilafranquense para a Taça de Portugal, tendo visto os seguintes comportamentos: 

  • O Gabriel tem tempo e espaço para fazer o que quer.
  • Os três médios do Vilafranquense estão um pouco perdidos quanto às necessidades de pressão, contenção e coberturas.
  • A abordagem do defesa-central-esquerdo do Vilafranquense pode não ter sido a melhor tendo em conta o ataque à profundidade por parte do Gonçalo Ramos.
  • Embora não esteja descrito no vídeo, chamamos ainda a atenção para o facto da linha-defensiva do Vilafranquense poder estar um pouco subida demais, tendo em conta que o Gabriel está com a “bola descoberta”.


Mais do que deixar uma crítica barata e destrutiva à organização defensiva do Vilafranquense, esperamos que se o vídeo lá chegar, seja mais um elemento para melhorar o trabalho do mister João Tralhão.

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Dois centrais a titular, mais três no banco - o caso do Manchester City

 

Passou-se nos últimos dois jogos para o campeonato. O Manchester City apresentou-se a jogo com cinco defesas-centrais na ficha de jogo, dois a titulares e mais três no banco de suplentes.

Claro que o conceito de “posição“ é sempre muito relativo conforme aquilo que o seu Treinador interpreta sobre o mesmo. Sabemos que embora consideremos Nathan Aké, Ruben Dias, Aymeric Laporte, Eric García e John Stones defesas-centrais, todos eles têm o seu Talento específico, oferecendo ao jogo, tanto a título individual quer a título inter-relacional, diferentes virtudes e defeitos.

Estas fichas de jogo ainda nos causam mais perplexidade quando vemos que o Manchester City é propenso a utilizar três jogadores mais recuados durante grande parte do seu processo ofensivo, com a inclusão de Kyle Walker na linha dos defesas-centrais.

Contudo, esta nossa reflexão está longe de ser Táctica, prendendo-se antes com duas outras áreas: a do Recrutamento e a da Formação.

Em primeiro lugar, e relativamente ao Recrutamento, causa-nos alguma estranheza que uma equipa como o Manchester City não tenha abordado o mercado de transferências de outra forma, antecipando uma época extremamente exigente a nível fisiológico, dada a carga de jogos que os jogadores dos Citizens irão ter entre os seus compromissos de clube e de selecção - Guardiola é mais um dos treinadores de topo que já se queixou sobre essa problemática. Assim, o Manchester City encarou o início de época com “apenas” Gabriel Jesus, Kun Aguero, Kevin De Bruyne, Raheem Sterling, Ryad Mahrez, Bernardo Silva, Ferran Torres e Phil Foden. Parecem muitos, mas estamos a falar de jogadores de dois sectores diferentes, entre médios de características mais ofensivas e avançados. É certo que contabilizamos dois jogadores por posição, mas também é certo que alguns têm alguma propensão a lesões, como os exemplos de Bernardo Silva, Aguero ou Gabriel Jesus, que esta época já falharam jogos por lesão.


Em segundo, e sendo o Manchester City um clube que tanto investe na sua Formação, acaba por ser um pouco incompreensível que Guardiola não “confie” de uma forma mais efectiva nos “miúdos” do clube. É verdade que a equipa tem estado uns furos abaixo a nível defensivo, mas também é verdade que está longe de ser o “rolo compressor“ que já foi. Por isso, e tendo a equipa alguma necessidade de marcar golos, causa-nos também alguma estranheza este desprezo pela Formação. Temos uma posição bastante defensiva sobre a “Pressa” na utilização de jovens talentos, mas neste caso, e olhando para nomes como Oscar Bobb, Liam Delap ou Samuel Edozie, esperávamos que fossem chamados de uma forma mais recorrente.

Não queremos de todo colocar em causa as escolhas de um dos Melhores Treinadores do Mundo. Apenas gostaríamos de entender melhor a justificativa dessas mesmas escolhas, que tanta reflexão nos causam...

Imagens Sport TV



domingo, 8 de novembro de 2020

Manchester United e a sua (des)organização defensiva contra o Basaksehir

 

Sim, o Manchester United tornou a ter uma boa vitória, desta vez em casa do Everton, mas isso não apaga a sua falta de qualidade defensiva que tem mostrado ao longo desta época.

