No
passado dia 11 de Abril teve lugar na Universidade de Trás-os-Montes e Alto
Douro o 3º Congresso de Futebol. O evento, organizado
pelo Núcleo de Estudantes de Desporto da UTAD, contou com a participação de
vários intervenientes, das mais diversas áreas específicas do Futebol.
Foram
palestrantes Alexandre Monteiro (Coaching Desportivo); Rui Tomé, Bruno Freitas,
Tiago Fernandes e Gilberto Freitas (Formação de Elite); António Oliveira (O
Treinador e os Diferentes Contextos); Rui Lança (O Treinador e a Equipa –
Liderança); Vítor Maçãs (Organização Ofensiva – Prático); Francisco Neto (Desenvolvimento
do Futebol Feminino); Daúto Faquirá, Vítor Oliveira e Luís Castro (Estruturação
e Preparação de uma Equipa); Carlos Soares (O Calendário Desportivo como Meio
de Melhoria da Modalidade); André Ribeiro, Rui Malheiro e Ricardo Damas
(Scouting – Equipas/Jogadores O que Ver/Como Aplicar); e Bruno Gonçalves
(Apresentação dos Resultados Obtidos por GPS).
Coaching
Desportivo - Alexandre Monteiro
Por
motivos superiores não nos foi possível chegarmos a tempo de assistir na
totalidade à apresentação deste primeiro palestrante.
Contudo,
pelo que nos foi possível aperceber, Alexandre Monteiro abordou, sobretudo, a
utilização da Linguagem Corporal no modo de actuação do Treinador. Essa é mesmo
a sua área de especialização tendo sidos apresentados alguns detalhes
comportamentais que ajudam os treinadores a serem mais fortes no seu processo
comunicacional e motivacional.
Formação
de Elite (Mesa Redonda) – Rui Tomé, Bruno Freitas, Tiago Fernandes e Gilberto
Freitas
Com
esta Mesa Redonda podemos ficar a conhecer mais e melhor o processo de
operacionalização de quatro equipas de Top nacional. Rui Tomé a representar a
equipa Sub19 do SC Braga, Bruno Freitas a abordar as suas ideias dos Sub13 do
SL Benfica, Tiago Fernandes a dar o seu exemplo dos Sub19 do Sporting CP e
Gilberto Freitas a expor o seu trabalho dos Sub15 do Vitória SC.
Tentámos
“beber” o máximo de informação de cada um dos intervenientes pelo que
tentaremos apresentar aquilo que cada um foi dizendo acerca da sua postura
perante o processo de formação assim como a do clube que representam.
Rui
Tomé (SC Braga):
·
Existe uma
intervenção sobre o lado humano com cuidados especiais para os que não chegam
ao top.
·
Embora muitas vezes
se confunda, é muito importante distinguir Competitividade de Competição. Podem
parecer sinónimos mas estão relacionados com posturas sobre o processo bastante
diferentes. No clube, pretende-se criar altos padrões de competitividade, que
promovam um desenvolvimento saudável na relação entre a Aprendizagem e o
Resultado; já a competição é encarada, maior parte das vezes, como um elemento nocivo
ao processo de aprendizagem dos jogadores, corroendo-os e aos seus encarregados
de educação.
·
Fará sentido criar a
mesma estrutura posicional para todas as equipas da formação? Pode-se ter a
propensão de Jogar com os mesmos princípios manifestando diferentes “formas”
(leia-se estruturas).
·
Julian Draxler
(habilidoso extremo alemão de 22 anos) jogou uma época durante os escalões de
formação na posição “6” para sentir e aprender a interpretar o que o jogador
dessa posição “sofre” quando o extremo perde a bola. São diferentes estratégias
para tentar desenvolver o jogador.
·
Um outro exemplo é o
de Diogo Capel, outrora apontado como um dos jogadores com mais potencial do
mundo. Com o intuito de valorizar a diversidade de posições/funções em campo,
não seria interessante o espanhol ter experimentado jogar em posições mais
interiores dadas as diferenças das dinâmicas e constrangimentos
espácio-temporais?
