quinta-feira, 26 de maio de 2016

Jogador Talentoso e Jogador Experto: o que são? São o mesmo ou não são?

Quando nos reparamos com determinado jogador nos Jogos Desportivos Colectivos que apresenta qualidade e eficácia nas suas acções e comportamentos, tendemos logo a caracterizá-lo como talentoso ou experto. Por isso, não é qualquer jogador que é considerado dessa forma, estará sempre sujeito a algumas subjectividades de avaliação por parte de quem o julga. 

Infelizmente, ao longo da pesquisa efectuada não foi possível encontrarmos uma resposta conclusiva para ambas as perguntas. Desde logo pelo facto de as próprias definições de Talento e de Experto se coincidirem em muitos pontos. Por outro lado, o facto de existirem diferentes perspectivas quanto à formação dos jogadores talentosos e expertos nos JDC, provam a incerteza que ainda abunda nesta problemática, estando a perspectiva genética num dos extremos, a ambientalista no outro e a perspectiva de interacção entre o inato e o ambiental, no meio delas. (Costa, 2005).   

Abordando o conceito de Experto, vários investigadores, com especial incidência para os estudos de Janelle e Hillman, 2003, in Ericsson & Starkes, 2003, se debruçaram sobre o assunto e concluíram que existem características que são transversais a todos eles. Normalmente designados por “Domínios”, os expertos dominam a área “Cognitiva”, “Técnica”, “Emocional” e “Fisiológica”. De notar que esses domínios estão obviamente interligados uns com os outros e para se manifestarem precisam-se mutuamente. Além disso, esta corrente defende ainda a ligação muito estrita entre o Expertise e a prática, indo de encontro à ideia de que o Expertise é alcançável através de um processo de prática e aquisição que permita a aprendizagem e o desenvolvimento dos diferentes domínios (Costa, 2005).

Domínio Técnico - todo o jogador experto tem de dominar os mais variados recursos técnicos que lhe permitam ser funcionalmente eficaz nas suas acções e comportamentos em jogo, apresentando por isso um elevado grau de coordenação sensoriomotora (Dias, 2005).
O experto tem de dominar os seus recursos técnicos de uma forma contextualizada com o próprio jogo. Ou seja, para ser considerado tecnicamente experto nos JDC, o jogador não tem necessariamente de saber fazer muitos truques com a bola, do género dos malabaristas circenses ou dos “freestylers”. Tem é de saber resolver tecnicamente os vários problemas que vão surgindo ao longo do jogo, acolhendo em si um vasto leque de recursos que lhe permitam ultrapassar esses mesmos obstáculos.  
Esse mesmo domínio técnico é potenciado através da influência do treino. Pode-se afirmar que “o treino prolongado e sistemático promove o reconhecimento, a recordação e a retenção de modelos de movimentos coordenados, refinados e eficientes” (Janelle e Hillman, 2003). O treino permite aos expertos construir um conhecimento técnico-específico sobre o jogo. Esse conhecimento ajuda-os a realizarem as suas acções eficazmente de uma forma automática, que os jogadores não-expertos não conseguem. 
Domínio Cognitivo – todo o jogador experto terá de saber analisar e interpretar o jogo, percebendo quais as soluções mais adequadas para resolver os diferentes problemas que surgem. É através da especialidade neste Domínio que o jogador determina a melhor estratégia a utilizar na circunstância do jogo (Dias, 2005). 
São várias as capacidades que incorporam este domínio, como a tomada de decisão, a memória, a percepção e a antecipação, sendo por isso considerado o Domínio mais complexo nos JDC (Dias, 2005).
O Domínio Cognitivo alberga em si dois tipos de conhecimento específico: o declarativo, relacionado com “o que fazer”; e o conhecimento processual relacionado com o “como executar” (Dias, 2005). 
Segundo French & Thomas (1987) e McPherson & Thomas (1989, in Guilherme Oliveira, 2004: 63)  os expertos têm assim a capacidade de:
1. Reconhecer padrões de jogo com maior rapidez e precisão.
2. Detectar e localizar os aspectos mais relevantes que acontecem no seu campo visual, com maior rapidez e precisão.
3. Antecipar as acções dos adversários, baseando-se em pistas visuais, mais eficazmente.
4. Revelam um conhecimento superior em situações mais prováveis de acontecer.
5. As suas decisões tácticas são mais ajustadas à situação.
6. Têm um conhecimento declarativo (matérias específicas) e um conhecimento processual (acções) mais estruturado e aprofundado.
7. Possuem capacidades superiores de auto controlo.
Também ao nível da memória os expertos parecem estar mais evoluídos, já apresentam um nível mais completo e diferenciado, que lhes permite recuperar a informação de uma forma mais rápida e eficiente. 
Domínio Emocional – o experto, através da gestão emocional, tem a capacidade de seleccionar e direccionar a informação do jogo associando-a mesmo a estados positivos ou negativos.
Segundo Janelle & Hillman (2003) o domínio emocional está dividido em duas áreas: a regulação emocional (habilidade para influenciar e exercer algum controlo sobre a emoção) e as perícias psicológicas (factores que podem influenciar a prontidão emocional).
Segundo Filipa Dias (2005), a Emoção nos expertos atua e influencia positivamente ainda sobre: 
·         Aprendizagens e respectivos conhecimentos;
·         Memórias;
·         Tomada de decisão;
·         Concentração. 
Domínio Fisiológico – todos os jogadores só alcançam o expertise se fisiologicamente conseguirem responder às exigências top de determinado JDC. Contudo, o meio de alcance do expertise fisiológico suscita alguma discussão na comunidade científica.
Enquanto alguns investigadores como Wilmore & Costill (1991, in Janelle & Hillman, 2003) que, com excepção da altura do indivíduo, acreditam que factores morfológicos e tipos de fibras musculares podem sofrer alterações através de uma prática extensa e sistemática; outros fisiologistas do desporto defendem que os limites impostos ao jogador são geneticamente determinados.
Para muitos fisiologistas do desporto, existe então a ideia que um atleta estará pré-determinado a alcançar o top, já que terá condições fisiológicas para lá chegar. Para outros investigadores, o treino volta a ter um papel fundamental na melhoria das suas capacidades fisiológicas, dando importância à quantidade e qualidade do treino a que o jogador é sujeito.
Além disso, este domínio de expertise é quase exclusivo do desporto, já que noutras modalidades não tem qualquer relevância (Costa, 2005). 

Analisando agora o conceito de Talento que encontramos na literatura, vemos alguns pontos divergentes quanto à comparação com o conceito de experto, mas sobretudo vemos muitos pontos comuns com este.
Se no caso do Experto, o treino e a prática parecem ser os principais meios de alcance do expertise, no caso do Talento, o dom inato e a aptidão natural parecem influenciar bastante a definição deste conceito. 
Mesmo com esse “extra” genético e biológico, os indivíduos talentosos são predispostos a serem talentos mas não deixam de necessitar de estimular o seu talento para serem na realidade Talentos. Parece confuso, mas, como diz Garganta (2006) “antes de se submeter a um processo de treino, pode existir um talento, mas o jogador só existe depois disso”. É necessário existir, por isso, um processo de aprendizagem que permita ao talento-potencial ou talento-virtual ser talento-real.
O conceito de talento está assim mais ligado à perspectiva genética, nunca descurando o lado prático e treinável de si próprio. Como poderemos ver nesta abordagem de Garganta, os pressupostos que definem talento enquanto jogador de futebol são também eles balizados por quatro elementos, parecidos aos quatro domínios caracterizadores dos expertos:

• Habilidade técnica em velocidade; • Disponibilidade táctica • Eficiência orgânica e muscular: agilidade, velocidade, reacção rápida, rápidas mudanças de sentido e direcção; • Valor moral elevado: autocontrolo, coragem, autoconfiança, combatividade, carácter.

