segunda-feira, 12 de abril de 2021

O vai e vem do Futebol do Interior de Portugal

Fonte: Facebook GD Bragança
Com a realização da última jornada do Campeonato de Portugal durante o último fim-de-semana, ficámos a conhecer os resultados finais dos diferentes destinos das equipas deste campeonato. Entre lutas pelo acesso à Liga 2 e à Liga 3, manutenção no Campeonato de Portugal e descidas aos distritais, tudo ficou decidido.

No meio de algumas surpresas houve um padrão comum que se manteve: a descida aos distritais dos clubes do Interior mais profundo de Portugal.

Clubes como o Bragança, Águia Vimioso, Vila Cortez, Alcains, Lusitano Évora e Moura, são exemplos disso. Felizmente também existiram equipas que contrariam essa tendência, mas os exemplos são poucos para aquilo que gostaríamos de ver.

Nessa reflexão, e tendo a noção que estamos longe de ser “experts” na matéria, temos para nós que uma pequena alteração nos quadros competitivos iria criar mais justiça nesta questão: A necessidade de ajustar a divisão das Séries, fugindo da lógica meramente horizontal, tanto a nível sénior, como ao nível da Formação.

Ou seja, sabendo de antemão que qualquer tipo de divisão acabaria por ser injusta para alguém, acreditamos que uma divisão das séries tendo por base feixes horizontais, que vão da costa portuguesa até à fronteira com Espanha, está completamente desajustado de uma realidade que ultrapassa o plano desportivo.

Para se ter uma ideia, relembramos aqui que em 2015/2016, a equipa de Sub17 do SC Mêda do campeonato nacional, da qual fazíamos parte, realizou mais de 1900km para as suas deslocações como visitante, só na primeira fase, em que para a sua viagem mais curta teve que fazer 189km. Só de ida!


Ora, se enquanto contexto formativo, os jogadores do Interior já sofrem bastante do desajustamento dos quadros competitivos, não se espere que quando alcançam o patamar sénior consigam “bater-se” de igual para igual com as equipas do litoral, que fruto das circunstâncias sócio-económicas do país, já são bem mais propensas a alcançar melhores resultados desportivos.

Embora esta proposta esteja ligada às questões da gestão e organização dos quadros competitivos, acreditamos que as suas repercussões seriam bem mais técnicas do que possa parecer, criando um contexto de desenvolvimento muito mais rico e ajustado para os jovens do Interior.

Em suma, fica aqui apenas uma ideia de quem é natural e reside nesse mesmo Interior profundo, apaixonado pelo Fenómeno EcoAntropoSocialTotal que o Futebol é…

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Quando Sterling e Diogo Jota bateram Holding nas alturas - uma reflexão sobre a "Estatura"

Dois golos sofridos pelo Arsenal em jogos diferentes com o mesmo padrão comum: cruzamento ao segundo poste e um baixinho ganha o duelo aéreo ao grandalhão.


No caso, primeiro Sterling e depois Diogo Jota, 1,70m e 1,78, respectivamente, "bateram" Rob Holding, de 1,88m, nas alturas.

Não queremos aqui parecer fundamentalistas. Mas a verdade é que acabamos muitas vezes por questionar o porquê de valorizarmos tanto a questão da estatura em certas posições como a de defesa-central e a de guarda-redes.

Temos consciência que com uma elevada estatura, estamos mais propensos a ter sucesso em determinadas situações de jogo, mas a realidade é que lances como estes a top provam que essa característica possa não ser assim tão determinante como possa parecer.

Além disso, acreditamos que ao sobrevalorizar a questão da estatura para um defesa-central, corremos o risco de estar a “reduzir” muito a potencialidade deste jogador, correndo mesmo o risco de retirar ao Jogo o seu lado Táctico. Ou seja, considerando a estatura como um filtro indispensável para a selecção de um defesa-central, podemos não estar a olhar para todo o lado mais colectivo e complexo do Jogo.

Até porque uma boa estatura não implica directamente uma boa capacidade de cabeceamento. Para isso é também importante uma boa técnica de corrida e de chamada, uma boa capacidade de impulsão, uma boa noção de timing de salto… além do tal lado mais Táctico como o posicionamento, a colocação dos apoios, a antecipação…

Coisa que Rob Holding não teve contra Sterling e Diogo Jota.

quinta-feira, 1 de abril de 2021

Daniel Bragança e mais uma reflexão sobre o conceito de Posição

Foto: Observador
“As posições são importantes para potenciarem as relações que queremos criar no nosso jogo, seja a defender ou atacar, mas são mais importantes as relações do que as posições. É mais importante a capacidade de jogadores de interpretarem diferentes timings e diferentes momentos.” Vítor Matos in Descodificando o Treinador e o Jogo

Ao vermos Daniel Bragança jogar nos Sub21 como vértice recuado de um losango de meio-campo, ficamos mais uma vez a reflectir sobre aquilo que é o conceito de “Posição”. Ainda para mais condicionados pelo nº 10 que tem na camisola, perguntamos-mos… afinal qual é a “Posição” de Daniel Bragança?

Não é nada fácil responder. O comentador do jogo contra a Suíça, Blessing Lumueno, sugere que mais do que médio-defensivo, médio-centro ou médio- ofensivo, Daniel Bragança é “médio”, mostrando o quão difícil é, por vezes, catalogarmos alguns jogadores em função da sua posição.

Reportando-nos à reflexão inicial do Vítor Matos, imaginamos como seria ver o Daniel Bragança ocupando aqueles espaços à frente da linha-defensiva, se tivesse à sua frente outros jogadores que não Vitinha, Pote ou Fábio Vieira. Ou seja, consideramos que Daniel Bragança realizou a exibição que realizou, sendo mesmo considerado o “Melhor em Campo”, porque estava inserido numa rede de conexões muito própria e propensa a que ele conseguisse manifestar toda a sua qualidade. Qualidade essa sustentada num jogar muito técnico, apoiado e associativo.

Ou seja, de um ponto de vista fractal, dificilmente Bragança pudesse estar melhor contextualizado para poder exprimir toda a sua qualidade. Em todas as escalas (individual – micro – meso e macro) assistíamos a circunstâncias quase perfeitas, mas sobretudo muito semelhantes para a tal propensão de comportamentos positivos.

Imaginemos agora o mesmo jogar, a mesma estrutura, mas com outro perfil de jogadores. E com Daniel Bragança no vértice contrário. Acreditamos que, se esses jogadores se conseguissem relacionar com a mesma eficácia e eficiência deste meio-campo frente à Suíça, Daniel Bragança se pudesse apresentar na mesma com tanta ou mais qualidade. Mesmo, ocupando posicionalmente outros espaços em campo que necessitam, logicamente, de ajustes corporais e funcionais, Bragança parece ter a qualidade suficiente para apresentar o mesmo grau de eficiência e eficácia.

Resta-nos lamentar que no seu clube ainda essa rede de conexões não tenha o espaço necessário para Bragança. Seja em que posição for…