quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Dificuldades na operacionalização da "Descoberta Guiada"

Ao longo do processo de EnsinoAprendizagem do Jogo de Futebol, o treinador utiliza a comunicação, seja ela verbal ou não, como uma importante ferramenta (tirando o lado mecânico à questão) de auxílio ao desenvolvimento do jogar do indivíduo e da equipa.
Acreditamos que a estratégia comunicativa apelidada de “Descoberta Guiada” seja a melhor forma que o treinador utiliza no treino para que o jogador aprenda e/ou desenvolva por si próprio determinados comportamentos individuais e colectivos específicos às ideias superiores da equipa.
O conceito de “Descoberta Guiada” reinterpreta o famoso provérbio chinês que sugere que “quando alguém tem fome, mais do que lhe dar-se o peixe, o importante é ensiná-lo a pescar”.  
Consideramos que, mais de que utilizar uma comunicação emissor-receptor, o treinador deverá interagir com os jogadores durante o treino. Esta relação mais “aberta” permitirá ao treinador saber como é que os jogadores se sentem em determinada  altura do exercício, nomeadamente ao nível do posicionamento, da tomada de decisão, da eficácia da tarefa… Por outro lado, os jogadores ao responderem ao treinador, estão também eles a reflectir sobre o pretendido por este, “descobrindo” aquilo que o treinador pretende para ele e para a equipa.
Contudo, este processo relacional treinador-jogador tem colocado na nossa operacionalização certos problemas com os quais temos encontrado alguma dificuldade em lidar.
O primeiro obstáculo que poderemos abordar é quando em determinado contexto os jogadores não “descobrem” por si próprios aquilo que se pretende. Ou seja, é nosso desejo que haja determinada tomada de decisão, mas isso não acontece porque os jogadores não “atingem” a nossa intenção. Acreditamos que quando isto acontece, poderá existir uma responsabilidade repartida pela falta de eficácia do comportamento:
- por um lado o treinador não está a ser competente na escolha do exercício ou das suas condicionantes por não conseguir retirar aquilo que se pretende;
- por outro, os jogadores podem não ter uma capacidade criativa ou inteligência específica inerente ao jogo para ser eficaz na sua tarefa.
A dificuldade maior da análise deste problema surge quando admitimos que o exercício e/ou as suas condicionantes estão muito bem estruturados assim como a capacidade criativa e a inteligência dos jogadores é elevada. Ao ponto de julgarmos que o exercício em questão é possível de ser operacionalizado continuando, contudo, a falhar… 
A outra grande complicação que temos verifica-se no futebol de iniciação. Nos escalões precoces temos dificuldade em que os jogadores incorporem a utilização da parte interior do pé como parte dominante das suas acções de jogo. Devido às dificuldades NeuroMotoras e coordenativas que os iniciantes apresentam, não é hábito utilizarem essa parte específica do corpo. Contudo, nas suas acções, existe muitas vezes o sucesso sem que eles utilizem essa parte do pé! E quando a usam até têm um resultado bastante pior! Daí termos imensas dificuldades em lidar com esta situação.
Sabemos que as investigações têm indicado que existe interferência negativa na aprendizagem aquando do uso da instrução descritiva. Em especial por se verificar que as instruções verbais não serem suficientemente “ricas” para promover uma adaptação funcional do corpo. Mas até agora ainda não conseguimos encontrar estratégias de treino melhores para que as crianças entendam o benefício da utilização da parte interna do pé em detrimento de outras.  
Em ambas as situações, por erro próprio, o que acontece muitas das vezes da nossa parte para se tentar ultrapassar o problema é optar-se por dirigir um feedback puramente instrutivo sobre o determinado jogador.
Jogador X não “cumpre” – Feedback sobre o Jogador X

Admitimos que essa estratégia não é a mais correcta, mas muitas das vezes, não encontramos alternativa…

Sem comentários:

Enviar um comentário