Dá-se ainda a devida importância onde o talento está a ser julgado. Ou seja, o talento estará sempre dependente da sua contextualização, levando-me mais uma vez a pensar na questão da subjectividade da avaliação de talento (tal como abordei no conceito de experto). O talento tem por isso de o ser de uma forma superior e demarcativa dos outros indivíduos (Moita, 2008). 

Tal como nem todos os grandes jogadores de elite são morfologicamente iguais, também nem todos os jogadores expertos apresentam o mesmo domínio dos Domínios, nem todo o talento o é em níveis diferentes de exigência e de competitividade. Assim, e muitas vezes condicionados pela sua funcionalidade no jogo, os expertos evidenciam diferentes níveis de qualidade cognitiva, técnica, emocional e fisiológica, tal como os talentos se mostram mais ou menos talentos conforme as exigências que lhes são impingidas (Dias, 2005).


É inclusive aceite, que mesmo quando um jogador apresente debilidades em determinado domínio de expertise ele não deixe de ser considerado experto ou talentoso, desde que à sua maneira tenha algo de diferente, especial, e de preferência qualitativamente superior que deva acrescentar ao jogo (Dias, 2005).

segunda-feira, 16 de maio de 2016

E se só se pudessem convocar para o Euro'2016 os que jogam em Portugal?

E se tal como acontece no African Nations Championship (conhecida como CHAN) existisse uma competição europeia de selecções onde apenas se pudessem levar os jogadores nacionais a actuar no próprio país?


Pois bem, pegando nessa possibilidade, e aproximando-nos do Euro’2016, resolvemos sugerir o nosso 23, tendo em conta este cenário hipotético.


Em primeiro lugar é importante balizarmos o nosso jogar para melhor se compreender as nossas escolhas.


            Organização ofensiva:
•          Posse e circulação de bola em W’s;
•   Promover ao mesmo tempo uma posse de bola paciente (zona defensiva e intermédia) e de risco (zona ofensiva);
•         Posicionamento dinâmico em diferentes linhas de largura e profundidade, com vários jogadores na zona da bola.

Transição ataque-defesa:
•          Mudança rápida de atitude ofensiva para defensiva;
•          Pressionar rápido o portador da bola, impedindo a progressão da bola.

Organização defensiva:
•          Defesa à zona pressionante com privilégio sobre o corredor central;
•          Linhas subidas;
•          Valorização das coberturas defensivas ao jogador que pressiona.

Transição defesa-ataque
•          1º passe em segurança e 2º passe de progressão;
•          Abrir linhas em profundidade mas principalmente em largura.
 
Os critérios da nossa escolha seriam os seguintes, tendo que ser vistos de forma não-linear, interrelacionando-se entre si:
·       Qualidade do jogador – competências demonstradas nas diferentes sub-dimensões do jogo;
·        Perfil de competitividade – qualidade demonstrada em contextos de exigência top;
·     Existência de lesões – condicionante desfavorável à chamada de jogadores para este tipo de competições.

Assim, e começando obviamente pela baliza as nossas escolhas recairiam pelo Rui Patrício (Sporting CP), por Carlos Marafona (SC Braga) e por Ricardo Nunes (Vitória Setúbal).

Rui Patrício – com uma qualidade interessante entre os postes e um bom posicionamento na baliza, não é por acaso que os adeptos leoninos lhe chamam São Patrício. Constantemente criticado pelos adeptos adversários pelos erros cometidos é muitas vezes subvalorizado nas suas boas exibições.  

Carlos Marafona – uma das surpresas da Liga NOS que conseguiu fixar-se na competitiva baliza do Sporting de Braga. Bastante comunicativo, com uma postura sóbria e segura na baliza, não tremeu ao sair do Paços de Ferreira para o SC Braga no “mercado” do Janeiro.

Ricardo Nunes – não é por acaso que é considerado por muitos o melhor guarda-redes português a actuar fora dos três grandes. Com 33 anos, Ricardo faz valer da sua boa experiência e da consolidação das suas competências ao serviço da Académica e do FC Porto. A sua concentração, sentido posicional e segurança entre os portes são mais-valias para o grupo.

Para laterais esquerdos levaríamos Hélder Lopes (Paços Ferreira) e Eliseu (SL Benfica).

Hélder Lopes – lateral de propensão ofensiva, é um destaques desta delicada posição do campo, a nível nacional. Tem crescido muito – defende cada vez melhor – e seria bastante interessante vê-lo jogar numa equipa mais regularmente competitiva.

Eliseu – jogador importante pela sua experiência. Forte a atacar e a dar profundidade pelo lado esquerdo, está moralizado pelo que conseguiu nas duas épocas ao serviço do Benfica.

No eixo defensivo, levaríamos Paulo Oliveira e Rúben Semedo (Sporting CP), Ricardo Ferreira (SC Braga) e Yohan Tavares (Estoril).

Paulo Oliveira – muito forte tacticamente na leitura do jogo. Exímio no desarme e na antecipação, faz da eficácia do seu comportamento defensivo a sua maior arma. Já quando a bola lhe chega aos pés, ganha outra classe.

Rúben Semedo – defesa central com um desenvolvimento muito interessante no eixo da defesa que aproveitou muito bem o seu empréstimo ao Vitória de Setúbal. Forte, principalmente, no jogo aéreo, no desarme e na antecipação, tem uma perna longa que lhe permite recuperar bolas quando parecem perdidas.

Ricardo Ferreira – o pilar defensivo do SC Braga. Sempre muito concentrado e assertivo a defender, sente-se ainda bastante confortável com a bola nos pés permitindo-lhe ter um papel importante na primeira fase de construção da equipa.

Yohan Tavares – sempre muito concentrado, inteligente no posicionamento, forte no desarme e na antecipação, o luso-francês é dos jogadores mais valiosos da sua equipa. Capitão no seu Estoril, tacticamente é dos melhores centrais do campeonato.

Completando a linha defensiva com os defesas-direitos os nossos nomes seriam os de João Pereira (Sporting CP) e de André Almeida (SL Benfica).

João Pereira – outro jogador bastante experiente que ainda tem qualidade para oferecer ao futebol nacional. Extremamente agressivo, mas de uma forma mais positiva do que há alguns anos atrás, João Pereira evoluiu o seu comportamento defensivo colectivo, sabendo defender cada vez mais e melhor.

André Almeida –  no seu ano de consagração enquanto defesa-direito, o André foi muito forte nos(as) jogos/fases importantes da época, batendo-se muito bem nos duelos contra excelentes avançados. O jogador cresceu muito no seu posicionamento, em especial na sua relação com o defesa-central do seu lado.

Passando para o meio-campo e começando pelos pivots-defensivos as escolhas cairiam sobre William Carvalho (Sporting CP) e Danilo Pereira (FC Porto).

William Carvalho – um dos melhores do nosso campeonato e um dos melhores do mundo na posição 6. Embora pareça por vezes um jogador sofrido, William é dos jogadores mais eficazes a defender, atacar e transitar, no nosso campeonato. Excelente tomada de decisão, acompanhada por uma excelente qualidade de passe (até no tão questionável passe vertical), o William encaixaria perfeitamente no nosso modelo de jogo. Até enquanto líder.  

Danilo Pereira – outro excelente número 6 do nosso campeonato – que pode também jogar a defesa-central ou até na posição 8 – encaixaria também muito bem nas suas tarefas defensivas e construtivas do nosso modelo de jogo. Muito voluntarioso e concentrado, poderá faltar-lhe alguma regularidade no momento em que tem bola para ser um jogador ainda mais top.

Para a dupla de médios estruturados à frente dos pivots, chamaríamos Adrien Silva e João Mário (Sporting CP), Rúben Neves (FC Porto) e Renato Sanches (SL Benfica).