·
No Braga, foi
contratado o João Tomás para trabalhar de forma mais eficiente os Pontas de
Lança, normalmente com um treino semanal. Com isso, não se faz um treino
analítico mas um treino orientado para o detalhe específico da posição.
Acredita-se que é possível criar um PL, ficando o trabalho facilitado se
existirem bons modelos sociais de PL, o que, neste momento, não é o caso do
Éder.
·
Sobre o processo
comunicacional e o tipo de feedbacks utilizado no treino, tenta-se que os
constrangimentos do exercício não sejam demasiadamente difíceis e que os feedbacks
sejam orientados para a dimensão emocional reforçando-se positivamente o
jogador.
Bruno
Freitas (SL Benfica):
·
No clube, tenta-se
ajudar os pais a gerir as expectativas dos filhos (para além das expectativas
criadas pelos próprios jovens jogadores), “ensinando” os pais a lidar com o
fracasso. Daí, haver também um acompanhamento muito forte nas áreas da formação
académica e social do indivíduo. Pretende-se mostrar a diferença de processos
entre a Formação e a Alta Competição.
·
Salvo muito raras
excepções, o “individual” não se promove sem um bom “colectivo”. Quando o
colectivo rende, o individual tem tudo para emergir e evoluir.
·
Os conceitos de
Especialização e de Diversificação são conceitos confusos e que muitas vezes
são mal interpretados e/ou utilizados, não tendo necessariamente a ver com
posições em campo mas antes com liberdades e funções a desempenhar pelo
jogador.
·
Quando é que a
criança joga futebol, hoje em dia? Pelas condições socioculturais actuais, a
criança não joga na rua nem na escola, e cada vez menos ela joga no clube,
fruto da metodologia de treino adoptada por determinados clubes e/ou treinadores!
É fulcral mudar este paradigma!
·
Fazemos “mea culpa”
no processo de formação ao não reconhecermos a lacuna que existe na qualidade
demonstrada pelos Pontas de Lanças. As limitações são evidentes. Ao mesmo
tempo, todos temos de reflectir quando tentamos responder à seguinte pergunta:
o que é mais valorizado, “encostar” de bico para a baliza e fazer o golo ou
fintar o guarda-redes com uma finta habilidosa e falhar?
·
Orientação dos
constrangimentos dos exercícios para o desenvolvimento de um Jogar. Utilização
da dimensão competitiva como punição da derrota – p. e. quem perde arruma o
material. Ainda sobre o feedback, deixa-se errar algumas vezes para que eles
tentem interpretar o erro, e só quando este se torna sistemático é que se
interfere.
·
A
multidisciplinaridade desportiva pode ser favorável ao crescimento das
competências motoras, mas também existem exemplos de quem chegou muito longe a
top sem ter experimentado diferentes modalidades desportivas.
Tiago
Fernandes (Sporting CP):
·
A prioridade do
processo é o desenvolvimento do jogador. Colá-lo na equipa A e/ou na B. É
desejo do clube formar o máximo de jogadores que sejam competentes para jogar
nas equipas profissionais. Nesse sentido, existe um foco muito grande dirigido
ao grupo de jogadores de elite.
·
O colectivo forte é
um contexto mais estimulante e profícuo para o desenvolvimento do jogador. Com
essa preocupação, quando se está a gerir um talento, o maior erro que se pode
cometer é dando-lhe “palmadinhas nas costas” e dizendo-lhe que é um crack (ou
seja, tirando-o da noção colectiva da Aprendizagem).
·
O Cédric (antigo
jogador do Sporting) foi médio durante todo o seu processo de formação. Tentar
gerir a sua cabeça e a do seu encarregado de educação foi o mais difícil para
tentar fazer ver a ambos que o seu futuro profissional era facilitado com a sua
passagem para defesa-direito.
·
No clube, dá-se
imensa importância à mentalidade de um jogador de formação para se adaptar à
adversidade.
