quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O Olheiro sugere: Cristiano Rebelo!

O Cristiano Rebelo é um jovem de 17 anos, nascido a 06/07/1998, que deverá ser acompanhado por clubes de Primeira e Segunda Liga, caso continue a ser um jovem humilde e trabalhador como até agora.
O Cristiano joga a extremo/segundo-avançado na equipa de juniores do SC Mêda, 2º classificado do campeonato de juniores da AF Guarda. Sendo ainda júnior de 1º ano, é de destacar que já tenha sido chamado várias vezes à equipa sénior, 2º no campeonato principal da AF Guarda, levando já dois golos marcados.
Natural de Vila Nova de Foz Côa, o Cristiano foi um jogador que só começou a jogar de forma competitiva no escalão de iniciados e talvez por aí tenha “perdido” algum tempo da sua evolução. Contudo, e desde esse momento tem-se revelado num jogador extremamente interessante.
Só pela sua resiliência já merece ser olhado de forma atenta. Infelizmente, o Cristiano já sofreu duas lesões graves no perónio, que atrapalharam, seguramente, o seu processo evolutivo. Contudo, nunca deixou que isso afectasse a sua paixão pelo jogo e com muita vontade de voltar às boas exibições, regressou das lesões de uma forma extremamente positiva.
Forte nos diferentes momentos do jogo, embora por vezes não mostre uma boa reacção à perda da bola, e nas diferentes sub-dimensões do jogo, notasse que o Cristiano pode evoluir ainda mais.
Ele é muito rápido – dos mais velozes do seu campeonato – e agressivo com e sem a bola, procurando constantemente desequilibrar o adversário através de diagonais entre lateral-central e central-central. Tem uma relação táctica muito forte com os seus colegas aparecendo muitas vezes em situação de finalização. Contudo, e mesmo levando já muitos golos marcados nesta época, tem uma relação de remates/golo que não é a mais desejável neste capítulo. Sobretudo por conseguir por tantas vezes aparecer em situação de golo eminente.
É também muito forte no 1v1, tem uma qualidade de passe e cruzamento interessantes e não é nenhum tosco com o seu pé não-dominante, o esquerdo. Embora seja ágil e esguio, aguenta bem o choque do adversário, sendo um jogador de difícil marcação.
Das poucas debilidades que mostra, o Cristiano precisa de melhorar um pouco a sua recepção de bola, não conseguindo por vezes colocar a bola completamente jogável no primeiro-toque; e também a sua técnica de cabeceamento.

Para além de todas as suas qualidades táctico-técnicas e táctico-físicas, a sua postura perante o jogo e perante o treino e o seu apetite voraz pela aprendizagem fazem dele um jogador cheio de potencial para ser aproveitado por clubes que procurem boas pessoas que sejam bons jogadores.   

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Significados da não-continuidade do SC Mêda no Nacional de Juvenis!

A equipa de juvenis do SC Mêda não irá participar na fase de manutenção do campeonato nacional da mesma categoria. Esta “ilustre desconhecida” equipa não tem condições humanas para conseguir disputar a segunda fase da Série B do campeonato nacional de juniores B, sendo que a mais cruel das decisões foi tomada. Depois de muita ponderação por parte da direcção, a ausência de um número suficiente de jogadores para continuar em prova, ditou a sua não continuidade.
Defensores do Futebol segundo um olhar global, transversal e total deste Fenómeno, olhamos para esta não-continuidade de uma forma muito triste. Sobretudo, porque o que nos custa mais ao olhar para esta decisão é vermos que foi um grupo de jovens jogadores de uma humilde cidade do interior, que mais afectado foi com esta escolha. E, sobretudo estes jovens, não mereciam sofrer esta consequência.
Antes de mais, importa contextualizar aquilo que foi a génese desta equipa.

Na época 2014/2015, os Sub17 do SC Mêda, comandados pelo excelente treinador Rogério Afonso, foram campeões da categoria na Associação de Futebol da Guarda, elevando-se com mérito próprio para o campeonato nacional. Dos vários jogadores da equipa, apenas 4 (+1 iniciado) continuaram no plantel, tendo todos os outros subido de escalão. Como é óbvio, e por mais qualidade que apresentassem os jogadores vindos da equipa de iniciados, os novos Sub17 não poderiam contar apenas com “eles próprios”, tendo o recrutamento de novos jogadores entrado em marcha.
Para se ter uma noção do que é a realidade do interior do país, quase todos os clubes da AF Guarda não conseguem ter todos os escalões etários representados nos campeonatos regionais. No princípio da época, os clubes têm que ponderar muito bem em quais escalões se inscrevem, fazendo verdadeiros truques de gestão para que as suas equipas se mantenham minimamente competitivas.
Estamos, portanto, a falar de uma questão de quantidade (ou falta dela) de jogadores disponíveis. Pode-se, com isso, ter uma ideia do que é que o recrutamento por parte de uma equipa superior, poderá causar numa equipa inferior.
Por outro lado, é difícil compreender como é que uma equipa da AF Guarda tenha sido colocada na Série B, junto das equipas da AF Porto e AF Aveiro Norte, não jogando contra nenhuma equipa dos distritos limítrofes. Embora seja uma experiência quase, ou mesmo, única jogar contra clubes como FC Porto, Paços de Ferreira, Boavista e companhia, a verdade é que em termos competitivos, o SC Mêda fica sem grandes chances de poder sequer disputar um resultado.
Foram mais de 1900km que o clube fez só para ir jogar fora (mais outros tantos para regressar a casa). São quilómetros a mais para uma equipa que tem a sua deslocação mais curta a cerca de 189km de distância…
Por isso, não deixa de ser curioso que o Tondela, que ficou classificado em 2º lugar da Série C do nacional de juvenis, apenas tenha ganho ao SC Mêda por 2x1, num amigável de início de temporada.