Adrien Silva – o capitão do Sporting CP acaba a época como um dos melhores médios da Europa. Agressivo a defender e inteligente a atacar, tem muito futebol nos pés, jogando (em termos individuais) e fazendo jogar (o colectivo) como poucos.

João Mário – provavelmente o jogador mais completo do nosso campeonato. Qualidade de passe (10 assistências na Liga NOS) e recepção, tomada de decisão, leitura de jogo, desarme, intensidade, o João tem tudo isso a top mundial, com apenas 23 anos.

Rúben Neves – um dos jogadores mais interessantes do FC Porto, da Liga NOS e dos que tem mais potencial a nível internacional. Curiosidade ou não (definitivamente achamos que não), quando o Rúben Neves está em campo, a qualidade de jogo do FC Porto é muito melhor do que sem ele. Muito disso fruto da sua extrema competência táctica e decisões tomadas quando a bola lhe está nos pés.

Renato Sanches – também com um potencial tremendo, o Renato tem tudo para vir a ser dos melhores médios-centro do mundo. Consegue aplicar as suas características táctico-físicas de uma forma muito intensa que às vezes até pecam por excesso. Com um bocadinho mais de estabilidade emocional e táctica seria pesa fulcral em qualquer plantel do mundo.

Para o ataque, e começando nas alas, Rafa Silva (SC Braga), André Claro (Vitória Setúbal), Diogo Jota (Paços de Ferreira) e Gelson Martins (Sporting CP) seriam as nossas escolhas.

Rafa Silva – talvez, o jogador mais interessante fora dos “três grandes” do futebol português. Jogador que tanto cativa por dentro como por fora é dos mais habilidosos do campeonato e faz do drible (em velocidade) a sua maior arma.

André Claro – o extremo do Vitória de Setúbal foi o jogador mais regular e influente da sua equipa. Com 13 golos marcados em quase 40 jogos realizados, tal como a sua equipa, também ele se foi abaixo na parte final da temporada. Muito evoluído na dimensão táctico-técnica do jogo, cabe-lhe ser mais regular nas suas performances para crescer ainda mais como jogador.  

Diogo Jota – com 14 golos marcados na sua primeira época de futebol profissional, este prodígio encantou de tal maneira os adeptos de futebol que o Atlético de Madrid já o recrutou. Pode desempenhar diferentes posições no ataque da equipa, consegue ser um bom rompedor tanto por dentro como por fora.  

Gelson Martins – jovem em crescendo no Sporting CP, o esguio Gelson Martins cativa em todos os duelos 1v1, jogando na sua equipa como se estivesse a jogar na rua. Com o desenvolvimento do seu jogo colectivo, acaba a época no Sporting, com um papel bastante importante.

Já para PL, Hélder Postiga (Rio Ave) e Bruno Moreira (Paços de Ferreira) seriam os nossos  nomes.

Hélder Postiga – o seu recente momento de forma no Rio Ave, faz dele um dos jogadores mais influentes nesta fase final do campeonato. Não é tão eficaz como se desejaria, mas a sua experiência e qualidade são das melhores que temos em Portugal, para esta posição.


Bruno Moreira – o melhor marcador português do campeonato teria de fazer parte das contas. Com 18 golos marcados em 33 jogos na presente temporada, o Bruno mostrou uma extraordinária inteligência posicional nos espaços curtos e próximos da baliza, fazendo movimentos muito inteligentes e criativos na procura de espaço-tempo para finalizar.  

sexta-feira, 13 de maio de 2016

O Conto de Fadas do Leicester City - do Recrutamento à Crioterapia



Contra todas as expectativas, o Leicester City foi campeão! Por aqui, não somos muito crentes em acasos, por isso fomos tentar saber um pouco mais sobre este “conto-de-fadas” que são os Foxes…





Modelo de Jogo

Para entendermos melhor o sucesso desta equipa dentro de campo, é importante esclarecer e caracterizar o jogar deste Leicester. Equipa balizada por princípios de jogo assentes numa rígida e disciplinada organização defensiva, bastante pressionante e agressiva que tenta aproveitar através de rápidas transições ofensivas qualquer espaço desnecessariamente criado pelo seu adversário.
Com uma sobrevalorização da dimensão física, o Leicester procurou apresentar sempre uma intensidade e velocidade muito altas no seu processo ofensivo, caracterizado como foi dito acima por contra-ataques.
Com uma eficácia e eficiência brutal, estes princípios foram extraordinariamente exponenciados pelos seus belos jogadores, conseguindo, segundo dados da Opta, serem a equipa que mais contra-ataques realizou, e também a equipa com mais golos marcados por contra-ataque que qualquer outra.
Não é um acaso que Jamie Vardy - o jogador dos contos-de-fadas que é esta equipa de conto-de-fadas - tenha sido o jogador mais rápido da Premier League, ao atingir os 35.44 km/h com uma média de 500 sprints por jogo.


Metodologia de Treino

Das várias áreas de trabalho que se têm destacado no Leicester, a metodologia de treino não tem sido a das mais abordadas. Contudo, e tendo em conta que os Foxes alcançaram a glória com uma organização (defensiva, claro) tão eficaz e com uma intensidade tão elevada, sem com isso mostrar um número significativo de lesões, os métodos de treino de Ranieri e companhia deveriam ser mais e melhor valorizados.
Em entrevista ao “Corrieri della Sera”, Ranieri expõe algum do seu trabalho diário no clube.
“Eu acredito no treino, e pode parecer uma heresia em Itália, mas acho que é tudo relativo.”
“Os meus jogadores estão a treinar muito, mas não muitas vezes na semana. Na Inglaterra, o jogo é sempre de alta intensidade e desgasta os atletas. Eles precisam de mais tempo para se recuperar. Nós jogamos no sábado e o domingo é de folga. A segunda-feira é de treino leve. Na terça, é treino pesado e, na quarta, descanso total. Na quinta, outro treino pesado, enquanto a sexta é preparação para o jogo de sábado”.
“Faço questão que os jogadores tenham, pelo menos, dois dias de folga na semana. Esse é o pacto que eu fiz com o plantel no primeiro dia: eu confio em ti. Eu explico algumas ideias sobre futebol uma vez ou outra, contando que tu me dês tudo o que tens”.
“Quando eles treinam, eles colocam a mesma intensidade quando jogam uma partida. Eu nunca precisei dar bronca em ninguém por ser preguiçoso”.
“O treino físico não é importante em Inglaterra, já que eles treino com uma intensidade tão grande e são competitivos até quando têm de fazer um sprint. Os próprios jogos são muito exigentes. Os jogadores têm de recuperar primeiro, e treinar depois.”
Para entendermos ainda melhor o treino dos Foxes, e continuando a pegar no que é a Premier League, e sobretudo o que é o jogar do Leicester, é importante valorizar o trabalho diário da sua equipa técnica, especificamente no que reporta à melhoria da performance motora com o devido acautelamento do aparecimento de lesões.
Existe uma preocupação extrema nos técnicos do Leicester para que os seus jogadores sejam capazes de realizar sprints de uma forma regular sem que os seus corpos sofram com esse comportamento. Por isso, o foco do “treino físico” é desenvolvimento dos níveis de força nos músculos isquiotibiais  com a utilização de uma prensa feita à medida com pesos entre os 350-500kg; e a utilização do equipamento NordBord que permite melhoria e monitorização da força dos isquiotibiais, mesmo em exercícios pós-jogo.
No final da semana, e próximos do dia de jogo, os jogadores fazem exercícios de sprint, a fim de expô-los a velocidades máximas. Matt Reeves, preparador físico da equipa, afirmou num podcast no início desta temporada que: "dados de GPS mostraram-nos que, apesar de jogarmos em áreas maiores para permitir aos jogadores alcançarem velocidades maiores, isso não aconteceu. Um defesa-central pode conseguir fazê-lo, mas fora esse jogador, os outros têm falta de exposição a velocidades máximas.
 Às quintas-feiras, no final do treino, os jogadores são expostos a realizar sprints de 40m, com elevados níveis de fadiga. Este exercício tem como objectivo melhorar a preparação dos jogadores para a prevenção de lesões, já que sem a exposição a esses sprints os jogadores têm um risco maior do aparecimento de lesões nos dias de jogo.
Até sumo de beterraba foi utilizado no processo já que segundo cientistas da Universidade de Exeter, melhora a performance do sprint e a tomada de decisão, mesmo que em “apenas” 3.5%.