Na quarta-feira foi mau de mais. Foram erros muito explícitos ao nível da organização defensiva, aqueles que o Manchester United manifestou durante a primeira-parte do seu jogo contra o Basaksehir.

Nós trazemos três, mas poderiam ter sido mais.

O que aqui partilhamos em primeiro lugar é aquele que, de tão ridículo, já se tornou viral. Ainda cedo no encontro, Demba Ba é escandalosamente esquecido pelos 10 jogadores de campo do Man United, ficando assim, isolado perante Dean Henderson após passe de Edin Visca.

O segundo lance que aqui trazemos representa um dos maiores problemas da organização defensiva da equipa de Solskjaer. A falta da eficácia das coberturas defensivas. Nesta imagem, vemos que Wan-Bissaka deixa a sua posição mais interior para sair à pressão de Visca que acaba de receber a bola. Com esta "ganância", vemos o imenso espaço que se cria entre Wan-Bissaka e Baily, prontamente aproveitado pelo Basaksehir.

No nosso entender, o lateral direito deveria ter mantido melhor a sua posição, mas ao não fazê-lo a equipa, funcionando em interacção, deveria ter feito o devido ajuste posicional e deveria ter encurtado esta distância para com Wan-Bissaka.

Já o terceiro lance é relativo ao segundo golo sofrido pelo United. Após perda de bola numa recepção falhada de Mata, a equipa teve uma péssima reacção à sua perda.

Os médios demoraram muito a encurtar o espaço junto dos centrais, tal como o defesa-esquerdo Luke Shaw, que no momento de perda estava posicionado de uma forma extraordinariamente ofensiva, bastante projectado no seu corredor.

Imagens Eleven Sports

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Burkina Faso. Dos jovens com futuro, ao passado sem presente – com Rui Vieira

 

Poucas nações africanas contam com uma geração de novos talentos tão interessante como o Burkina Faso.

Jogadores como o elegante defesa-central Edmond Tapsboba (Bayer Leverkusen), o goleador Lassina Traoré (Ajax) e o lateral Issa Kaboré (Man. City) são talvez as maiores promessas dos Les Étalons mas não são as únicas esperanças deste país africano.

Outros como o jovem médio-ofensivo Salifou Diarrassouba (St. Gallen), o polivalente Abou Ouatttara (Vitória Guimarães), o extremo Hassina Bandé (Ajax) e o também extremo Abdoul Tapsoba (Standard Liège) estão na calha para virem a ser boas referências no Futebol local. 

Jovens talentos que se juntando aos ainda jovens jogadores Bertrand Traoré (Aston Villa) e Hervé Koffi (Royal Mouscron), têm tudo para vir a serem uma selecção muito interessante a curto prazo.

Contudo, e embora reconhecendo que o futebol africano é rico em “diamantes brutos”, também é verdade que muitos jovens se vêm a mostrar uns autênticos foguetes molhados e por isso é sempre difícil criar expectativas em relação às selecções deste continente.

Infelizmente para Les Étalons, o Burkina Faso é um bom exemplo disso, quando recordamos a geração Sub17 presente no Mundial de 2011 sob comando do Transmontano Rui Vieira.

Para entendermos melhor a realidade do Futebol jovem em África, particularmente no Burkina Faso, lançámos o desafio precisamente ao Mister Rui Vieira, que teve a amabilidade de nos responder a 5 perguntas:

 

  1. Quando se fazem rankings de jovens promessas do Futebol Mundial, aparecem sempre muitos jogadores africanos ou de origem africana nessas listas. O que faz deles assim tão especiais? 

R.V.: O que faz deles especiais é uma aptidão natural falando a parte técnica, desenvolvida essencialmente no futebol de rua , geralmente em terra batida. (na Europa o futebol de rua desapareceu).

E também uma vontade indomável de vencer na vida, via  futebol.

O El Dourado no futebol africano é a Europa.

Então essencialmente esses dois factores fazem com que muito novos tenham uma qualidade extraordinária tanto técnica como fisicamente.

 

  1. Porque é que assistimos a uma dificuldade tão grande na passagem do jovem jogador africano para as exigências do Futebol profissional?

R.V.: Essa dificuldade da passagem do jogador jovem africano, para o futebol profissional,  tem 2 vertentes essenciais.

A primeira é a dificuldade do jogador africano se adaptar ao futebol super táctico europeu, porque em África privilegia-se um futebol meio anárquico, com rasgos de individualidade.