·
A evolução do futebol
tendeu a que o Ponta de Lança não tenha a preponderância que tinha outrora. No
futebol de formação, estamos a formatar muito o 1x4x3x3 em que o avançado não
tem muito a bola nem grande importância para o Jogar da equipa.
·
Para o
desenvolvimento do jogador, é relevante que exista uma preparação do próprio
para ser emprestado. Nesse caso, se for bom ele “chega e assume”!
·
Relativamente ao PL –
no Sporting também existe um trabalho individual para esta “posição” – é
indispensável que se oriente o processo de treino para a repetição de dinâmicas
abertas para o desenvolvimento individual do jogador.
·
Na pré-época o quadro
competitivo foi composto por 10 jogos contra equipas do CNS, tentando-se
promover um elevado grau de exigência.
·
O próprio tira ideias
do Basquetebol e do Futsal para as aplicar no jogo da equipa, em especial nos
esquemas táticos.
Gilberto
Freitas (Vitória SC):
·
Mais do que ganhar,
deseja-se Formar – potenciando o individual dentro do colectivo. É preocupação
tentar potenciar capacidades e qualidades que ainda vão aparecer no
desenvolvimento desportivo e maturacional dos jogadores.
·
O Talento (ou jogador
talentoso) desenvolve-se mais em contextos mais complexos. Assim, um Modelo de
Jogo que seja mais exigente nos Princípios potencia o aparecimento de jogadores
mais complexos.
·
O desenvolvimento do
jogador pode ser favorável quando o contexto permite a experimentação de outras
posições em campo. Casos recentes no Vitória em que jogadores que jogam a
determinada posição no clube são convocados à selecção nacional para jogarem
noutras posições.
·
É muito mau criar
rótulos aos jogadores. Ser o “novo Ronaldo” ou “novo Messi” pode ser muito
prejudicial para o processo de Aprendizagem do jogador. Nesse aspecto, os
empresários poderão ser muito nefastos com os seus feedbacks e juízos de valor.
·
Nas idades mais
precoces da formação é importantíssimo haver um contacto com outras modalidades
desportivas. No Vitória existe um caso muito interessante de prática
multidesportiva que favoreceu o seu desenvolvimento como jogador, levando-o
mesmo a chegar à selecção nacional Sub16 – André Almeida.
O
Treinador e os Diferentes Contextos - António Oliveira
O
treinador António começou por fazer uma breve apresentação do seu currículo,
abordando a sua carreira como jogador – passagens por Benfica, Braga, Santa
Clara e Oriental – e como treinador – adjunto do Tractor, do Irão, e adjunto da
equipa sub19 da AD Oeiras.
O
treinador António Oliveira considera que a CULTURA deva ser a base que sustenta
do trabalho do treinador no estrangeiro, sendo que é a CULTURA que o ajuda a
definir:
·
o Modelo de Jogo;
·
o Modelo de Treino;
·
o Modelo de
Comunicação;
·
o Modelo de Observação.
Assim,
António Oliveira considera pertinente que o Treinador, quando está no
estrangeiro, seja um pleno conhecedor do País para onde vá exercer a sua
profissão, conhecendo exaustivamente o contexto sociopolítico, a língua, a
cultura desportiva, os hábitos alimentares, os costumes religiosos, os adeptos,
a vida social e a formação dos seus habitantes – no caso jogadores.
·
Modelo de Jogo
Organização
+ Compromisso + Concentração + Confiança = Sucesso
Abordagem
aos grandes princípios do Modelo de Jogo:
o disposição dos jogadores em campo,
o 1ª e 2ª fases de construção,
o lado fraco e lado forte,
o linha defensiva em função da bola,
o bola aberta vs bola fechada.
·
Modelo de Treino
Muita
dificuldade foi encontrada na operacionalização dos exercícios, sobretudo no
que se refere às exigências relativas à complexidade dos mesmos.
Devido
também a algumas carências de ordem tático-técnica, chegou-se a utilizar o
treino analítico para ensino de alguns comportamentos individuais.