Crioterapia

Para além de terem alcançado o título de campeões, o Leicester é também pioneiro na utilização da Crioterapia, no tratamento de lesões. Os Foxes adquiriram uma câmara CryoAction Whole Body Cryotherapy usada para recuperação e reabilitação de jogadores desde a equipa principal até aos mais novos da sua academia.
A câmara foi desenhada para o clube e permite o tratamento de três jogadores de cada vez, chegando a alcançar ciclos de três minutos a temperaturas de 140°C negativos.
A crioterapia funciona pelo arrefecimento da superfície da pele e dos tecidos subjacentes com ar arrefecido usando azoto líquido - um processo supervisionado por pessoal médico. Este processo faz com que haja o estreitamento dos vasos sanguíneos contrariando a inflamação, desencadeando uma resposta biológica do tecido e das células às lesões e danos celulares.
O tratamento pode durar até quatro minutos e é realizado a temperaturas tão baixas como -140°C, para promover a redução do impacto sobre as lesões dos tecidos moles. Na câmara, os jogadores podem ser tratados pelas lesões dos tecidos moles, bem como à fadiga de jogo e de jogo e aos efeitos do cansaço das viagens. Os corpos dos jogadores reagem ao frio extremo com uma reacção natural chamado vasoconstrição.


Plantel

Até à Jornada 36, momento em que alcançaram o título, os Foxes “apenas” apresentaram em campo 23 jogadores.
Com as saídas por empréstimo de Kramaric, Benalouane e Ritchie De Laet, e juntando-se-lhes os nomes dos guarda-redes Mark Schwarzer e Bem Hamer, que até à data ainda não contabilizavam nenhum minuto, eram apenas 22 os jogadores do plantel principal do Leicester – sem contar com as chamadas esporádicas dos Sub21.
Dos 23 jogadores que jogaram apenas 17 fizeram mais do que 180min. Ou seja, muitos não somaram minutos para fazer sequer 2 jogos. Nestas condições o Arsenal, Chelsea e o Man. City tiveram 22 jogadores utilizados, o Man. United teve 25 e o Liverpool 26. É também curioso verificar que o outro outsider do campeonato, o Tottenham, apenas tenha utilizado 18 jogadores que tenham realizado mais de 180min.
Estes valores permitem reflectir sobre diferentes parâmetros da operacionalização do processo de treino e, principalmente, de competição. Onde entram aqui os conceitos de rotatividade, de fadiga ou de dinâmicas?     


Recrutamento

Dos 22 jogadores do plantel principal que finalizaram a época, 7 são novos jogadores, sendo que do XI inicial padrão constaram os nomes dos reforços N’Golo Kanté, Fuchs e Okazaki. Valores que não fogem à norma de outros clubes da Premier League.
No entanto, a diferença entre o departamento de Scouting do Leicester e do dos maiores clubes da Premier League prende-se com a eficácia das suas contratações a tão baixo custo.
O Departamento de Recrutamento é liderado por Steve Walsh, que acumula o cargo de treinador-adjunto de Claudio Ranieri. Embora o nome do scout Ben Wrigglesworth seja dos mais referenciado pelos media e comentadores desportivos, terá sido Steve Walsh o grande responsável pelas contratações de jogadores como Mahrez ou Kanté. Gary Lineker, antiga glória do clube e da selecção inglesa, diz mesmo que o Arsenal contratou “a pessoa errada”, falando no nome de Ben Wrigglesworth, que se transferiu em Fevereiro do Leicester para os Gunners. Recorde-se que Steve Walsh já trabalhou com José Mourinho e André Villas-Boas no Chelsea, na altura responsável pelo scouting de jogadores na Europa.
Para termos uma noção do que foi a valorização dos “activos” do Leicester, e falando dos três jogadores mais valiosos do plantel, temos os seguintes casos, avaliados pelo site Trasnfermarkt: Mahrez de 500 mil € para 20milhões €; Vardy de 1,24 mil € para 12milhões €; e Kanté de 4,5milhões € para 10milhões €. E com uma avaliação feita a 6 de Fevereiro de 2016…
Citando o Dailymail, a metodologia de trabalho do scouting de jogadores é a seguinte:
“Walsh trabalha em estreita colaboração com David Mills, scout-chefe do clube, que recebem informações sobre os jogadores da equipe de scouts do terreno, bem da análise de vídeo a partir do software Wyscout, uma empresa que contém milhares de jogos em todo o mundo. Agentes de confiança ​​também desempenham um papel significativo na recomendação de jogadores que possam corresponder à equipa do Leicester.
Em primeiro lugar, o staff técnico identifica a posição e estilo de jogo desejados, e, em seguida, faz-se uma lista de opções elaborada com base no na possibilidade financeira previsível em qualquer negócio.
Também importante, aliada a todas as chamadas feitas ao longo deste processo é a apreciação das estatísticas; é trabalho de algum responsável alguém triturar de forma forense os números de qualquer jogador. Pense-se nas ocasiões de golo criadas por minutos, distância percorrida e velocidade atingida, bolas recuperadas, além de muitas outras variáveis.
O responsável por muito do bom trabalho nesse sentido foi Rob Mackenzie, chefe do scouting técnico do clube até o Tottenham Hotspur o ter contratado em fevereiro deste ano. Posteriormente o assistente Ben Wrigglesworth foi nomeado para o seu lugar, um papel impressionante para um jovem de apenas 24 anos de idade.”


Estatística

Dos 64 golos marcados pela equipa, que fez do seu ataque o 3 mais concretizador, apenas dois golos foram concretizados fora da área. Quase 1/3 desses golos apareceu na consequência da marcação de bolas paradas com o maior número da prova, 9, no que toca a grandes penalidades concretizadas.
Outro dado estatístico sobre os golos marcados e sofridos pela equipa é o facto de o Leicester ser das equipas que mais marcou e sofreu golos nos últimos 10min das partidas, numa contagem de 13-10, respectivamente.
Apenas por 5 vezes, o Leicester teve mais posse de bola que o seu adversário, sendo que por duas dessas vezes foi contra o WBA – a equipa da Premier League com a pior média deste parâmetro. Com uma média de 46% de posse de bola, o Leicester ficou no 18º lugar desta classificação da Premier League. Os Foxes estão ainda nesse lugar na contabilização dos passes realizados: 11.956. Pior ficam na percentagem de precisão de passe, em que apenas são assertivos em 71% dos passes – 19º lugar.
Relativamente aos duelos, é também interessante constatarmos que o Leicester tem a 3ª melhor percentagem de tackles eficazes, com 44%. Contudo, nos duelos aéreos, a equipa apresenta a pior média da Premier League – 42%.
Sobre a prestação defensiva, e tal como se esperava, os resultados são dos melhores da Premier League: maior quantidade de intercepções (783); 3º melhor resultado nos bloqueios a remates (149); 3º melhor resultado nos alívios (1.152).
Também sobre os erros defensivos, os Foxes foram os que menos erros cometeram no campeonato, onde em apenas 1 dos erros originou 1 golo sofrido.
Por fim, e no que toca à disciplina, os jogadores do Leicester foram dos mais cumpridores. “Apenas” 54 cartões (51 amarelos + 3 vermelhos) comparativamente com o Aston Villa com 77.  


