terça-feira, 23 de junho de 2020

E se o Covid-19 nos obrigasse a comprar bom, barato e português?


Em tempos de Pandemia Covid-19, muito se tem falado na procura do consumo do produto local como forma de tentar ajudar a economia a recuperar de uma forma mais sustentável. 

Nesse sentido, e puxando para o Futebol, tentámos desafiar o nosso amigo Daniel Soares a fazer um XI repleto de Talento português, mostrando dessa forma a qualidade do nosso produto local.

Desafiámos o Daniel, por ser alguém que reconhecemos Talento na busca pelo Talento, contando com um currículo interessante ao nível do Scouting, com passagem pelo FC Porto, estando neste momento nos quadros de prospecção do SL Benfica.

Para além da nacionalidade, e para tornar o desafio um pouco mais acessível a clubes mais humildes, quisemos propor ao Daniel um budget total de 6M€, baseado nos valores de mercado da plataforma Transfermarkt.

As escolhas dele foram as seguintes:




Guarda-Redes - João Virgínia
Valor de Mercado: 150mil €
10/10/1999
Local de Nascimento: Faro
Altura: 1,92m

Alto, com forte presença na baliza e muito concentrado em todos os momentos do jogo.

O futebolista fez parte da formação no Benfica, até aos sub-17, antes de se transferir em 2015/16 para os juniores do Arsenal, onde permaneceu até ao verão de 2018, data em que saiu para o Everton como uma futura aposta do clube na Premier League. No entanto e após presenças na equipa de sub-23 dos Tofees, os responsáveis do clube acharam que o empréstimo a uma equipa mais pequena seria a solução para que o jovem guarda-redes pudesse evoluir e assim estrear-se na principal liga inglesa.

As coisas não correram de feição nos apenas 2 jogos realizados e desde então não foi mais aposta. Regressará ao Everton para realizar pré-época e espera-se que se consiga impor rapidamente como sénior. Muita margem de progressão e qualidade entre e fora dos postes. Na seleção portuguesa, esteve no Mundial de futebol de sub-20, em 2019, e no Europeu de sub-19, em 2018, e já no último ano foi chamado aos sub-21.


Defesa-Esquerdo – Pedro Amaral
Valor de mercado – 500mil€
25/08/1997
Altura: 1,78 m

Lateral rápido, com capacidade técnica, jogo ofensivo de salientar e posicionamento defensivo são as suas principais características.

Formado no Benfica, não chegou à equipa principal das águias, alinhou na equipa B, sendo ainda emprestado aos gregos do Panetolikos.


O atleta, que tem como ídolo Cristiano Ronaldo, confessou que um dos objetivos de carreira é chegar à seleção nacional A e voltar ao Benfica. Sente também curiosidade em experimentar a Liga Espanhola pela sua competitividade.


Defesa-Central – Frederico Venâncio
Valor de mercado: 800mil €
04/02/1993
Local de Nascimento: Setúbal
Altura: 1,86m

Filho do antigo jogador do Sporting Venâncio, Frederico é um defesa-central que se destaca pela presença física, jogo aéreo, posicionamento e desarme.

Iniciou a sua formação no Vitória de Setúbal, clube que representou em sénior também, com passagem pela “cantera” do Benfica, também se aventurou por terras de sua majestade, mais concretamente no Sheffield Wednesday onde permaneceu uma época antes de regressar a Portugal no inicio da época 19/20 para representar o Vitória de Guimarães.

Internacional sub-20 e sub-21 por Portugal.


Defesa-Central – Nelson Monte
Valor de Mercado: 1M
30/07/1995
Local de Nascimento:  Vila do Conde
Altura: 1,87 m


Defesa-central alto, forte no jogo aéreo, qualidade na 1ª fase de construção e agressivo defensivamente, também pode actuar como lateral-direito devido à sua boa relação com a bola. Impetuoso e autoritário, os anos que já leva de clube vila condense fazem dele um dos capitães de equipa, sendo bastante respeitado pelos companheiros de equipa.