Tendo
em conta a experiência a sua experiência no Tractor, António Oliveira “mostrou”
o Plano Anual de Trabalho da equipa, assim como o Microciclo Padrão, exemplos
das Sessões de Treino e do Controlo das mesmas.
·
Modelo de Observação
Neste
capítulo, António Oliveira falou sobre o processo de Observação e Análise das
equipas adversárias, explicando, as muitas dificuldades que existem na recolha
de dados sobre as diferentes equipas do campeonato.
Foi
abordado o Relatório de Scouting do adversário, em que se dá um ênfase especial
aos Pontos (Comportamentos e Jogadores) Chave do processo ofensivo e defensivo
do adversário; ao Processo Competitivo – referente à análise descritiva da
equipa; à evolução da própria equipa; e à estatística comparativa.
O
Treinador e a Equipa – Liderança - Rui Lança
O
palestrante iniciou a sua apresentação com uma série de referências académicas
acerca da definição de Liderança.
Assim,
podemos considerar a Liderança e as suas diferentes Dinâmicas como o processo
inter-relacional e comunicacional que existe entre o Treinador, os Atletas, o
Contexto e uma Inteligência Colectiva que define o grupo e a equipa.
O
investigador referiu-se também ao seu trabalho académico de doutoramento em que
entrevistou doze treinadores campeões nacionais em diferentes modalidades
desportivas, procurando encontrar um padrão comum de comportamentos de
excelência. No seu estudo, e através da relação entre a literatura e as
entrevistas realizadas, constituíram-se quatro dimensões que são consideradas
fulcrais para “justificar” o sucesso, sendo elas:
·
A liderança;
·
As acções do
treinador;
·
A equipa técnica;
·
As relações.
Uma
outra conclusão da sua investigação, foi a de que não existem perfis mais
correctos do que outros para se ser um treinador campeão. Dessa forma, não
importa tanto o que o treinador faz mas sim como o faz. Rui Lança destacou
também os canais comunicacionais que se criam na passagem da mensagem que o
treinador pretende. Muitas vezes, o treinador tem que utilizar estratégias
indirectas para se fazer expressar, deixando que “outros” o façam por si (p. e.
o capitão, o adjunto, um colega de equipa).
Embora
Rui Lança não considere que não exista um “Perfil de Campeão”, ele
considera os seguintes denominadores
comuns dos campeões:
Adaptabilidade Flexíveis Paixão
Genuíno Actor Tudo e
todo
O
outro Introspecção Consequências
Tudo em função de um Colectivo
Essencial
O
que faço O
que penso O
que sinto
Fundamental
O que gostaria de fazer
O que gostaria de pensar
O que gostaria de sentir
Organização
Ofensiva – Prático - Vítor Maçãs
Na
única apresentação prática do Congresso, tivemos o prazer de assistir a uma
sessão de treino “oferecida” pelo Prof. Dr. Vítor Maçãs, em conjunto com os
alunos da associação de estudantes da UTAD.
Com
o objectivo fundamental de treino a passar pela Organização Ofensiva, o professor
e treinador Vítor Maçãs estruturou o treino basicamente em duas partes.
Na
primeira, foi realizado um exercício de passe em estrutura: Y e Y invertido, em
que foram trabalhadas algumas dinâmicas comportamentais por parte dos
jogadores. O exercício foi realizado primeiro sem oposição e depois com
oposição, em que cada adversário estava circunscrito a determinada zona,
fazendo uma oposição passiva.
Na
segunda fase, assistimos a um jogo condicionado de GR+9x9+GR com oposição
passiva em que se tentaram recriar as dinâmicas do exercício anterior,
sobretudo nos corredores centrais, em qua apenas os médios interiores, os
extremos e os laterias poderia tocar na bola. Após algum tempo, o jogo deixou
de ter as condicionantes, tentando-se trabalhar os mesmo princípios da
organização ofensiva de forma mais aberta.
Foi
interessante assistirmos às instruções do professor, bastante activo e
correctivo nos seus feedbacks, não sabendo, no entanto, se tal comportamento é
o habitual de Vítor Maçãs.