A época foi (é) demasiadamente extensa para que tivesse sido um êxito acidental. No texto anterior tentámos partilhar aquilo que fomos conseguindo absorver do “porquê” do Leicester campeão. Tal como a temporada, também o sucesso é demasiadamente complexo para se tentar explicar de forma linear. Contudo, uma certeza parece existir. A de que Ranieri e companhia foram campeões com enorme justeza. Quer se tenha gostado do seu jogar, ou não…

Fontes:

terça-feira, 3 de maio de 2016

Apontamentos do III Congresso de Futebol da UTAD

No passado dia 11 de Abril teve lugar na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro o 3º Congresso de Futebol. O evento, organizado pelo Núcleo de Estudantes de Desporto da UTAD, contou com a participação de vários intervenientes, das mais diversas áreas específicas do Futebol.

Foram palestrantes Alexandre Monteiro (Coaching Desportivo); Rui Tomé, Bruno Freitas, Tiago Fernandes e Gilberto Freitas (Formação de Elite); António Oliveira (O Treinador e os Diferentes Contextos); Rui Lança (O Treinador e a Equipa – Liderança); Vítor Maçãs (Organização Ofensiva – Prático); Francisco Neto (Desenvolvimento do Futebol Feminino); Daúto Faquirá, Vítor Oliveira e Luís Castro (Estruturação e Preparação de uma Equipa); Carlos Soares (O Calendário Desportivo como Meio de Melhoria da Modalidade); André Ribeiro, Rui Malheiro e Ricardo Damas (Scouting – Equipas/Jogadores O que Ver/Como Aplicar); e Bruno Gonçalves (Apresentação dos Resultados Obtidos por GPS).     

Coaching Desportivo - Alexandre Monteiro

Por motivos superiores não nos foi possível chegarmos a tempo de assistir na totalidade à apresentação deste primeiro palestrante.
Contudo, pelo que nos foi possível aperceber, Alexandre Monteiro abordou, sobretudo, a utilização da Linguagem Corporal no modo de actuação do Treinador. Essa é mesmo a sua área de especialização tendo sidos apresentados alguns detalhes comportamentais que ajudam os treinadores a serem mais fortes no seu processo comunicacional e motivacional.

Formação de Elite (Mesa Redonda) – Rui Tomé, Bruno Freitas, Tiago Fernandes e Gilberto Freitas

Com esta Mesa Redonda podemos ficar a conhecer mais e melhor o processo de operacionalização de quatro equipas de Top nacional. Rui Tomé a representar a equipa Sub19 do SC Braga, Bruno Freitas a abordar as suas ideias dos Sub13 do SL Benfica, Tiago Fernandes a dar o seu exemplo dos Sub19 do Sporting CP e Gilberto Freitas a expor o seu trabalho dos Sub15 do Vitória SC.
Tentámos “beber” o máximo de informação de cada um dos intervenientes pelo que tentaremos apresentar aquilo que cada um foi dizendo acerca da sua postura perante o processo de formação assim como a do clube que representam.

Rui Tomé (SC Braga):
·         Existe uma intervenção sobre o lado humano com cuidados especiais para os que não chegam ao top.
·         Embora muitas vezes se confunda, é muito importante distinguir Competitividade de Competição. Podem parecer sinónimos mas estão relacionados com posturas sobre o processo bastante diferentes. No clube, pretende-se criar altos padrões de competitividade, que promovam um desenvolvimento saudável na relação entre a Aprendizagem e o Resultado; já a competição é encarada, maior parte das vezes, como um elemento nocivo ao processo de aprendizagem dos jogadores, corroendo-os e aos seus encarregados de educação.
·         Fará sentido criar a mesma estrutura posicional para todas as equipas da formação? Pode-se ter a propensão de Jogar com os mesmos princípios manifestando diferentes “formas” (leia-se estruturas).
·         Julian Draxler (habilidoso extremo alemão de 22 anos) jogou uma época durante os escalões de formação na posição “6” para sentir e aprender a interpretar o que o jogador dessa posição “sofre” quando o extremo perde a bola. São diferentes estratégias para tentar desenvolver o jogador.
·         Um outro exemplo é o de Diogo Capel, outrora apontado como um dos jogadores com mais potencial do mundo. Com o intuito de valorizar a diversidade de posições/funções em campo, não seria interessante o espanhol ter experimentado jogar em posições mais interiores dadas as diferenças das dinâmicas e constrangimentos espácio-temporais?
·         No Braga, foi contratado o João Tomás para trabalhar de forma mais eficiente os Pontas de Lança, normalmente com um treino semanal. Com isso, não se faz um treino analítico mas um treino orientado para o detalhe específico da posição. Acredita-se que é possível criar um PL, ficando o trabalho facilitado se existirem bons modelos sociais de PL, o que, neste momento, não é o caso do Éder.
·         Sobre o processo comunicacional e o tipo de feedbacks utilizado no treino, tenta-se que os constrangimentos do exercício não sejam demasiadamente difíceis e que os feedbacks sejam orientados para a dimensão emocional reforçando-se positivamente o jogador.
          
Bruno Freitas (SL Benfica):
·         No clube, tenta-se ajudar os pais a gerir as expectativas dos filhos (para além das expectativas criadas pelos próprios jovens jogadores), “ensinando” os pais a lidar com o fracasso. Daí, haver também um acompanhamento muito forte nas áreas da formação académica e social do indivíduo. Pretende-se mostrar a diferença de processos entre a Formação e a Alta Competição.
·         Salvo muito raras excepções, o “individual” não se promove sem um bom “colectivo”. Quando o colectivo rende, o individual tem tudo para emergir e evoluir.
·         Os conceitos de Especialização e de Diversificação são conceitos confusos e que muitas vezes são mal interpretados e/ou utilizados, não tendo necessariamente a ver com posições em campo mas antes com liberdades e funções a desempenhar pelo jogador.
·         Quando é que a criança joga futebol, hoje em dia? Pelas condições socioculturais actuais, a criança não joga na rua nem na escola, e cada vez menos ela joga no clube, fruto da metodologia de treino adoptada por determinados clubes e/ou treinadores! É fulcral mudar este paradigma!
·         Fazemos “mea culpa” no processo de formação ao não reconhecermos a lacuna que existe na qualidade demonstrada pelos Pontas de Lanças. As limitações são evidentes. Ao mesmo tempo, todos temos de reflectir quando tentamos responder à seguinte pergunta: o que é mais valorizado, “encostar” de bico para a baliza e fazer o golo ou fintar o guarda-redes com uma finta habilidosa e falhar?
·         Orientação dos constrangimentos dos exercícios para o desenvolvimento de um Jogar. Utilização da dimensão competitiva como punição da derrota – p. e. quem perde arruma o material. Ainda sobre o feedback, deixa-se errar algumas vezes para que eles tentem interpretar o erro, e só quando este se torna sistemático é que se interfere.
·         A multidisciplinaridade desportiva pode ser favorável ao crescimento das competências motoras, mas também existem exemplos de quem chegou muito longe a top sem ter experimentado diferentes modalidades desportivas.

