terça-feira, 1 de dezembro de 2015

E quando o jogador sabe mais que o treinador?

Para se entender melhor esta reflexão, é importante contextualizar-se a mesma: situação de 2x1 + GR em que os 2 atacam perto da grande área e ouve-se o treinador para o portador da bola “Chuta a baliza! Chutaaa!”. A criança/jogador opta antes por fazer passe para o colega e é golo!

Um dos nossos maiores desafios enquanto treinadores de escalões de formação, é conseguir evoluir as competências do jogar, tanto individuais como colectivas, de cada criança/jovem.

Com este objectivo, espera-se que o treinador formador, no mínimo (!), não atrapalhe a natural evolução do jogador. Frase que pode parecer óbvia, mas olhando para os feedbacks de alguns treinadores, não é assim tão perceptível.

Consideramos que o treinador/formador, para além de necessitar de um conjunto de bases teóricas e práticas abordadas nos cursos associativos e/ou académicos, deva também ser humilde ao ponto de reconhecer que o jogador poderá entender mais do Jogo que ele próprio. Mesmo que esse jogador tenha apenas 8 anos (caso prático acima descrito)!!!

Segundo a literatura, a tomada de decisão é influenciada por diversos factores como por exemplo a motivação, as experiências pessoais e sobretudo as emoções. E neste último aspecto, existem algumas dúvidas que nos assolam, tal como a James Vaughan (investigador neo-zelandês), entre as quais podemos questionar, como conseguimos nós treinadores sentir o jogo no banco, como as crianças o sentem em campo? Poderemos nós condicionar as decisões às quais as crianças não se sentem felizes ou confortáveis em fazê-las? Ou cabe aos treinadores criar essa mesma felicidade no treino através da criação de cenários (ou exercícios, se preferirem) que criem emoções favoráveis à aprendizagem de melhores decisões? Ou pior ainda, porque não aprendemos nós treinadores a entender/sentir melhor o Jogo com as crianças para entendermos as suas decisões?

Estas dúvidas fazem com que nós tenhamos a tendência para acreditar que uma postura humilde por parte do treinador, que permita às crianças expor as suas competências de uma forma mais natural e menos condicionada pelo próprio, seja a melhor postura a adoptar no processo formativo. Julgamos por isso mais acertado, que muitas das vezes o treinador deva ficar calado, e guardar o feedback para si, ao invés de obrigar o jogador a decidir de forma errada. O treinador até poderá estar a “ver” melhor a jogada, mas não a “sente” como o jogador, por isso não poderá estar a obrigá-lo a manifestar um comportamento ao qual ele não se sinta capaz de realizar de uma forma eficaz. E já nem vamos entrar pelo capítulo da castração da tomada de decisão criativa, que daria asas a muita mais discussão, com o treinador a ter um papel cada vez mais importante na potenciação da criatividade fruto do desaparecimento do “futebol de rua”...




PS: A propósito do tal miúdo que “rejeitou” a opinião do treinador, ele jogava “pra caraças”, daí nos custe tanto que ele possa ficar com o seu processo evolutivo tão danificado…

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