quinta-feira, 20 de maio de 2021

E se só se pudessem convocar para o Euro'2020 os que jogam em Portugal?

Semanas antes do Euro’2016, fizemos a seguinte pergunta: “e se existisse uma competição europeia de selecções onde apenas se pudessem levar os jogadores nacionais a actuar no próprio país?”

Em preparação para o Euro’2020, voltámos a querer entrar na “brincadeira” e voltámos a fazer a selecção dos nossos 23. Há 5 anos falhámos com alguns nomes, acertámos com outros e até repetimos escolhas que continuam a preencher as nossas medidas enquanto Treinadores.

Horas antes da convocatória final de Fernando Santos para o Euro, eis a nossa escolha segundo o nosso critério:

Beto – a experiência de quem já defendeu muitas balizas por essa Europa fora. O facto de aos 39 anos, ter passado da Segunda para a Primeira Liga, mostra que a informação que vem no cartão de cidadão pouco importa quando se trata de avaliar a competência de um profissional. Aliado aos seus atributos técnicos está uma personalidade muito carismática e apreciada por grande parte dos seus pares. O papel que poderá ter como tutor junto de guarda-redes mais novos, é algo que também apreciamos bastante e também por aí justificativo para esta nossa convocatória.

Diogo Costa – não é fácil escolher um suplente. A nossa sorte é que vamos tendo oportunidade de o ir vendo em acção no Porto, mas sobretudo na selecção Sub21. Parece-nos, sobretudo um guarda-redes de equipa grande, sempre muito comunicativo e muito concentrado tacticamente. Ou seja, faz muito do seu trabalho como guarda-redes sem ter necessariamente de defender. Já quando o tem de fazer, parece ter de trabalhar um pouco mais o seu preenchimento da baliza, ficando por vezes a sensação que poderia ter feito um pouco melhor.

Bruno Varela – dos guarda-redes mais influentes da época. Ou muito nos enganamos ou o Vitória de Guimarães poderia ter tido uma época ainda mais conturbada caso Bruno Varela não se tivesse apresentado com tanta qualidade. Num sector tão instável, foi o guarda-redes a salvar muitas vezes a equipa, em especial nos jogos em que o clube apresentou os resultados mais positivos. É verdade que poderia ter sido ainda melhor (como toda a equipa vitoriana) mas dentro de um descalabro total, foi dos que mais se salvou.   

Nuno Mendes - talvez, dos melhores jogadores do Mundo nascido em 2002. Tem de tudo, e tudo de bom. Não é fácil apontar algo mais negativo ou menos bom ao jovem lateral leonino. Mesmo assim, e para além da sua tenra idade, admitimos que poderá vir a ser ainda melhor quando vier a dar o "salto" para um clube ainda melhor a nível europeu. Clube esse que com certeza, será do Top10 do Futebol europeu.

Rúben Vinagre - ataca e defende como um extremo, o que para defesa-lateral não é muito positivo. Após uma leitura mais racional de alguns golos sofridos pelo Famalicão, verificámos que o seu posicionamento deixou algo a desejar. Já quando está em processo ofensivo, é um dos defesas-esquerdos que mais promete nessa Europa fora.

Pepe – categoria pura! Não é a idade que o limita. Pelo contrário, poucos jogadores devem reconhecer as suas limitações tão bem como o Pepe. Cada vez mais preciso na dimensão Táctica do jogo, apostando na antecipação e num correcto posicionamento para corrigir uma eventual perda de velocidade e agilidade fruto dos seus 38 anos. Sempre agressivo, parece ter perdido alguma imprudência que o caracterizou ao longo dos anos. Quem jogar ao seu lado, tem tudo para crescer e se tornar também ele num central d topo.

Gonçalo Inácio – uma das surpresas da época. Admitimos que não conhecíamos este miúdo, e que bela surpresa se mostrou este jovem defesa-central. Numa linha bastante experiente, com Coates e Feddal, Gonçalo Inácio conquistou a titularidade como central do lado direito, corporalizando uma das palavras mais importantes do Futebol: eficácia. Sem ser muito exuberante, passando muitas vezes despercebido em relação a Coates e Feddal, Inácio não precisou de muitos jogos para ganhar o seu espaço e acabar como titular indiscutível dos campeões portugueses.

