terça-feira, 3 de novembro de 2020

Burkina Faso. Dos jovens com futuro, ao passado sem presente – com Rui Vieira

 

Poucas nações africanas contam com uma geração de novos talentos tão interessante como o Burkina Faso.

Jogadores como o elegante defesa-central Edmond Tapsboba (Bayer Leverkusen), o goleador Lassina Traoré (Ajax) e o lateral Issa Kaboré (Man. City) são talvez as maiores promessas dos Les Étalons mas não são as únicas esperanças deste país africano.

Outros como o jovem médio-ofensivo Salifou Diarrassouba (St. Gallen), o polivalente Abou Ouatttara (Vitória Guimarães), o extremo Hassina Bandé (Ajax) e o também extremo Abdoul Tapsoba (Standard Liège) estão na calha para virem a ser boas referências no Futebol local. 

Jovens talentos que se juntando aos ainda jovens jogadores Bertrand Traoré (Aston Villa) e Hervé Koffi (Royal Mouscron), têm tudo para vir a serem uma selecção muito interessante a curto prazo.

Contudo, e embora reconhecendo que o futebol africano é rico em “diamantes brutos”, também é verdade que muitos jovens se vêm a mostrar uns autênticos foguetes molhados e por isso é sempre difícil criar expectativas em relação às selecções deste continente.

Infelizmente para Les Étalons, o Burkina Faso é um bom exemplo disso, quando recordamos a geração Sub17 presente no Mundial de 2011 sob comando do Transmontano Rui Vieira.

Para entendermos melhor a realidade do Futebol jovem em África, particularmente no Burkina Faso, lançámos o desafio precisamente ao Mister Rui Vieira, que teve a amabilidade de nos responder a 5 perguntas:

 

  1. Quando se fazem rankings de jovens promessas do Futebol Mundial, aparecem sempre muitos jogadores africanos ou de origem africana nessas listas. O que faz deles assim tão especiais? 

R.V.: O que faz deles especiais é uma aptidão natural falando a parte técnica, desenvolvida essencialmente no futebol de rua , geralmente em terra batida. (na Europa o futebol de rua desapareceu).

E também uma vontade indomável de vencer na vida, via  futebol.

O El Dourado no futebol africano é a Europa.

Então essencialmente esses dois factores fazem com que muito novos tenham uma qualidade extraordinária tanto técnica como fisicamente.

 

  1. Porque é que assistimos a uma dificuldade tão grande na passagem do jovem jogador africano para as exigências do Futebol profissional?

R.V.: Essa dificuldade da passagem do jogador jovem africano, para o futebol profissional,  tem 2 vertentes essenciais.

A primeira é a dificuldade do jogador africano se adaptar ao futebol super táctico europeu, porque em África privilegia-se um futebol meio anárquico, com rasgos de individualidade.

Os jogadores "africanos" nascidos na Europa, já não têm essa dificuldade.

O outro factor a meu ver, é o deslumbramento.

Nunca foram educados para lidar com uma vida cheia de oportunidades e facilidades que há na Europa.

Esse deslumbramento é o pior que pode acontecer.

 

  1. Tal como a geração de Sub17 de 2007 da Nigéria e do Gana, por exemplo, repletas de qualidade, também o Burkina Faso de 2011 não viu nenhum jogador atingir um patamar competitivo superior. Alguma razão em especial para isso ter acontecido a esse grupo de jogadores?

R.V.: Estão referidas na resposta à pergunta feita anteriormente.

Na minha experiência, só o Bertrand Traoré conseguiu um patamar mais alto.

De resto nenhum conseguiu sequer entrar numa equipa de segunda liga europeia.

E fomos campeões africanos.

 

  1. Porque é que há países em que os jogadores africanos têm mais facilidade em se afirmar do que outros? Portugal tem sido particularmente duro com alguns como: Rabiu Ibrahim (apontado outrora como um dos futuros melhores jogadores do mundo), Moreto Cassamá (quando era Sub17, foi bastante cobiçado pelo Tottenham e Manchester City), Ishmael Yartey (apelidado de Ryan Giggs ganês); no entanto nunca chegaram a atingir o patamar que se antecipava…

R.V.: Na minha perspectiva os países que melhor entendem os jovens africanos são a França, Inglaterra, Holanda.

Talvez porque as comunidades africanas nesses países sejam muito mais integradoras,  devido à sua grande proporção nesses países.

Então eles têm um suporte diferente dos outros países.

 


5.    O que é que é preciso acontecer para vermos mais Talentos africanos nos grandes palcos europeus num futuro próximo?

R.V.: Na minha perspectiva tem que haver um acompanhamento maior e uma intervenção psicológica de proximidade.

O grande problema é a procura do lucro fácil e não querem gastar tempo com essas medidas.

Mas estou em crer que resultaria.


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