quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Competição Sob o Efeito da Idade Relativa!

Quando se procuram encontrar formas de melhorar o futebol de formação a longo prazo, a questão dos “Quadros Competitivos” vem sempre à baila.

Em Portugal essa problemática está sempre presente nos grandes fóruns de discussão do futebol, sendo particularmente importante para os ditos “clubes grandes” que muitas vezes se mostram insatisfeitos com esses mesmos Quadros Competitivos. A quantidade de jogos realizados, a estruturação regional, o número de divisões existentes, a existência ou não de play-offs, até a própria estruturação dos escalões etários, são temas muito discutidos dentro e fora da Federação Portuguesa de Futebol.

Também fora de portas esta preocupação tem-se feito sentir, em especial em países que têm passado por períodos menos positivos no que ao futebol de selecções diz respeito como é o caso da Inglaterra. Assim, com preocupações semelhantes de melhorar a componente competitiva do futebol de formação, a Premier League promoveu, no passado mês de Agosto, a criação de uma competição com um regulamento diferente do que é habitual, em que utilizou a idade biológica para categorizar os escalões competitivos.  O torneio piloto teve o Southampton como clube anfitrião contando também com a participação do Norwich, do Stoke City e do Reading onde as crianças e jovens entre os 12 e os 14 anos jogaram entre si tendo em conta a sua “idade física ao invés da sua idade biológica”.  

Esta questão da Idade Relativa, e do seu Efeito no desenvolvimento da criança não é nova nem específica do futebol. Muita investigação que tem sido feita tem-nos dito que as crianças/jovens que nasçam perto do início do corte de escalão têm alcançado desempenhos qualitativos mais elevados em áreas como a educação e o desporto. Se nos reportarmos ao Futebol português, onde o início de um escalão etário tem lugar no dia 1 de Janeiro indo até ao 31 de Dezembro do mesmo ano, a literatura indica-nos que quem nasce no primeiro quartil (Janeiro, Fevereiro, Março) é mais vezes escolhido e considerado como talentoso, do que quem nasça nos últimos meses do ano (Outubro, Novembro e Dezembro).

Na nossa tese de mestrado, abordámos precisamente esta temática, concluindo que cerca de 44% dos internacionais portugueses das diferentes selecções jovens nacionais entre 2012 e 2014 nasceram no primeiro quartil do ano. Tal como a nossa investigação, também nas academias da Premier League se registam 45% de jogadores nascidos no primeiro quartil do ano desportivo (no caso inglês o início do corte verifica-se a 1 de Setembro). 

O facto da criança ser mais velha que os seus pares permite-lhe, em grande parte das vezes, que ela seja mais forte, mais alta e mais rápida. Por consequência, esta maturação física, no desporto em geral e no futebol em particular, ajuda a resolver alguns problemas que vão surgindo em jogo, mesmo que apelem mais a outros domínios do expertise que não o fisiológico.

Na tentativa de homogeneizar a vertente competitiva segundo a dimensão física, a Premier League aplicou para este torneio piloto o método não-invasivo de Khamis-Roche. Este método matemático ajuda a determinar o “tamanho” relativo das crianças, segundo variáveis como a altura e o peso da criança e a média de alturas dos pais, contribuindo para que se faça uma nivelação competitiva segundo os seus resultados.

As conclusões tiradas deste torneio foram que os jogadores com uma maturação mais precoce que jogaram entre si, tiveram de se esforçar mais do que em jogos anteriores, enquanto que os jogadores com uma maturação mais tardia, sentiram que puderam disfrutar mais do jogo, usando com mais frequência os seus skills técnicos.

Contudo, e embora pareça que este torneio tenha criado contextos competitivos mais estimulantes que os habituais contextos utilizados, a Premier League acredita que este tipo de competições deva ser utilizado esporadicamente. A equipa de James Bruce, coordenador da área dos estudos das Ciências do Desporto da Premier League, e de Dan Hunt, coordenador da área da performance de elite, considera que os contextos competitivos devem ser o mais diferenciados possíveis. Eles propõe que a categorização deva ser feita em função da idade cronológica, da idade relativa, com jogadores mais velhos, e com jogadores mais novos. Com esta diferenciação regulamentar, o principal objectivo é que “se expanda o espectro de recrutamento e de retenção de jogadores, criando oportunidades de estender e consolidar o desenvolvimento de jogadores, permitindo que as proezas técnicas venham à tona.”

A nossa principal questão vai precisamente nesse encontro. Não adianta muito a muitos agentes desportivos que se criem determinados regulamentos mais justos, se o maior propósito continua a ser ganhar. Ao invés de ser o de ensinar e desenvolver o jogo e o jogador. O treinador de formação que procure sobretudo o “fim” (leia-se resultado) renegando o “meio” (leia-se o jogar) continuará sempre à procura de colocar em campo os jogadores que lhe permitam ganhar e não, propriamente, aqueles que se precisem de desenvolver. O mesmo acontece muitas vezes aos “olheiros” que ficam “cegos” com o talento virtual de alguns jogadores, sobrevalorizando a sub-dimensão física do jogador.

Mais do que mudar regulamentos, cabe-nos a nós treinadores, scouts, coordenadores, mudarmos o paradigma de entendimento sobre o que é o futebol de FORMAÇÃO e o que é que é realmente um Jogador Talentoso…


Em jeito de conclusão, “entendemos deste modo, que o Talento não se avalia nem a quilo nem a metro, nem tão puco através do bilhete de identidade…” (Pacheco, 2001; Maciel, 2008).

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