Desenvolvimento
do Futebol Feminino - Francisco Neto
O
seleccionador nacional feminino começou a sua comunicação fazendo uma breve
apresentação do organograma do Futebol Feminino nacional, no que à estrutura da
Federação Portuguesa de Futebol diz respeito. Francisco Neto apresentou as
equipas AA, Sub19, Sub17 e Sub16 nacionais, assim como as suas equipas
técnicas.
Com
um total de 2138 praticantes na época transacta, podem-se somar 15 a 20
jogadoras no estrangeiro assim como mais algumas luso-descendentes para se
contabilizar o total de jogadoras de futebol portuguesas.
De
todas, a mais conhecida é provavelmente Ana Borges, natural da cidade de
Gouveia. (Nota: Não deixa de ser interessante que ao contrário do que se passa
no futebol masculino, são muitas as jogadoras de top nacional oriundas do
interior do país).
Neste
momento existem 5 grandes projectos a nível nacional que tentam promover o
desenvolvimento do Futebol Feminino.
1. Liga Elite Feminina
Constituída
até 14 equipas. 10 provenientes do campeonato regular + 4 formadas a partir dos
clubes da Liga NOS masculina.
2. Campeonato Nacional de Juniores Femininos
Disputado
em Futebol de 9.
Tentar
avançar o limite da competição mista até à idade de Sub17.
3. Supertaça Feminina
Tentando
aproveitar o dia com actividades de promoção do Futebol Feminino.
4. Encontros Regionais e Nacionais de Futebol Feminino
Através
da ligação entre a Federação Portuguesa de Futebol, o Desporto Escolar e as
Associações de Futebol.
Constituída
primeiro por uma Fase Regional aberta à todos, em que qualquer grupo ou
colectividade pudesse participar: clubes, escolas, família. Os vencedores
apuram-se para a Fase Final a disputar no mesmo dia da Final da Taça, disputada
no Jamor.
5. Centros de Treino/Formação de Futebol Feminino
Criação
de espaços nas associações distritais de futebol próprios para o
desenvolvimento das jogadoras referenciadas pela FPF. Estes Centros de Treino
tentariam colmatar as carências de ordem técnica e táctica das jogadoras, com o
incremento do número de treinos semanais.
Estruturação
e Preparação de uma Equipa
- Daúto Faquirá, Vítor Oliveira e Luís
Castro
Com
a mais mediática das “Mesas Redondas” do Congresso, os técnicos Daúto Faquirá,
que se encontra neste momento sem clube, Vítor Oliveira, treinador do GD Chaves,
e Luís Castro do FC Porto B, deram a conhecer algum do seu trabalho diário
enquanto treinadores no Alto Rendimento.
Luís
Castro – FC Porto B:
·
Importa diferenciar o
contexto da equipa para a podermos estruturar, para definirmos o seu propósito.
No FC Porto B, deixámos de montar a equipa e o processo de treino em função do
adversário. Devido ao elevado número de jogos da equipa, jogamos a dobrar e
dessa forma descansamos a dobrar. Enquanto recuperação fazemos evoluir a equipa
em alguma maneira para existir uma aquisição de princípios de jogo.
·
O plantel da equipa B
deveria ser fechado no sentido equipa A para a equipa B, para que não houvessem
tantas desconfianças.
·
Dormir bem, hidratar
bem e comer bem é a melhor forma de recuperar, funcionando melhor que a
recuperação activa. Alguns jogadores sentem-se muito confortáveis com a
utilização da câmara de frio, para acelerar a recuperação. Nesta fase da época,
tão sobrecarregada em número de jogos, é muito importante ter a cabeça limpa,
viver num bom estado emocional. Até o próprio treinador precisa de recuperar –
no treino da manhã, Luís Castro limitou-se a observá-lo entregando-o aos seus
adjuntos.
·
Na planificação do
morfociclo é hierarquizada a prioridade dos exercícios em função dos dados
recolhidos referentes ao último jogo da equipa. Assim, é periodizado o treino
tendo em conta os dados relativos por exemplo ao número de entradas em zonas de
finalização, às reacções eficazes à perca da bola, etc.