Iniciou a sua formação no Rio Ave, deu o salto para a cantera do Benfica no escalão de sub-15 onde permaneceu até aos sub-17, por essa altura regressou ao Rio Ave e foi lá que se estreou como sénior no principal escalão português.
Internacional sub-19 e sub-20 por Portugal.

Defesa-Direito – Fernando Fonseca

Valor de mercado – 650mil€
14/03/1997
Local de Nascimento: Porto
Altura: 1,83 m

Lateral-direito ofensivo, com grande capacidade aeróbia, capacidade técnica, forte ofensivamente e agressivo defensivamente. Destaca-se também pela qualidade de cruzamento.

Formado nas escolas do Dragão e do Boavista, estreou-se na 1ª equipa na época de 2016/2017, entretanto conta já com empréstimos a Estoril e assinou esta época pelo Gil Vicente onde já realizou cerca de 20 jogos na 1ª Liga. Pelo meio já tinha sido associado a uma possível transferência para integrar os sub-23 da Juventus mas a mesma acabou por não acontecer.

Internacional pelas selecções jovens de Portugal, integrou também a equipa Olímpica Portuguesa de Futebol.

Médio Defensivo - Sérgio Marakis
Valor de mercado: Livre
11/11/1991
Local de Nascimento: Johannesburg (África do Sul)
Altura: 1,80 m

Médio-Defensivo com forte sentido posicional, agressivo defensivamente, recuperador de bola nato, qualidade de passe médio/longo, é o jogador que todo o treinador tem de possuir num plantel.

Formado nas escolas do Marítimo, com passagem na formação do Sporting CP, estreou-se como sénior na formação insular. Passou por Portimonense, Ermis, União da Madeira, Nacional da Madeira e mais recentemente pertenceu aos quadros do Cova da Piedade.



Médio Centro - Daniel Bragança
Valor de Mercado: 400mil€
27/05/1999
Local de Nascimento: Almeirim
Altura: 1,69 m

O típico nº10, pé esquerdo fabuloso, capacidade técnica, fantasia, dotado de uma visão de jogo e tomada de decisão de salientar no último terço do terreno.

Necessita de melhorar o seu jogo defensivo para se tornar um jogador mais completo e preparado para outros palcos. Qualidade não lhe falta.

Fez a sua formação no Sporting e encontra-se neste momento emprestado ao Estoril onde tem demonstrado futebol suficiente para ser aposta na 1ª Liga.

Médio-Centro – João Carlos Teixeira
Valor de Mercado: 700mil€
18/01/1993
Local de Nascimento: Braga
Altura: 1,77 m


Médio de cariz ofensivo, dotado de uma forte componente criativa no seu jogo, capacidade técnica e qualidade de passe.

Formado no Sporting, complementou a sua formação no Liverpool onde foi treinado por Jurgen Klopp. Sucederam-se empréstimos a Brentford e Brighton, acabando por ser o FC Porto a garantir os seus préstimos com o objectivo de contar nas suas fileiras com um dos mais promissores médio portugueses. Nunca se conseguiu impor no clube da Invicta, apesar de se ter sagrado campeão nacional pela mão de Sérgio Conceição. Foi emprestado ao Braga e devido às suas boas exibições o Vitória de Guimarães, grande rival minhoto do clube bracarense resolveu avançar para a sua contratação em definitivo.

Esta época, aos 27 anos, está finalmente a demonstrar todo o seu talento e tem sido um dos principais municiadores do jogo ofensivo vimaranense.

Internacional por Portugal em todos os escalões de formação.


Extremo Esquerdo – Rochinha
Valor de Mercado: 1M
03/05/1995
Local de nascimento:  Espinho
Altura: 1,69 m

Extremo rápido e desequilibrador, forte no 1x1 , remate de meia distância e capacidade de finalização.

Formação rica, começou no FC Porto, teve passagens pelo Benfica e pelo Feirense. Como sénior integrou a equipa B dos encarnados, Bolton e Standard Liege, rumou em 2017 ao Boavista a titulo definitivo e no mercado de janeiro da época 2018/2019 foi adquirido pelo Vitória de Guimarães onde também de pode estrear em competições europeias.