Após várias abordagens a jogadores referenciados pela equipa técnica, o plantel acabou por ser formado por 23 jogadores. Para além da cidade da Mêda, os concelhos de V. N. de Foz Côa, Moncorvo, Trancoso e Aguiar da Beira cederam alguns jogadores a esta equipa. Se bem que destas e de outras localidades como a Guarda, houvessem jogadores bastante interessantes que acabaram por não aceitar fazer parte deste grupo.
Contudo, cedo começaram a sair jogadores. Após o terceiro jogo, um já tinha “abandonado” o projecto. E com o decorrer da época iam-se somando as desistências, chegando a equipa a apresentar apenas 13 jogadores no seu último jogo fora, frente ao Gondomar.
Para se ter uma ideia daquilo que foram as dificuldades de operacionalização do processo competitivo, um dos defesas-centrais habitualmente titulares foi guarda-redes até à época anterior! E em alguns dos jogos que ele não jogou a titular, 4 dos 5 defesas – se contabilizarmos o guarda-redes, eram Sub16!
Até o próprio processo de treino foi muito diferente daquele que é o ideal para o nível competitivo de uma Nacional. Para se ter uma noção, após o início do ano lectivo, esta equipa apenas fazia/faz dois treinos semanais. Metade daqueles que fazem os seus adversários. Dividindo espaço/exercícios com a equipa de juniores do clube.
Enquanto que aos clubes de top desta série mais 1000 ou menos 1000 euros não interferiam em muito no rendimento dos seus jogadores, o mesmo não aconteceria no caso do SC Mêda. Com uma certa ajuda financeira, a equipa poderia, por exemplo, dormir fora para minimizar o efeito negativo das grandes viagens; ou incrementar a sua reduzida equipa técnica.
É cada vez mais difícil criarem-se projectos ambiciosos nestes meios provincianos. Ou são extremamente circunstanciais e pontuais e se concretizam a curtíssimo prazo, ou acabam por desaparecer por falta de consolidações estruturais. O comodismo, descompromisso, visão/postura rígidas e retrógradas para com esses projectos, não permitem que se avance tanto como o potencial do próprio projecto o poderia antever. Embora a participação no campeonato nacional fosse uma oportunidade única para os jovens da região, havia algo que fazia antever que com o decorrer da competição muitas dificuldades iriam surgir na operacionalização do processo competitivo.    Mais do que culpabilizar A, B ou C por esta não-continuidade, é importante que todos os agentes desportivos olhem para o Futebol de um ponto de vista holístico e sistémico entendendo aquilo que são e que foram as dificuldades Desportivas, Técnicas, Sociais, Culturais e Económicas para os Sub17 do SC Mêda.
E aceitem que esta decisão foi a mais acertada para o desenvolvimento dos jovens jogadores, que corriam o risco de pouco Aprenderem num contexto competitivo e, infelizmente, tão desnivelado.
Por estas e outras dificuldades, acreditamos que, ao contrário do que foi dito por Ricardo Silva, guarda-redes da equipa Sub17 do FC Porto, esta equipa não era assim tão “muito fraca”! Embora não achemos que devam ser tratados como “coitadinhos”, deveriam ser mais respeitados por todos os agentes desportivos, tendo em conta o seu contexto mais humilde. Se isso acontecesse por parte de quem manda no futebol, todos sairiam a ganhar.

Por fim, esta não-continuidade da equipa do SC Mêda tem ainda um sabor mais amargo em termos pessoais. Por termos feito parte activa desta equipa (na qualidade de treinador-adjunto) e termos de pôr de parte o nosso próprio processo de aprendizagem, é ainda mais custoso vermos esta equipa “morrer”…

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Competição Sob o Efeito da Idade Relativa!

Quando se procuram encontrar formas de melhorar o futebol de formação a longo prazo, a questão dos “Quadros Competitivos” vem sempre à baila.

Em Portugal essa problemática está sempre presente nos grandes fóruns de discussão do futebol, sendo particularmente importante para os ditos “clubes grandes” que muitas vezes se mostram insatisfeitos com esses mesmos Quadros Competitivos. A quantidade de jogos realizados, a estruturação regional, o número de divisões existentes, a existência ou não de play-offs, até a própria estruturação dos escalões etários, são temas muito discutidos dentro e fora da Federação Portuguesa de Futebol.