Tiago Fernandes (Sporting CP):
·         A prioridade do processo é o desenvolvimento do jogador. Colá-lo na equipa A e/ou na B. É desejo do clube formar o máximo de jogadores que sejam competentes para jogar nas equipas profissionais. Nesse sentido, existe um foco muito grande dirigido ao grupo de jogadores de elite.
·         O colectivo forte é um contexto mais estimulante e profícuo para o desenvolvimento do jogador. Com essa preocupação, quando se está a gerir um talento, o maior erro que se pode cometer é dando-lhe “palmadinhas nas costas” e dizendo-lhe que é um crack (ou seja, tirando-o da noção colectiva da Aprendizagem).
·         O Cédric (antigo jogador do Sporting) foi médio durante todo o seu processo de formação. Tentar gerir a sua cabeça e a do seu encarregado de educação foi o mais difícil para tentar fazer ver a ambos que o seu futuro profissional era facilitado com a sua passagem para defesa-direito. 
·         No clube, dá-se imensa importância à mentalidade de um jogador de formação para se adaptar à adversidade.
·         A evolução do futebol tendeu a que o Ponta de Lança não tenha a preponderância que tinha outrora. No futebol de formação, estamos a formatar muito o 1x4x3x3 em que o avançado não tem muito a bola nem grande importância para o Jogar da equipa.
·         Para o desenvolvimento do jogador, é relevante que exista uma preparação do próprio para ser emprestado. Nesse caso, se for bom ele “chega e assume”!
·         Relativamente ao PL – no Sporting também existe um trabalho individual para esta “posição” – é indispensável que se oriente o processo de treino para a repetição de dinâmicas abertas para o desenvolvimento individual do jogador.
·         Na pré-época o quadro competitivo foi composto por 10 jogos contra equipas do CNS, tentando-se promover um elevado grau de exigência.
·         O próprio tira ideias do Basquetebol e do Futsal para as aplicar no jogo da equipa, em especial nos esquemas táticos.

Gilberto Freitas (Vitória SC):
·         Mais do que ganhar, deseja-se Formar – potenciando o individual dentro do colectivo. É preocupação tentar potenciar capacidades e qualidades que ainda vão aparecer no desenvolvimento desportivo e maturacional dos jogadores.
·         O Talento (ou jogador talentoso) desenvolve-se mais em contextos mais complexos. Assim, um Modelo de Jogo que seja mais exigente nos Princípios potencia o aparecimento de jogadores mais complexos.  
·         O desenvolvimento do jogador pode ser favorável quando o contexto permite a experimentação de outras posições em campo. Casos recentes no Vitória em que jogadores que jogam a determinada posição no clube são convocados à selecção nacional para jogarem noutras posições.
·         É muito mau criar rótulos aos jogadores. Ser o “novo Ronaldo” ou “novo Messi” pode ser muito prejudicial para o processo de Aprendizagem do jogador. Nesse aspecto, os empresários poderão ser muito nefastos com os seus feedbacks e juízos de valor.
·         Nas idades mais precoces da formação é importantíssimo haver um contacto com outras modalidades desportivas. No Vitória existe um caso muito interessante de prática multidesportiva que favoreceu o seu desenvolvimento como jogador, levando-o mesmo a chegar à selecção nacional Sub16 – André Almeida.

O Treinador e os Diferentes Contextos - António Oliveira

O treinador António começou por fazer uma breve apresentação do seu currículo, abordando a sua carreira como jogador – passagens por Benfica, Braga, Santa Clara e Oriental – e como treinador – adjunto do Tractor, do Irão, e adjunto da equipa sub19 da AD Oeiras.
O treinador António Oliveira considera que a CULTURA deva ser a base que sustenta do trabalho do treinador no estrangeiro, sendo que é a CULTURA que o ajuda a definir:
·         o Modelo de Jogo;
·         o Modelo de Treino;
·         o Modelo de Comunicação;
·         o Modelo de Observação.
Assim, António Oliveira considera pertinente que o Treinador, quando está no estrangeiro, seja um pleno conhecedor do País para onde vá exercer a sua profissão, conhecendo exaustivamente o contexto sociopolítico, a língua, a cultura desportiva, os hábitos alimentares, os costumes religiosos, os adeptos, a vida social e a formação dos seus habitantes – no caso jogadores.

·         Modelo de Jogo
Organização + Compromisso + Concentração + Confiança = Sucesso
Abordagem aos grandes princípios do Modelo de Jogo:
o   disposição dos jogadores em campo,
o   1ª e 2ª fases de construção,
o   lado fraco e lado forte,
o   linha defensiva em função da bola,
o   bola aberta vs bola fechada.

·         Modelo de Treino
Muita dificuldade foi encontrada na operacionalização dos exercícios, sobretudo no que se refere às exigências relativas à complexidade dos mesmos.
Devido também a algumas carências de ordem tático-técnica, chegou-se a utilizar o treino analítico para ensino de alguns comportamentos individuais.
Tendo em conta a experiência a sua experiência no Tractor, António Oliveira “mostrou” o Plano Anual de Trabalho da equipa, assim como o Microciclo Padrão, exemplos das Sessões de Treino e do Controlo das mesmas.

·         Modelo de Observação
Neste capítulo, António Oliveira falou sobre o processo de Observação e Análise das equipas adversárias, explicando, as muitas dificuldades que existem na recolha de dados sobre as diferentes equipas do campeonato.
Foi abordado o Relatório de Scouting do adversário, em que se dá um ênfase especial aos Pontos (Comportamentos e Jogadores) Chave do processo ofensivo e defensivo do adversário; ao Processo Competitivo – referente à análise descritiva da equipa; à evolução da própria equipa; e à estatística comparativa.


O Treinador e a Equipa – Liderança - Rui Lança

O palestrante iniciou a sua apresentação com uma série de referências académicas acerca da definição de Liderança.
Assim, podemos considerar a Liderança e as suas diferentes Dinâmicas como o processo inter-relacional e comunicacional que existe entre o Treinador, os Atletas, o Contexto e uma Inteligência Colectiva que define o grupo e a equipa.
O investigador referiu-se também ao seu trabalho académico de doutoramento em que entrevistou doze treinadores campeões nacionais em diferentes modalidades desportivas, procurando encontrar um padrão comum de comportamentos de excelência. No seu estudo, e através da relação entre a literatura e as entrevistas realizadas, constituíram-se quatro dimensões que são consideradas fulcrais para “justificar” o sucesso, sendo elas:
·         A liderança;
·         As acções do treinador;
·         A equipa técnica;
·         As relações.
Uma outra conclusão da sua investigação, foi a de que não existem perfis mais correctos do que outros para se ser um treinador campeão. Dessa forma, não importa tanto o que o treinador faz mas sim como o faz. Rui Lança destacou também os canais comunicacionais que se criam na passagem da mensagem que o treinador pretende. Muitas vezes, o treinador tem que utilizar estratégias indirectas para se fazer expressar, deixando que “outros” o façam por si (p. e. o capitão, o adjunto, um colega de equipa).
Embora Rui Lança não considere que não exista um “Perfil de Campeão”, ele considera  os seguintes denominadores comuns dos campeões:
Adaptabilidade                                Flexíveis                               Paixão
Genuíno                                           Actor                                      Tudo e todo
O outro                                              Introspecção                        Consequências
Tudo em função de um Colectivo

Essencial
O que faço                                       O que penso                                    O que sinto

Fundamental
O que gostaria de fazer
O que gostaria de pensar
O que gostaria de sentir


Organização Ofensiva – Prático - Vítor Maçãs

Na única apresentação prática do Congresso, tivemos o prazer de assistir a uma sessão de treino “oferecida” pelo Prof. Dr. Vítor Maçãs, em conjunto com os alunos da associação de estudantes da UTAD.
Com o objectivo fundamental de treino a passar pela Organização Ofensiva, o professor e treinador Vítor Maçãs estruturou o treino basicamente em duas partes.
Na primeira, foi realizado um exercício de passe em estrutura: Y e Y invertido, em que foram trabalhadas algumas dinâmicas comportamentais por parte dos jogadores. O exercício foi realizado primeiro sem oposição e depois com oposição, em que cada adversário estava circunscrito a determinada zona, fazendo uma oposição passiva.
Na segunda fase, assistimos a um jogo condicionado de GR+9x9+GR com oposição passiva em que se tentaram recriar as dinâmicas do exercício anterior, sobretudo nos corredores centrais, em qua apenas os médios interiores, os extremos e os laterias poderia tocar na bola. Após algum tempo, o jogo deixou de ter as condicionantes, tentando-se trabalhar os mesmo princípios da organização ofensiva de forma mais aberta.
Foi interessante assistirmos às instruções do professor, bastante activo e correctivo nos seus feedbacks, não sabendo, no entanto, se tal comportamento é o habitual de Vítor Maçãs.  