· Em quase todos os
treinos o 11x11 aparece no treino, podendo ser devidamente condicionado, em
função dos princípios de jogo.
Vítor
Oliveira – GD Chaves
·
A escolha do plantel
é o elemento mais importante para se desenvolver um trabalho com sucesso.
Também ajuda conhecer extraordinariamente a
competição em que nos inserimos. Na operacionalização do processo de
treino, todas as semanas há ajustes e reajustes, em especial durante o Inverno
onde as condições do treino (leia-se terreno) são bastante difíceis. A criação
de objectivos é também muito importante no que toca à preparação da equipa para
os diferentes períodos da época.
·
Referência às equipas
B que actuam na II Liga que utilizam os jogadores da equipa A como lhes convém,
alterando muitas vezes a verdade desportiva. Neste ponto, a utilização desses
jogadores agrava-se nos jogos das “grandes decisões” como a conquista do título
ou a luta pela manutenção.
·
Por vezes “não se
treinando, faz-se um bom treino”. Com folga à segunda-feira, a terça-feira é
destinada à execução de corridas lentas, bolas paradas, combinações simples. A
recuperação é ajustada em função do quadro competitivo e da altura do
campeonato em que é feito.
Daúto
Faquirá – sem clube
·
É o “bom senso” (na
operacionalização do processo de treino, nomeadamente na questão do nº de
treinos diários, no nº de folgas, nos próprios objectivos da sessão de treino,
etc.) que permite que os treinadores tenham sucesso. É impossível ter-se
sucesso sem que exista uma boa equipa técnica.
·
Na questão da
recuperação, pode-se também utilizar a estratégia de alterar volumes e
intensidades permitindo uma melhoria do estado de recuperação.
·
Considero a
segunda-feira o dia de eleição para o descanso semanal. Já na quarta é dia de
realização de duas sessões de treino.
O
Calendário Desportivo como Meio de Melhoria da Modalidade - Carlos Soares
O
coordenador técnico da AF Vila Real começou a sua comunicação com a referência
às assembleias gerais da associação, já que é neste órgão que todas as decisões
sobre o futebol distrital são tomadas, em especial o assunto dos quadros
competitivos (Nota: talvez os clubes e os seus coordenadores técnicos devessem
valorizar este órgão procurando, também eles com as suas experiências,
apresentar propostas que visam o desenvolvimento do futebol regional).
Em
seguida, o palestrante dedicou uma boa parte da sua apresentação à estruturação
dos quadros competitivos da AF Vila Real, em função do que a literatura e a
prática noutras associações vão sugerindo. Tendo em conta as diferentes etapas de
desenvolvimento da criança e jovem no desporto em geral e no futebol em
particular, muito se tem reflectido dentro da associação sobre questões como:
·
A ausência ou não de
campeonato no escalão de Benjamins (Nota: ao contrário do que foi dito, a AF
Vila Real não é pioneira na ausência de campeonato classificativo neste
escalão, já que na AF Guarda nunca existiu qualquer competição estruturada,
funcionando como encontros esporádicos mensais sem qualquer relação com tabelas
classificativas);
·
Aplicação das regras
do Futebol de 9 em escalões como os Sub13 e/ou Sub14;
·
Utilização da regra +
1 jogador no Futebol de 7 quando determinada equipa tem uma desvantagem de 5
golos;
·
Possibilidade de
realização de mais jogos por parte das crianças, com a existência de mais
escalões etários de competição.
Scouting
– Equipas/Jogadores O que Ver/Como Aplicar – André Ribeiro, Rui Malheiro e Ricardo Damas
Com
a Mesa Redonda dedicada à Observação e Análise de Jogadores e Equipas foi
extremamente interessante ficarmos a conhecer melhor as ideias e a metodologia
de trabalho de quem anda a Top. Foi com muita atenção que estivemos a ouvir e a
aprender com André Ribeiro, treinador de formação e Scout do FC Porto, Rui
Malheiro, a representar a cada vez mais prestigiada plataforma Talent Spy, e
Ricardo Damas, a dar-nos conta das suas ideias e das do seu Sporting CP sobre o
Scouting.