Internacional pelas camadas jovens de Portugal.


Extremo-Direito – Fábio Vieira
Valor de Mercado: 600mil €
20/05/2000
Local de Nascimento: Santa Maria da Feira
Altura: 1,70 m

Médio de cariz ofensivo, dotado de uma forte componente criativa no seu jogo, capacidade técnica e qualidade de passe. Pé esquerdo notável, coloca a bola onde os seus olhos miram, é descaído na faixa direita que se destaca o seu jogo, forte no jogo entrelinhas e com uma tomada de decisão notável no último terço.

Formado no FC Porto, estreou-se recentemente na 1ª equipa depois de ter sido preponderante na conquista da Youth League pelos dragões.

Internacional por Portugal em todos os escalões de formação.


Ponta-de-Lança – Dany Mota
Valor de Mercado: 300mil€
02/05/1998
Local de Nascimento: Niederkorn (Luxemburgo)
Altura: 1,80 m

Avançado lusodescendente fez a formação no Pétange, aos 17 anos rumou ao Virtus Entella, em Itália. Passou pela Juventus de Cristiano Ronaldo, cumpriu o objetivo de ser internacional sub-21 por Portugal, e agora transferiu-se para o Monza.

Destaca-se pela rapidez de execução, qualidade técnica e capacidade de finalização quer com os pés quer com a cabeça.

Falta-lhe jogar num campeonato principal para que se imponha e seja um nome a ter em conta no panorama nacional ao mais alto nível.

Internacional sub-21 por Portugal.


Estas foram as escolhas do Daniel Soares. Felizmente em Portugal as escolhas de qualidade são muitas para se poderem fazer outros "onzes" com o mesmo nível de qualidade. 

Que estes tempos diferentes nos permitam valorizar mais aquilo que nos rodeia. Também no Futebol... 

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Nuno Tavares e o que as suas recepções nos ensinam


Com uma filosofia de louvar, o Benfica tem feito uma “aposta” interessante nos seus talentos oriundos dos escalões de formação.

O lateral-esquerdo Nuno Tavares é um deles. Aproveitando a ausência de Grimaldo por lesão, Nuno Tavares mostra ser uma boa alternativa para o espanhol, sem, contudo, conseguir oferecer tanta qualidade quanto Grimaldo.

Admitimos que poderemos estar a ser um pouco injustos e a pegar no lado negativo da sua exibição. Mas mais do que personificar o caso do Nuno Tavares, quisemos reflectir sobre o que esse caso representa.

Após uma observação mais atenta à sua prestação no jogo contra o Rio Ave, e focando-nos exclusivamente na primeira-parte, verificámos que o jovem jogador manifestou constantes dificuldades na recepção de bola.

Reflectindo sobre o porquê destas dificuldades, reparámos nos comportamentos que a seguir enumeramos, e que julgamos terem de ser melhorados na equipa do Benfica para que o jogador possa ser mais consequente após o passe dos seus colegas. Sim, porque acreditamos que muitas vezes os jogadores só falham a recepção porque também há um passe fraco antecedente, acreditando que a recepção de bola não seja algo estritamente relacionado com quem a recebe.

  • Posicionamento em profundidade – aquando da bola no defesa-central do lado esquerdo, Nuno Tavares parece estar numa zona um pouco adiantada para ser uma linha de passe fluída. Ou seja, muitas das vezes tem de recuar alguns metros para poder receber a bola, já que se apresenta um pouco adiantado.

  • Orientação corporal – defendemos que, sempre que possível, a bola deva ser dominada com o pé mais afastado do passador, de forma a orientar a mesma para a progressão. Contudo, se não existir uma boa orientação corporal, tal comportamento individual não poderá ser executado.

  • Não domínio do pé não-dominante – é estranho que a top, numa das melhores academias do mundo, um dos seus “produtos” tenha tantas dificuldades em usar o seu pé não-dominante. Se o passe antecedente não tem essa preocupação, não deverá o jogador sentir-se minimamente confortável com o pé não-dominante?