Desenvolvimento do Futebol Feminino  - Francisco Neto

O seleccionador nacional feminino começou a sua comunicação fazendo uma breve apresentação do organograma do Futebol Feminino nacional, no que à estrutura da Federação Portuguesa de Futebol diz respeito. Francisco Neto apresentou as equipas AA, Sub19, Sub17 e Sub16 nacionais, assim como as suas equipas técnicas.
Com um total de 2138 praticantes na época transacta, podem-se somar 15 a 20 jogadoras no estrangeiro assim como mais algumas luso-descendentes para se contabilizar o total de jogadoras de futebol portuguesas.
De todas, a mais conhecida é provavelmente Ana Borges, natural da cidade de Gouveia. (Nota: Não deixa de ser interessante que ao contrário do que se passa no futebol masculino, são muitas as jogadoras de top nacional oriundas do interior do país).
Neste momento existem 5 grandes projectos a nível nacional que tentam promover o desenvolvimento do Futebol Feminino.

1.    Liga Elite Feminina
Constituída até 14 equipas. 10 provenientes do campeonato regular + 4 formadas a partir dos clubes da Liga NOS masculina.

2.    Campeonato Nacional de Juniores Femininos
Disputado em Futebol de 9.
Tentar avançar o limite da competição mista até à idade de Sub17.

3.    Supertaça Feminina
Tentando aproveitar o dia com actividades de promoção do Futebol Feminino.

4.    Encontros Regionais e Nacionais de Futebol Feminino
Através da ligação entre a Federação Portuguesa de Futebol, o Desporto Escolar e as Associações de Futebol.
Constituída primeiro por uma Fase Regional aberta à todos, em que qualquer grupo ou colectividade pudesse participar: clubes, escolas, família. Os vencedores apuram-se para a Fase Final a disputar no mesmo dia da Final da Taça, disputada no Jamor.
5.    Centros de Treino/Formação de Futebol Feminino
Criação de espaços nas associações distritais de futebol próprios para o desenvolvimento das jogadoras referenciadas pela FPF. Estes Centros de Treino tentariam colmatar as carências de ordem técnica e táctica das jogadoras, com o incremento do número de treinos semanais. 


Estruturação e Preparação de uma Equipa - Daúto Faquirá, Vítor Oliveira e Luís Castro

Com a mais mediática das “Mesas Redondas” do Congresso, os técnicos Daúto Faquirá, que se encontra neste momento sem clube, Vítor Oliveira, treinador do GD Chaves, e Luís Castro do FC Porto B, deram a conhecer algum do seu trabalho diário enquanto treinadores no Alto Rendimento.

Luís Castro – FC Porto B:
·         Importa diferenciar o contexto da equipa para a podermos estruturar, para definirmos o seu propósito. No FC Porto B, deixámos de montar a equipa e o processo de treino em função do adversário. Devido ao elevado número de jogos da equipa, jogamos a dobrar e dessa forma descansamos a dobrar. Enquanto recuperação fazemos evoluir a equipa em alguma maneira para existir uma aquisição de princípios de jogo.
·         O plantel da equipa B deveria ser fechado no sentido equipa A para a equipa B, para que não houvessem tantas desconfianças.
·         Dormir bem, hidratar bem e comer bem é a melhor forma de recuperar, funcionando melhor que a recuperação activa. Alguns jogadores sentem-se muito confortáveis com a utilização da câmara de frio, para acelerar a recuperação. Nesta fase da época, tão sobrecarregada em número de jogos, é muito importante ter a cabeça limpa, viver num bom estado emocional. Até o próprio treinador precisa de recuperar – no treino da manhã, Luís Castro limitou-se a observá-lo entregando-o aos seus adjuntos.
·         Na planificação do morfociclo é hierarquizada a prioridade dos exercícios em função dos dados recolhidos referentes ao último jogo da equipa. Assim, é periodizado o treino tendo em conta os dados relativos por exemplo ao número de entradas em zonas de finalização, às reacções eficazes à perca da bola, etc.
·   Em quase todos os treinos o 11x11 aparece no treino, podendo ser devidamente condicionado, em função dos princípios de jogo.

Vítor Oliveira – GD Chaves
·         A escolha do plantel é o elemento mais importante para se desenvolver um trabalho com sucesso. Também ajuda conhecer extraordinariamente a  competição em que nos inserimos. Na operacionalização do processo de treino, todas as semanas há ajustes e reajustes, em especial durante o Inverno onde as condições do treino (leia-se terreno) são bastante difíceis. A criação de objectivos é também muito importante no que toca à preparação da equipa para os diferentes períodos da época.
·         Referência às equipas B que actuam na II Liga que utilizam os jogadores da equipa A como lhes convém, alterando muitas vezes a verdade desportiva. Neste ponto, a utilização desses jogadores agrava-se nos jogos das “grandes decisões” como a conquista do título ou a luta pela manutenção.
·         Por vezes “não se treinando, faz-se um bom treino”. Com folga à segunda-feira, a terça-feira é destinada à execução de corridas lentas, bolas paradas, combinações simples. A recuperação é ajustada em função do quadro competitivo e da altura do campeonato em que é feito.

Daúto Faquirá – sem clube
·         É o “bom senso” (na operacionalização do processo de treino, nomeadamente na questão do nº de treinos diários, no nº de folgas, nos próprios objectivos da sessão de treino, etc.) que permite que os treinadores tenham sucesso. É impossível ter-se sucesso sem que exista uma boa equipa técnica.
·         Na questão da recuperação, pode-se também utilizar a estratégia de alterar volumes e intensidades permitindo uma melhoria do estado de recuperação.
·         Considero a segunda-feira o dia de eleição para o descanso semanal. Já na quarta é dia de realização de duas sessões de treino.


O Calendário Desportivo como Meio de Melhoria da Modalidade  - Carlos Soares

O coordenador técnico da AF Vila Real começou a sua comunicação com a referência às assembleias gerais da associação, já que é neste órgão que todas as decisões sobre o futebol distrital são tomadas, em especial o assunto dos quadros competitivos (Nota: talvez os clubes e os seus coordenadores técnicos devessem valorizar este órgão procurando, também eles com as suas experiências, apresentar propostas que visam o desenvolvimento do futebol regional).
Em seguida, o palestrante dedicou uma boa parte da sua apresentação à estruturação dos quadros competitivos da AF Vila Real, em função do que a literatura e a prática noutras associações vão sugerindo. Tendo em conta as diferentes etapas de desenvolvimento da criança e jovem no desporto em geral e no futebol em particular, muito se tem reflectido dentro da associação sobre questões como:
·         A ausência ou não de campeonato no escalão de Benjamins (Nota: ao contrário do que foi dito, a AF Vila Real não é pioneira na ausência de campeonato classificativo neste escalão, já que na AF Guarda nunca existiu qualquer competição estruturada, funcionando como encontros esporádicos mensais sem qualquer relação com tabelas classificativas);
·         Aplicação das regras do Futebol de 9 em escalões como os Sub13 e/ou Sub14;
·         Utilização da regra + 1 jogador no Futebol de 7 quando determinada equipa tem uma desvantagem de 5 golos;
·         Possibilidade de realização de mais jogos por parte das crianças, com a existência de mais escalões etários de competição.


