Para se entender melhor esta
reflexão, é importante contextualizar-se a mesma: situação de 2x1 + GR em que
os 2 atacam perto da grande área e ouve-se o treinador para o portador da bola
“Chuta a baliza! Chutaaa!”. A
criança/jogador opta antes por fazer passe para o colega e é golo!
Um dos nossos maiores
desafios enquanto treinadores de escalões de formação, é conseguir evoluir as
competências do jogar, tanto individuais como colectivas, de cada
criança/jovem.
Com este objectivo,
espera-se que o treinador formador, no mínimo (!), não atrapalhe a natural
evolução do jogador. Frase que pode parecer óbvia, mas olhando para os
feedbacks de alguns treinadores, não é assim tão perceptível.
Consideramos
que o treinador/formador, para além de necessitar de um conjunto de bases
teóricas e práticas abordadas nos cursos associativos e/ou académicos, deva
também ser humilde ao ponto de reconhecer que o jogador poderá entender mais do
Jogo que ele próprio. Mesmo que esse jogador tenha apenas 8 anos (caso prático
acima descrito)!!!
Segundo a literatura, a
tomada de decisão é influenciada por diversos factores como por exemplo a
motivação, as experiências pessoais e sobretudo as emoções. E neste último
aspecto, existem algumas dúvidas que nos assolam, tal como a James Vaughan
(investigador neo-zelandês), entre as quais podemos questionar, como
conseguimos nós treinadores sentir o jogo no banco, como as crianças o sentem
em campo? Poderemos nós condicionar as decisões às quais as crianças não se
sentem felizes ou confortáveis em fazê-las? Ou cabe aos treinadores criar essa
mesma felicidade no treino através da criação de cenários (ou exercícios, se
preferirem) que criem emoções favoráveis à aprendizagem de melhores decisões?
Ou pior ainda, porque não aprendemos nós treinadores a entender/sentir melhor o
Jogo com as crianças para entendermos as suas decisões?
Estas dúvidas fazem com que
nós tenhamos a tendência para acreditar que uma postura humilde por parte do
treinador, que permita às crianças expor as suas competências de uma forma mais
natural e menos condicionada pelo próprio, seja a melhor postura a adoptar no
processo formativo. Julgamos por isso mais acertado, que muitas das vezes o
treinador deva ficar calado, e guardar o feedback para si, ao invés de obrigar
o jogador a decidir de forma errada. O treinador até poderá estar a “ver”
melhor a jogada, mas não a “sente” como o jogador, por isso não poderá estar a
obrigá-lo a manifestar um comportamento ao qual ele não se sinta capaz de
realizar de uma forma eficaz. E já nem vamos entrar pelo capítulo da castração da
tomada de decisão criativa, que daria asas a muita mais discussão, com o
treinador a ter um papel cada vez mais importante na potenciação da
criatividade fruto do desaparecimento do “futebol de rua”...
PS: A propósito do tal miúdo
que “rejeitou” a opinião do treinador, ele jogava “pra caraças”, daí nos custe
tanto que ele possa ficar com o seu processo evolutivo tão danificado…
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