  • Inteligência táctica do passador – com um volume de treinos tão grande no alto rendimento, não deveriam os colegas conhecerem-se melhor? Ou seja, o jogador que procura Nuno Tavares não deveria já saber das suas dificuldades na recepção de bola para quando esta vai para o seu lado direito do corpo? Tal como dissemos anteriormente, julgamos que a culpa de tamanho insucesso não é isolada do receptor…


Com estas considerações, poderemos dizer que algo no processo de treino do Benfica poderá ter de ser melhorado ao nível da escala mais individual. Mesmo tratando-se o Benfica de um dos maiores exemplos do alto-rendimento a nível mundial. Mesmo para alguém que tem uma “boa escola”, já que para além do Benfica passou ainda pelo Casa Pia e pelo Sporting, existe sempre espaço para a melhoria de determinadas capacidades mais ou menos individuais. Acreditamos que o Futebol ganhava bastante com esta preocupação…

sábado, 13 de junho de 2020

O Conceito das Posições no Futebol - o caso de Matthijs de Ligt


Acreditamos que uma das maiores transformações que o Futebol está a tomar, sem por vezes se estar a aperceber muito disso, está relacionada com o conceito das “Posições”. E isso acontece se olharmos tanto para uma escala mais individual ou outra mais colectiva…


Peguemos então numa escala mais Micro, e no caso de Matthijs de Ligt. Gostaríamos de falar sobre este prodígio holandês de apenas 20 anos mas que já é considerado como um dos melhores defesas-centrais da Europa, não fosse ele adquirido pela Juventus pela modica quantia de 85M€.

Durante este período de confinamento, aproveitámos para colocar algumas leituras e vistorias em dia, tendo-nos chamada a atenção uma entrevista de De Ligt no site da Juventus, assim como o jogo do título do Ajax em Sub15, aquando da geração de ’99 nesse escalão. O que ambas têm em comum? O facto de falarem/mostrarem que temos de reflectir mais sobre aquilo que é a “Posição” do jogador em campo.

A partir das palavras publicadas no site da Juventus, o mesmo admite que até aos 15 anos jogou como médio-ofensivo, jogando sempre no sector intermédio, providenciando muitas assistências e marcando muitos golos.

https://www.juvefc.com/de-ligt-i-used-to-play-as-an-attacking-midfielder/

Já no jogo do título de iniciados de 2014 contra o Feyenoord, De  Ligt começa o jogo na posição “6” e acaba na posição “9”. Isto numa equipa como o Ajax, que a cada ano é sempre das melhores do Mundo a cada escalão jovem!



Com estas duas “curiosidades”, acabamos por ficar com a cabeça a fervilhar, cheia de perguntas que só a própria estrutura técnica do clube poderá responder!

  • Até que ponto a rotatividade de “posições” promovida nos escalões mais novos do clube, ajuda a uma melhor adaptação a novas “posições” no futuro?
  • Porque motivo alteraram o seu posicionamento no escalão de Sub16 e não mais cedo ou mais tarde?
  • De Ligt foi colocado a médio de forma propositada para o desenvolvimento de outras capacidades ou foi por reconhecerem nele um bom médio?
  • Como deverá ser o processo de treino para facilitar uma maior adaptabilidade dos jogadores a diferentes “posições”?
  • De Ligt terá feito algum tipo de trabalho mais específico relacionado com a posição de defesa-central quando lhe foi pedida de uma forma mais regular essa “posição”?
  • Até que ponto poderá ser rico para os jovens jogadores estarem disponíveis para jogar em “posições” que não gostam?


Casos de sucesso como o de De Ligt, criam em nós, uma necessidade muito grande de pensar mais e melhor sobre aquilo que é a “Posição” em campo. Por culpa própria mas principalmente dos seus treinadores, muitos jogadores percorrem o caminho da experimentação e vivenciação de diferentes posições. Outros o caminho da especialização. Felizmente o Futebol é suficientemente democrático para mostrar que para se chegar ao topo, vários são os caminhos válidos…