Scouting – Equipas/Jogadores O que Ver/Como Aplicar – André Ribeiro, Rui Malheiro e Ricardo Damas

Com a Mesa Redonda dedicada à Observação e Análise de Jogadores e Equipas foi extremamente interessante ficarmos a conhecer melhor as ideias e a metodologia de trabalho de quem anda a Top. Foi com muita atenção que estivemos a ouvir e a aprender com André Ribeiro, treinador de formação e Scout do FC Porto, Rui Malheiro, a representar a cada vez mais prestigiada plataforma Talent Spy, e Ricardo Damas, a dar-nos conta das suas ideias e das do seu Sporting CP sobre o Scouting.

Rui Malheiro (Talent Spy)
·         O padrão é tudo que queremos encontrar numa análise de uma equipa ou de um jogador. Assim, quando observamos um jogador procuramos identificar as suas qualidades nas suas dimensões técnico-táctica ofensiva, técnico-táctica defensiva, física e psicológica. Já quando observamos uma equipa damos ênfase aos momentos do jogo de organização ofensiva e defensiva, transições defensiva e ofensiva e aos esquemas tácticos defensivos e ofensivos.
·         Há scouts independentes que trabalham para equipas técnicas de clubes.
·         Antes de fazermos o trabalho de scouting de qualquer equipa ou jogador externa/o devemos fazer a devida análise da nossa própria equipa.
·         É necessário existir um conhecimento mútuo entre o scout e o treinador. Tanto o scout saber muito bem aquilo que o treinador quer, tal como o treinador saber muito bem como o scout observa e analisa. Sobretudo quando se tratam de formas de trabalhar diferentes que podem ir da realização de um relatório de 6 ou de 30 páginas.
·         Na construção de um relatório é relevante indicar o jogador(es) chave da equipa. Contudo, é ainda mais pertinente identificar o seu papel na equipa e o porquê de ele ser a “chave”.
·         Enquanto scout e colaborador de equipas profissionais, nunca iremos contratar jogadores pelo que eles jogam no “Youtube”. 
·         É extremamente relevante conhecermos os diferentes contextos do jogo, os diferentes futebóis, se preferirmos, para conseguirmos antecipar as qualidades de um jogador quando compete em contextos diferentes do seu habitual. O que mais me cativa num jogador é a sua tomada de decisão e é a sua interpretação do jogo, a sua leitura da circunstância.
·         Quando há possibilidade de termos um gabinete de scouting, deveremos criar uma base de observação da nossa própria equipa.
·         Considero a inteligência na tomada de decisões como uma das qualidades mais importantes num jogador, assim, quando o jogador é excessivamente individualista – quase como um egocentrista do jogo – poderá atrapalhar o seu desenvolvimento.
·         Para além da Talent Spy –da qual Rui Malheiro é o Chief Scout – também utilizo a WyScout para a o meu trabalho de prospecção.

André Ribeiro (FC Porto)
·         O meu trabalho vai de encontro ao que o treinador quer, sendo que cada vez mais o treinador procura saber mais sobre os esquemas tácticos dos adversários.
·         Não se pode fugir ao “olho do treinador”, já que é com ele que eu tenho que interpretar o jogo. Eu até posso ter um juízo de valor sobre determinado jogador ou comportamento da equipa mas tenho de me pôr no lugar do treinador e da sua maneira de ver as coisas.
·         Concordo com Rui Malheiro aquando da valorização do conhecimento sobre a própria equipa antes de qualquer trabalho externo.
·         Aquando da visualização dos relatórios por parte equipas, umas podem-se mostrar os pontos fortes dos adversários, outras já não, devido à forma motivacional e comportamental como elas reagem. E isso é relativo tanto a jogadores como a treinadores.
·         Quando se fala em imagens nos relatórios, é diferente apresentar-se um frame ou um vídeo. Com um frame, por ser uma imagem estática, até se podem tentar mostrar comportamentos negativos do jogador, quando na realidade ele até foi eficaz. Mas fruto da circunstância do frame o jogador até não adopta o comportamento mais correcto.
·         A nossa equipa deverá sempre tentar anular o “jogador chave” da equipa adversária de uma forma colectiva, e não com estratégias que o acompanhem individualmente.
·         O scout tem de ter muita paixão por aquilo que faz devendo ser o mais low-profile possível.
·         Devemos balizar os nossos gostos em consonância com os do treinador. No meu caso específico, o que me cativa mais num jogador é a sua técnica, o gosto que tem pelo jogo e a sua especificidade que confere à sua posição, tentando fazer sempre uma projecção de como é que o jogador X se adapta ao contexto Y.
·         Num contexto distrital poderá trabalhar-se de forma semelhante Às profissionais, adoptando obviamente os recursos à sua disposição.
·         A quem passa pelos distritais é-lhe permitida uma maior adaptabilidade que lhe potencia a qualidade como treinador.
·         Utilizo o software LongoMatch para ver se o jogador está a evoluir ou não, aquando da análise de vídeo do seu treino.
·         Um dos indicadores mais importantes da qualidade do jogador é a sua resiliência.
·         A família poderá ser um dos maiores entraves ao desenvolvimento de um jogador.
·         As plataformas de auxílio ao meu trabalho que utilizo são a LongoMatch e a WyScout.

Ricardo Damas (Sporting CP)
·         Muitos treinadores chegam a um ponto de detalhe que quase querem saber que número de chuteiras determinado jogador calça.
·         Qualquer um que perceba de futebol poderá fazer um relatório. A questão primordial é encontrar e contextualizar a informação junto em conformidade com o que o treinador quer.
·         Existe uma necessidade muito forte – com resultados positivos – ao recurso às imagens, na construção dos relatórios.
·         Quando o conhecimento sobre o contexto competitivo é extenso, como o são, por exemplo na I e II Ligas, o foco do relatório do scout deverá ser o comportamento colectivo das equipas.
·         O talento é observável por parte de toda a gente, mas é o “olhómetro” que permite uma sensibilidade que o ajuda a destacar ou não. Quando ele acaba por se destacar e é transferido para outros contextos, mesmo que a nível experimental, esses mesmos contextos acabam por ser agentes “moldadores” da sua qualidade e do seu potencial, fomentando ou inibindo o seu desenvolvimento. Por exemplo, alguns jogadores brilham nas captações e depois de contratados acabam por nem se afirmar.
·         O scout faz o seu trabalho sem ser reconhecido, não porque não lhe é reconhecido o seu valor, mas porque convém que ele não seja “mediático”.
·         Não deixa de ser curioso que os defesas continuam sem dar tanto nas vistas.
·         Eu filmo os meus jogos (escalão Sub10) com a intenção de melhorar e corrigir a minha própria equipa. Considero ridículo fazer-se “match analysis” nestes escalões.
·         Também utilizo o vídeo para filmar os treinos.
·         No nosso trabalho no Sporting, utilizamos uma plataforma própria de observação e análise de jogadores e equipas.

Apresentação dos Resultados Obtidos por GPS – Bruno Gonçalves

O investigador da UTAD começou a sua palestra fazendo referencia a algumas das tecnologias utilizadas na análise de treino e de jogo nos Jogos Desportivos Colectivos, em especial no Futebol.
É intenção de quem trabalha com as novas tecnologias da análise de dados recolhidos com a observação e monitorização dos jogadores servir para optimizar as decisões dos treinadores.
Podemos também constatar que a performance aumenta em função do uso efectivo dos dados oferecidos por essas mesmas tecnologias.
dados + informação + conhecimento = acção
A individualização dos dados permite:
·         Especificidades fisiológicas;
·         Perfil em função do posto específico;
·         Perfil real da carga/resposta ao treino;
·         Optimizar, potenciar e controlar a performance.
O palestrante abordou ainda as investigações sobre lesões no desporto que mais recentemente têm surgido na relação entre a carga e o retorno ao treino após lesão nomeadamente no estudo da probabilidade do jogador se voltar a lesionar outra vez.

Com esta apresentação do homem da casa, deu-se por terminado este longo dia de partilha de conhecimento futebolístico no III Congresso de Futebol do Núcleo de Estudantes de Desporto da UTAD.