Também fora de portas esta preocupação tem-se feito sentir, em especial em países que têm passado por períodos menos positivos no que ao futebol de selecções diz respeito como é o caso da Inglaterra. Assim, com preocupações semelhantes de melhorar a componente competitiva do futebol de formação, a Premier League promoveu, no passado mês de Agosto, a criação de uma competição com um regulamento diferente do que é habitual, em que utilizou a idade biológica para categorizar os escalões competitivos.  O torneio piloto teve o Southampton como clube anfitrião contando também com a participação do Norwich, do Stoke City e do Reading onde as crianças e jovens entre os 12 e os 14 anos jogaram entre si tendo em conta a sua “idade física ao invés da sua idade biológica”.  

Esta questão da Idade Relativa, e do seu Efeito no desenvolvimento da criança não é nova nem específica do futebol. Muita investigação que tem sido feita tem-nos dito que as crianças/jovens que nasçam perto do início do corte de escalão têm alcançado desempenhos qualitativos mais elevados em áreas como a educação e o desporto. Se nos reportarmos ao Futebol português, onde o início de um escalão etário tem lugar no dia 1 de Janeiro indo até ao 31 de Dezembro do mesmo ano, a literatura indica-nos que quem nasce no primeiro quartil (Janeiro, Fevereiro, Março) é mais vezes escolhido e considerado como talentoso, do que quem nasça nos últimos meses do ano (Outubro, Novembro e Dezembro).

Na nossa tese de mestrado, abordámos precisamente esta temática, concluindo que cerca de 44% dos internacionais portugueses das diferentes selecções jovens nacionais entre 2012 e 2014 nasceram no primeiro quartil do ano. Tal como a nossa investigação, também nas academias da Premier League se registam 45% de jogadores nascidos no primeiro quartil do ano desportivo (no caso inglês o início do corte verifica-se a 1 de Setembro). 

O facto da criança ser mais velha que os seus pares permite-lhe, em grande parte das vezes, que ela seja mais forte, mais alta e mais rápida. Por consequência, esta maturação física, no desporto em geral e no futebol em particular, ajuda a resolver alguns problemas que vão surgindo em jogo, mesmo que apelem mais a outros domínios do expertise que não o fisiológico.

Na tentativa de homogeneizar a vertente competitiva segundo a dimensão física, a Premier League aplicou para este torneio piloto o método não-invasivo de Khamis-Roche. Este método matemático ajuda a determinar o “tamanho” relativo das crianças, segundo variáveis como a altura e o peso da criança e a média de alturas dos pais, contribuindo para que se faça uma nivelação competitiva segundo os seus resultados.

As conclusões tiradas deste torneio foram que os jogadores com uma maturação mais precoce que jogaram entre si, tiveram de se esforçar mais do que em jogos anteriores, enquanto que os jogadores com uma maturação mais tardia, sentiram que puderam disfrutar mais do jogo, usando com mais frequência os seus skills técnicos.

Contudo, e embora pareça que este torneio tenha criado contextos competitivos mais estimulantes que os habituais contextos utilizados, a Premier League acredita que este tipo de competições deva ser utilizado esporadicamente. A equipa de James Bruce, coordenador da área dos estudos das Ciências do Desporto da Premier League, e de Dan Hunt, coordenador da área da performance de elite, considera que os contextos competitivos devem ser o mais diferenciados possíveis. Eles propõe que a categorização deva ser feita em função da idade cronológica, da idade relativa, com jogadores mais velhos, e com jogadores mais novos. Com esta diferenciação regulamentar, o principal objectivo é que “se expanda o espectro de recrutamento e de retenção de jogadores, criando oportunidades de estender e consolidar o desenvolvimento de jogadores, permitindo que as proezas técnicas venham à tona.”

A nossa principal questão vai precisamente nesse encontro. Não adianta muito a muitos agentes desportivos que se criem determinados regulamentos mais justos, se o maior propósito continua a ser ganhar. Ao invés de ser o de ensinar e desenvolver o jogo e o jogador. O treinador de formação que procure sobretudo o “fim” (leia-se resultado) renegando o “meio” (leia-se o jogar) continuará sempre à procura de colocar em campo os jogadores que lhe permitam ganhar e não, propriamente, aqueles que se precisem de desenvolver. O mesmo acontece muitas vezes aos “olheiros” que ficam “cegos” com o talento virtual de alguns jogadores, sobrevalorizando a sub-dimensão física do jogador.

Mais do que mudar regulamentos, cabe-nos a nós treinadores, scouts, coordenadores, mudarmos o paradigma de entendimento sobre o que é o futebol de FORMAÇÃO e o que é que é realmente um Jogador Talentoso…


Em jeito de conclusão, “entendemos deste modo, que o Talento não se avalia nem a quilo nem a metro, nem tão puco através do bilhete de identidade…” (Pacheco, 2001; Maciel, 2008).