Os jogadores "africanos" nascidos na Europa, já não têm essa dificuldade.

O outro factor a meu ver, é o deslumbramento.

Nunca foram educados para lidar com uma vida cheia de oportunidades e facilidades que há na Europa.

Esse deslumbramento é o pior que pode acontecer.

 

  1. Tal como a geração de Sub17 de 2007 da Nigéria e do Gana, por exemplo, repletas de qualidade, também o Burkina Faso de 2011 não viu nenhum jogador atingir um patamar competitivo superior. Alguma razão em especial para isso ter acontecido a esse grupo de jogadores?

R.V.: Estão referidas na resposta à pergunta feita anteriormente.

Na minha experiência, só o Bertrand Traoré conseguiu um patamar mais alto.

De resto nenhum conseguiu sequer entrar numa equipa de segunda liga europeia.

E fomos campeões africanos.

 

  1. Porque é que há países em que os jogadores africanos têm mais facilidade em se afirmar do que outros? Portugal tem sido particularmente duro com alguns como: Rabiu Ibrahim (apontado outrora como um dos futuros melhores jogadores do mundo), Moreto Cassamá (quando era Sub17, foi bastante cobiçado pelo Tottenham e Manchester City), Ishmael Yartey (apelidado de Ryan Giggs ganês); no entanto nunca chegaram a atingir o patamar que se antecipava…

R.V.: Na minha perspectiva os países que melhor entendem os jovens africanos são a França, Inglaterra, Holanda.

Talvez porque as comunidades africanas nesses países sejam muito mais integradoras,  devido à sua grande proporção nesses países.

Então eles têm um suporte diferente dos outros países.

 


5.    O que é que é preciso acontecer para vermos mais Talentos africanos nos grandes palcos europeus num futuro próximo?

R.V.: Na minha perspectiva tem que haver um acompanhamento maior e uma intervenção psicológica de proximidade.

O grande problema é a procura do lucro fácil e não querem gastar tempo com essas medidas.

Mas estou em crer que resultaria.


segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Aprender com uma goleada sofrida - uma crítica construtiva à organização defensiva do Venlo


Pouco mais pode o VVV Venlo fazer do que Aprender com a pesada derrota frente ao Ajax. Mais do que a superioridade do seu adversário, o VVV Venlo sofreu muitos golos por culpa própria, apresentando-se de uma forma quase que amadora na dimensão Táctica do jogo.

Com esta reflexão, que gostaríamos de fazer chegar aos responsáveis do clube holandês sob forma de crítica construtiva, expomos as fragilidades do momento defensivo do 14º classificado da Eredivisie.

É verdade que todos temos direito a “um dia mau no trabalho”. O empate recente em Alkmaar prova que a equipa tem mais competência do que aquela que mostrou nesta jornada. Mas para que novas goleadas históricas não acontecem, deixamos em seguida algumas dorrecções que terão de ser manifestadas pela equipa.

 

Desconcentrações individuais que contra equipas de topo europeu, não podem acontecer. No caso, é o extremo direito que se deixa ultrapassar pela movimentação de Tagliafico.

 

Referências demasiado individuais que não são respeitadas por todos. Ou seja, a equipa chega a estar (des)organizada em 1x7x2x1.

 

O Venlo chega a ter 10 jogadores dentro da sua grande área. Contudo, de nada vale tamanha quantidade se não houver agressividade e capacidade suficiente para desarmar o adversário.

 

Quando a bola entra nos corredores, muitas vezes vemos que não há nem sequer um esboço de uma cobertura defensiva ao lateral em acção.

 

Assistimos constantemente a uma linha defensiva muito baixa e numerosa, deixando sempre muito espaço à sua frente.

 

O Venlo foi uma equipa sempre muito perdida nas noções de ocupação de espaço, parecendo não saber aquilo que priorizar: pressão ou contenção? zona ou indivíduo?

 

Erros “infantis” a uma escala mais individual.  No último golo, o defesa desprezou completamente a posição da bola, fixando-se exclusivamente na movimentação do seu adversário.

Ao olharmos para as imagens concluímos que foi um jogo mau de mais para uma equipa da principal divisão holandesa. Acidentes acontecem, e para o bem dos elementos do VVV Venlo, que este jogo tenha sido apenas isso…