Fábio Cardoso – um dos casos mais peculiares da nossa liga. Bastante elogiado por muitos colegas de profissão, há algum tempo que se lhe antecipa um “salto” para outros voos. Curiosamente, acabou a época sem ter que o fazer, visto ter ajudado e muitas vezes capitaneado o Santa Clara para a 6º posição, alcançando a vaga da nova Conference League. Defesa a 3 (5) ou defesa a 4, Fábio Cardoso é um dos defesa-centrais tacticamente mais competentes do campeonato, tentando corrigir dessa forma, algumas debilidades mais individuais ao nível da agilidade e da mudança de velocidade.

Diogo Leite – está a tardar a confirmar todo o potencial que se lhe antecipava. E talvez por isso hesitámos tanto em inseri-lo na convocatória. Mas o facto de ser esquerdino, permite-lhe ganhar terreno perante muitos outros concorrentes. Pode parecer um preciosismo mas a verdade é que valorizamos bastante a relação do pé dominante com o espaço que os jogadores ocupam no campo. Diogo Leite parece estar muito preso à sua relação com Diogo Queirós, onde ambos se transformam para muito melhor, complementando-se de uma forma única. Contudo, a verdade é que quando jogam separados a qualidade acaba por ficar mais condicionada.  

Ricardo Esgaio – está-se a tornar cada vez mais num jogador bastante completo. Daquelas adaptações de extremo para lateral que correram muito bem. Nota-se que é um jogador que tem “escola” e que ao longo dos anos tem aprimorado e corrigido algumas debilidades no seu jogo. Parece-nos mais competente numa defesa a 3 (ou 5), podendo oferecer mais ao jogo com essa estrutura, mas mesmo numa defesa a 4, não deixa de cumprir com as suas tarefas defensivas. O facto de ser um dos capitães do Braga, mostra a importância que o jogador também tem dentro do balneário.

Fernando Fonseca – parece que tem pilhas que nunca mais acabam. Velocidade, agilidade, agressividade, tem aquilo que um bom defesa direito deve ter, mostrando que quando chegou a ser apontado à Juventus, o feito não foi por acaso. A esses atributos mais “físicos” juntam-se outros que lhe permitem antecipar qualidade num jogar mais apoiado e posicional. Valorizou-se bastante ao longo da boa época do Paços, esperando-se contudo, que venha a melhorar ainda mais na próxima época, em especial na ligação com o sector mais ofensivo.

Palhinha – considerado por muitos o melhor jogador do campeonato, Palhinha é daqueles médios que qualquer treinador (arriscamo-nos a dizer) do Futebol europeu gostaria de ter no seu plantel. Não lhe chegava ser muito competente a nível táctico-técnico, Palhinha é um verdadeiro “Bicho” ocupando o meio-campo de uma forma brutal como um gigante que é. Parece estar sempre comprometido com o jogo a 110%, tentando corrigir potencias incorrecções posicionais dos seus colegas. Recorde-se que joga normalmente apenas com mais um colega no eixo do meio-campo leonino, mas isso, nem se chega a notar, tal é a sua competência em preencher todo o meio-campo.

Pepê – contratação importantíssima para o Famalicão, mas em que estranhámos a incapacidade que teve em se assumir no Olympiakos. Felizmente para o campeonato português, regressou e logo para ser um dos melhores jogadores da segunda volta da Liga. Sempre muito cerebral, poderá não ter a “intensidade” ou “agressividade” que muitos treinadores gostam de ver para a posição mais recuada do meio-campo – não é por acaso que temos tão poucos jogadores portugueses a actuar nessa posição em Portugal. Pensa, mas também, executa sempre muito bem, saindo a bola sempre muito “redondinha” dos seus pés. Deixou muita água na boca para a próxima época.    

Sérgio Oliveira - quem o viu e quem o vê. Quanto a nós, das maiores evoluções do Futebol português nos últimos anos. Com um estilo muito próprio e sem ser um jogador muito exuberante, é extremamente competente a nível táctico, compensando dessa maneira alguma falta de pujança "física" tão valorizada por Sérgio Conceição. Já a nível técnico, atingiu um nível que o coloca como um dos melhores médios-centro do Futebol europeu.

João Mário – tornou-se um jogador diferente daquele que o conhecemos quando se assumiu no Sporting. Mesmo ao longo da época não teve a consistência que a sua grandeza se lhe exigia. Fez jogos absolutamente deliciosos, sempre com a conquista de espaços como referência, fosse com bola através do passe, fosse sem bola à procura de a receber. A exigência de um meio-campo a dois, talvez tenha exigido dele algo que não estaria preparado para assumir com tanta disponibilidade, depois de anos em que não foi escolha indiscutível no seu clube. Por vezes parecia mesmo algo envergonhado e alienado do jogo, mas isso era “só” a sua concentração máxima como grande médio que é.