Rui
Malheiro (Talent Spy)
·
O padrão é tudo que
queremos encontrar numa análise de uma equipa ou de um jogador. Assim, quando
observamos um jogador procuramos identificar as suas qualidades nas suas
dimensões técnico-táctica ofensiva, técnico-táctica defensiva, física e
psicológica. Já quando observamos uma equipa damos ênfase aos momentos do jogo
de organização ofensiva e defensiva, transições defensiva e ofensiva e aos
esquemas tácticos defensivos e ofensivos.
·
Há scouts
independentes que trabalham para equipas técnicas de clubes.
·
Antes de fazermos o
trabalho de scouting de qualquer equipa ou jogador externa/o devemos fazer a
devida análise da nossa própria equipa.
·
É necessário existir
um conhecimento mútuo entre o scout e o treinador. Tanto o scout saber muito
bem aquilo que o treinador quer, tal como o treinador saber muito bem como o
scout observa e analisa. Sobretudo quando se tratam de formas de trabalhar diferentes
que podem ir da realização de um relatório de 6 ou de 30 páginas.
·
Na construção de um
relatório é relevante indicar o jogador(es) chave da equipa. Contudo, é ainda
mais pertinente identificar o seu papel na equipa e o porquê de ele ser a
“chave”.
·
Enquanto scout e
colaborador de equipas profissionais, nunca iremos contratar jogadores pelo que
eles jogam no “Youtube”.
·
É extremamente
relevante conhecermos os diferentes contextos do jogo, os diferentes futebóis,
se preferirmos, para conseguirmos antecipar as qualidades de um jogador quando
compete em contextos diferentes do seu habitual. O que mais me cativa num
jogador é a sua tomada de decisão e é a sua interpretação do jogo, a sua
leitura da circunstância.
·
Quando há
possibilidade de termos um gabinete de scouting, deveremos criar uma base de
observação da nossa própria equipa.
·
Considero a
inteligência na tomada de decisões como uma das qualidades mais importantes num
jogador, assim, quando o jogador é excessivamente individualista – quase como
um egocentrista do jogo – poderá atrapalhar o seu desenvolvimento.
·
Para além da Talent
Spy –da qual Rui Malheiro é o Chief Scout – também utilizo a WyScout para a o
meu trabalho de prospecção.
André
Ribeiro (FC Porto)
·
O meu trabalho vai de
encontro ao que o treinador quer, sendo que cada vez mais o treinador procura
saber mais sobre os esquemas tácticos dos adversários.
·
Não se pode fugir ao
“olho do treinador”, já que é com ele que eu tenho que interpretar o jogo. Eu
até posso ter um juízo de valor sobre determinado jogador ou comportamento da
equipa mas tenho de me pôr no lugar do treinador e da sua maneira de ver as
coisas.
·
Concordo com Rui
Malheiro aquando da valorização do conhecimento sobre a própria equipa antes de
qualquer trabalho externo.
·
Aquando da
visualização dos relatórios por parte equipas, umas podem-se mostrar os pontos
fortes dos adversários, outras já não, devido à forma motivacional e
comportamental como elas reagem. E isso é relativo tanto a jogadores como a
treinadores.
·
Quando se fala em
imagens nos relatórios, é diferente apresentar-se um frame ou um vídeo. Com um
frame, por ser uma imagem estática, até se podem tentar mostrar comportamentos
negativos do jogador, quando na realidade ele até foi eficaz. Mas fruto da
circunstância do frame o jogador até não adopta o comportamento mais correcto.
·
A nossa equipa deverá
sempre tentar anular o “jogador chave” da equipa adversária de uma forma
colectiva, e não com estratégias que o acompanhem individualmente.
·
O scout tem de ter
muita paixão por aquilo que faz devendo ser o mais low-profile possível.
