domingo, 3 de julho de 2016

Os 23 de Fernando Santos desde o seu início - análise à formação desportiva de Portugal no Euro'2016

Quisemos saber mais sobre a história desportiva dos 23 escolhidos de Fernando Santos. Fomos tentar conhecer de onde vieram e por onde passaram os jogadores que representam a selecção nacional portuguesa, desde o seu primeiro ano de competição formal até ao final (?) do seu processo de formação - o último ano de juniores.

Desde logo é importante referir que dos 23 jogadores convocados, 8 nasceram fora de Portugal e que por isso, poderão ter tido o seu primeiro contacto com o Jogo, ainda em solo estrangeiro.

Para além dos casos de Anthony Lopes e de Raphael Guerreiro que nunca representaram qualquer clube português, todos os dados dos outros jogadores foram recolhidos no portal da Federação Portuguesa de Futebol.

Para estes dois jogadores acima destacados conseguimos apurar (wikipedia.com e transfermarkt.com) que Anthony Lopes é um “produto” da academia do Lyon, encontrando-se o guarda-redes no clube desde os Sub9; enquanto que Raphael Guerreiro tem um historial mais diversificado, tendo representado até aos Sub19: o  Blanc-Mesnil SF (1999-2005), o INF Clairefontaine (2005–2008) e o SM Caen (2008–2013).

Também Pepe fez grande parte da sua carreira jovem fora de Portugal, no Brasil, ao serviço do Corinthians Alagoano, chegando a terras lusas e ao Marítimo apenas na sua época de Sub19.

A pesquisa efectuada está então representada no seguinte quadro:


Antes de prosseguirmos a reflectir sobre o que o quadro nos mostra, importa clarificar que outro luso-francês, neste caso o Adrien Silva, começou a sua formação aos 5 anos na “escolinha” do FC Girondins de Bordeuax onde esteve até vir para Portugal e para o ARC Paçô.

Já no caso dos outros jogadores que nasceram fora de Portugal, a competição formal poderá ter nascido no nosso país. Também filho de emigrantes, Cédric Soares tem uma história desportiva mais linear, já que a sua família voltou para Portugal quando ele apenas tinha dois anos, não havendo, obviamente registos antes do seu ingresso no Sporting. 

Passando agora para os luso-africanos, as primeiras vivências futebolísticas deles parecem ser bastante semelhantes. William Carvalho (Angola), Éder e Danilo Pereira (Guiné-Bissau) vieram para Portugal ainda em criança tendo começado a jogar em clubes de menor dimensão ainda em tenra idade – no caso de Éder foi um pouco mais tarde.

Focando a nossa análise nos 20 que passaram maior parte da formação em Portugal começamos por dissecar aquilo que foram os seus primeiros contactos com o processo de formação formal, nomeadamente à “Idade de Ouro da Aprendizagem” – 6-12 anos propostos por Pacheco (2001) – ou seja, até ao escalão Sub13.

Iniciamos a nossa análise pelo princípio, isto é, pelo seu “birthplace futebolístico” – aqui entendido onde os jogadores passaram maior parte da sua iniciação futebolística – verificamos que quase metade dos jogadores iniciou a sua prática em clubes da AF Lisboa. Os valores aumentam quando ainda falamos dos Sub13 quando já mais de metade está a jogar nos campeonatos regionais da capital portuguesa.

É também importante destacar que alguns dos jogadores apenas começaram a competir formalmente no escalão de infantis. Contudo, acreditamos que não tenham começado a jogar futebol apenas nesta idade, mas que tivessem iniciado e desenvolvido a sua prática noutro contexto competitivo que não o do clube, ou seja, na rua.

Outra constatação é que nestas idades, em especial até ao escalão de Sub11, os clubes de referência de formação em Portugal – leia-se 3 grandes – ainda não têm uma grande representatividade. Até aos Sub11, apenas o FC Porto, consegue repetir dois jogadores (curiosamente, ambos acabam a formação nos clubes rivais – Benfica (André Gomes) e Sporting (João Mário)).

Já quando “subimos” para os Sub13, já todos os jogadores estão a competir em determinada equipa. É neste escalão que existe uma maior diversidade de clubes e proveniências, de Trás-os-Montes ao Algarve, passando pelas ilhas, os cracks vêm de todo o lado, por mais estranho que possa parecer numa perspectiva cada vez mais centralizada.
Neste capítulo importa aqui destacar o Sporting CP. Ao observarmos o quadro, verificamos que são 15 os clubes que estão representados neste escalão etário mas apenas o Sporting consegue “ter” mais do que um jogador. E logo seis! Ainda nesta referência, é pertinente vermos que estes seis jogadores desempenham diferentes posições no campo, contrariando a ideia muitas vezes em voga de que o Sporting CP apenas forma “extremos”: guarda-redes (Rui Patrício), defesas (Cédric e José Fonte), médio (João Mário), avançados (Cristiano Ronaldo e Ricardo Quaresma). 

A partir do escalão Sub14 começa a diminuir a diversidade de clubes representados no quadro. A partir do escalão de iniciados os jogadores começam progressivamente a concentrar-se em determinadas equipas, com enfâse especiais nos três grandes. Com estes dados, podemos inferir que os jogadores de top nacional começam a ser recrutados a partir deste escalão, indo de encontro a alguns estudos que definem este grupo etário como o ideal para começar a recrutar.

Avançando para o último ano de júnior, o escalão Sub19, a diversidade de clubes é a mais reduzida. Para além dos “três grandes”, apenas Belenenses, SC Braga, Feirense e Adémia viram jogadores seus estarem presentes no Euro’2016. De todos, não podíamos deixar escapar o jogador que ainda com 19 anos representava o “ilustre desconhecido” ADC Adémia e hoje leva já 28 internacionalizações. Falamos de Éder, jogador mais contestado de todas as escolhas de Fernando Santos mas que é também aquele que tem a “escola” (teoricamente) mais fraca. Embora acreditemos que o jogador poderá apresentar algumas limitações no seu jogar, não deixa de ser também criticável que tantos clubes de referência a nível da formação continuem sem conseguir desenvolver talentos para a frente de ataque portuguesa. Se os “falhanços táctico-técnicos” de Éder são condenáveis, porque não condenar também os “falhanços de formação” dos melhores clubes portugueses, no que a esta posição diz respeito?

Ainda sobre este escalão, mais uma nota de destaque para o Sporting CP. São dez os jogadores que nos Sub19 jogavam (alguns ainda jogam) no Sporting. Como se não bastasse, das 183 épocas que os jogadores passaram no seu período competitivo formativo, mais de um terço foi com o lema dos “leões” ao peito. Compreende-se assim o porquê do Sporting ser considerada (e os dados do quadro comprovam isso) uma das melhores escolas de formação do Mundo…

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