Daniel Bragança - a suplesse em forma de jogador de Futebol. Digam que funções querem que ele desempenhe no meio-campo que ele as fará com superior qualidade - qualidade essa também muito dependente de quem tiver ao seu lado, como já escrevemos aqui no blog. Dos jogadores mais competentes no plano táctico-técnico que Portugal tem ao seu dispor. Joga, mas também faz jogar. Há quem diga que lhe falta isto e aquilo, em especial nas capacidades menos cerebrais do Jogo. Mas o que ele tem, têm-no de muito bom!Fábio Vieira - requinte e elegância, são duas das melhores qualidades que definem este miúdo. Sem "perfil" para ter um papel constante no FC Porto, deverá, quanto a nós, procurar uma equipa que apresente um outro jogar, mais propenso ao seu jogo mais técnico e cerebral. O Porto encaixaria muito dinheiro, e ele ganharia uma importância maior no panorama do Futebol nacional.

Pote – parece que não tem nada de especial. Nem tão pouco é fácil defini-lo quanto ao conceito de “posição” e de “função”. A verdade é que foi campeão e o melhor marcador do campeonato. Este antigo gordinho transmontano fez-se um verdadeiro jogador, com características muito próprias e um talento enorme para vir a ser uma peça importantíssima para a história do Sporting. Cerca de 25 anos depois, voltámos a ter um “Melhor Marcador” português, bastando ver o último jogo do campeonato para conhecer melhor o faro, inteligência e leitura que este médio e/ou avançado tem.

Ricardo Horta – dos jogadores mais subvalorizados (do mundo?) do Futebol. Lamentamos muito como ainda não conseguiu ter o seu espaço junto de Fernando Santos, até quando se apresentava numa “forma” única em comparação com outros compatriotas. Lá na frente consegue apresentar qualidade a jogar por dentro, por forma, mais como médio, mais como avançado. Peçam-lhe o que quiserem que ele cumpre com muita irreverência e competência. Por vezes vamos longe à procura de Talento, com jogadores desta qualidade aqui tão perto. Dos nossos preferidos!

Nuno Santos – tem crescido degrau a degrau. As duas roturas de ligamentos que sofreu há anos atrás faziam crer que dificilmente conseguiria alcançar todo o potencial que se lhe previa, primeiro no Porto e depois no Benfica. Curiosamente alcançou a glória num terceiro “grande”, com um papel mais ofensivo do que aquele que mostrou em Rio Ave. Agressividade e objectividade, são as suas melhores armas para atacar a profundidade do ataque leonino, e como isso foi importante em certos jogos do campeonato!   

Rafa Silva – uma carreira de altos e baixos, fruto de uma inconsistência que persegue o seu Futebol, tal como as constantes mudanças de velocidade que imprime no seu jogo. O melhor Rafa Silva que já tivemos oportunidade de ver, é sem dúvida um jogador diferenciado. Contudo, o pior Rafa Silva, é um jogador que roça o mediano, com um poder de finalização muito aquém do esperado. Como optimistas, preferimos o primeiro e assumiríamos a sua convocatória.

Paulinho – talvez o jogador mais “bipolar” da convocatória. Desde logo pelas suas características únicas, de ser um ponta-de-lança bastante altruísta que mais do que jogar, faz jogar os outros. A sua especificidade é algo de tão belo como complexo, que exige à equipa, mas sobretudo ao Treinador, saber “espremê-lo até ao tutano” para ele ser capaz de oferecer à equipa tudo o que de melhor sabe fazer. Acreditamos que mesmo já não sendo nenhum jovem, tem capacidade para crescer ainda mais e limar algumas arestas que o fazem ainda ser “odiado” por alguns adeptos. Mesmo os sportinguistas.

Tiago Tomás – a flecha em forma de jogador de futebol: rápido, esguio e objectivo, julgamos que é a melhor forma para caracterizar o futebol de Tiago Tomás. Na nossa opinião, falta-lhe curiosamente a capacidade de carregar no “pause” para fugir um pouco ao seu estilo demasiadamente vertiginoso, já que acreditamos que o Futebol não deva ser sempre jogado a “mil à hora” como ele gostaria. Também por todo o crescimento que se lhe prevê, acreditamos que tem um potencial enorme para vir a ser um jogador de topo. Mas também acreditamos que tanto ele como quem o rodeia, terá de olhar para essa dimensão potencial, e não querer queimar etapas que o queiram colocar aonde ele (ainda) não está.