·
Devemos balizar os
nossos gostos em consonância com os do treinador. No meu caso específico, o que
me cativa mais num jogador é a sua técnica, o gosto que tem pelo jogo e a sua
especificidade que confere à sua posição, tentando fazer sempre uma projecção
de como é que o jogador X se adapta ao contexto Y.
·
Num contexto
distrital poderá trabalhar-se de forma semelhante Às profissionais, adoptando
obviamente os recursos à sua disposição.
·
A quem passa pelos
distritais é-lhe permitida uma maior adaptabilidade que lhe potencia a
qualidade como treinador.
·
Utilizo o software
LongoMatch para ver se o jogador está a evoluir ou não, aquando da análise de
vídeo do seu treino.
·
Um dos indicadores
mais importantes da qualidade do jogador é a sua resiliência.
·
A família poderá ser
um dos maiores entraves ao desenvolvimento de um jogador.
·
As plataformas de
auxílio ao meu trabalho que utilizo são a LongoMatch e a WyScout.
Ricardo
Damas (Sporting CP)
·
Muitos treinadores
chegam a um ponto de detalhe que quase querem saber que número de chuteiras
determinado jogador calça.
·
Qualquer um que
perceba de futebol poderá fazer um relatório. A questão primordial é encontrar
e contextualizar a informação junto em conformidade com o que o treinador quer.
·
Existe uma necessidade
muito forte – com resultados positivos – ao recurso às imagens, na construção
dos relatórios.
·
Quando o conhecimento
sobre o contexto competitivo é extenso, como o são, por exemplo na I e II
Ligas, o foco do relatório do scout deverá ser o comportamento colectivo das
equipas.
·
O talento é
observável por parte de toda a gente, mas é o “olhómetro” que permite uma
sensibilidade que o ajuda a destacar ou não. Quando ele acaba por se destacar e
é transferido para outros contextos, mesmo que a nível experimental, esses
mesmos contextos acabam por ser agentes “moldadores” da sua qualidade e do seu
potencial, fomentando ou inibindo o seu desenvolvimento. Por exemplo, alguns
jogadores brilham nas captações e depois de contratados acabam por nem se
afirmar.
·
O scout faz o seu
trabalho sem ser reconhecido, não porque não lhe é reconhecido o seu valor, mas
porque convém que ele não seja “mediático”.
·
Não deixa de ser
curioso que os defesas continuam sem dar tanto nas vistas.
·
Eu filmo os meus
jogos (escalão Sub10) com a intenção de melhorar e corrigir a minha própria
equipa. Considero ridículo fazer-se “match analysis” nestes escalões.
·
Também utilizo o
vídeo para filmar os treinos.
·
No nosso trabalho no
Sporting, utilizamos uma plataforma própria de observação e análise de
jogadores e equipas.
Apresentação
dos Resultados Obtidos por GPS – Bruno Gonçalves
O
investigador da UTAD começou a sua palestra fazendo referencia a algumas das
tecnologias utilizadas na análise de treino e de jogo nos Jogos Desportivos
Colectivos, em especial no Futebol.
É
intenção de quem trabalha com as novas tecnologias da análise de dados
recolhidos com a observação e monitorização dos jogadores servir para optimizar
as decisões dos treinadores.
Podemos
também constatar que a performance aumenta em função do uso efectivo dos dados
oferecidos por essas mesmas tecnologias.
dados + informação + conhecimento = acção
A
individualização dos dados permite:
·
Especificidades
fisiológicas;
·
Perfil em função do
posto específico;
·
Perfil real da
carga/resposta ao treino;
·
Optimizar, potenciar
e controlar a performance.
O
palestrante abordou ainda as investigações sobre lesões no desporto que mais
recentemente têm surgido na relação entre a carga e o retorno ao treino após
lesão nomeadamente no estudo da probabilidade do jogador se voltar a lesionar
outra vez.
Com
esta apresentação do homem da casa, deu-se por terminado este longo dia de
partilha de conhecimento futebolístico no III Congresso de Futebol do Núcleo de
Estudantes de Desporto da UTAD.