É um jogador
que temos o privilégio de ter treinado desde os Sub10 até à época passada.
Contudo, temos noção que a nossa influência no seu processo de aprendizagem do
jogo seja ínfimo comparado ao que a Rua lhe tem deu e tem dado ao longo da
vida. Isto porque o Cristiano é daquelas crianças que vem dessa grande academia
de formação que é o Futebol de Rua.
Tem a técnica
aprimorada, domina o jogo com os dois pés, é extremamente competente a atacar e
forte a defender, dominando já muito bem os princípios específicos do jogo, é
fortíssimo nas mudanças de direcção, muito assertivo no passe e cada vez melhor
na tomada de decisão, é muito concentrado e esforçado, tendo ainda consigo toda
a malandragem, as manhas e a rebeldia que o Futebol de Rua oferece às crianças.
Indo para uma
observação ainda mais específica, existem alguns comportamentos que nos cativam
muito neste miúdo: a sua qualidade a jogar de primeira, tanto no passe como na
finalização, o seu domínio de trajectórias na realização do passe, sabendo ele
quando é que tem de usar a parte de dentro/fora do pé, quando tem que usar o pé
esquerdo ou pé direito e quando tem de jogar rasteiro ou levantar a bola do
solo, e a sua criatividade e imprevisibilidade, que lhe permitem ter uma
visão/interpretação do jogo muito acima da média para a sua idade.
Mas a
característica que mais nos agrada nele é a paixão pelo jogo. A alegria que ele
transporta para dentro de campo só por poder estar a fazer aquilo que mais
gosta, deixa quem o vê contagiado com o seu estilo de jogo. Está constantemente
à procura da bola para poder brincar com ela em campo como brinca com ela na
rua. Gosta de fazer “rodriguinhos”, “cuecas”, “vírgulas” e todas essas
habilidades, mas (quase) sempre no sentido colectivo, não tendo o hábito de as
fazer apenas “por fazer”.
Outra ponto a
seu favor é a sua resiliência. Ainda tão novo, e fruto de algumas
contrariedades familiares, o Cristiano tem já alguma responsabilidade paternal
junto dos seus dois irmãos, o que lhe enaltece ainda mais as suas boas notas
escolares.
Mas como ele
não é o melhor do mundo, é também importante realçar alguns comportamentos mais
negativos da sua forma de jogar.
O Cristiano
precisa de trabalhar bastante os seus apoios para o jogo. Sobretudo em processo
ofensivo, está muitas vezes de costas para a baliza do adversário.
Também no
plano emocional, embora tenha vindo a ganhar alguma estabilidade, ele tem o
hábito de ser muito conflituoso e “aziado” quando as coisas não correm como lhe
convêm, começando a “disparar” em todas as direcções mesmo quando as falhas são
suas. Além disso, tem uma personalidade muito exigente com ele próprio e nem
sempre consegue reagir bem às adversidades que o jogo lhe proporciona. Embora
seja humilde, por vezes tem um discurso arrogante no balneário, fruto desse
temperamento mais volátil.
Outra
dificuldade que ele está a encontrar nesta época é a falta de adaptação
táctico-física ao futebol de 11. Embora na época transacta, ainda como
infantil, tenha realizado uma época inteira no futebol de 11, esta temporada
não parece estar tão eficaz em acompanhar as exigências específicas do terreno
de jogo. As distâncias maiores do campo de 11 implicam uma intensidade, uma
velocidade, e uma resistência específicas que o Cristiano tarda em adaptar-se.
Reconhecemos
que a nossa ligação emocional à criança possa estar a distorcer a nossa análise
às suas competências como jogador. Mesmo assim, queremos julgar que o Cristiano
deva ter uma oportunidade num clube de dimensão nacional, e que a qualidade é
real. Se não tivesse a mínima qualidade não estaria na Selecção Sub14 da AF
Guarda…
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