quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Dois centrais a titular, mais três no banco - o caso do Manchester City

 

Passou-se nos últimos dois jogos para o campeonato. O Manchester City apresentou-se a jogo com cinco defesas-centrais na ficha de jogo, dois a titulares e mais três no banco de suplentes.

Claro que o conceito de “posição“ é sempre muito relativo conforme aquilo que o seu Treinador interpreta sobre o mesmo. Sabemos que embora consideremos Nathan Aké, Ruben Dias, Aymeric Laporte, Eric García e John Stones defesas-centrais, todos eles têm o seu Talento específico, oferecendo ao jogo, tanto a título individual quer a título inter-relacional, diferentes virtudes e defeitos.

Estas fichas de jogo ainda nos causam mais perplexidade quando vemos que o Manchester City é propenso a utilizar três jogadores mais recuados durante grande parte do seu processo ofensivo, com a inclusão de Kyle Walker na linha dos defesas-centrais.

Contudo, esta nossa reflexão está longe de ser Táctica, prendendo-se antes com duas outras áreas: a do Recrutamento e a da Formação.

Em primeiro lugar, e relativamente ao Recrutamento, causa-nos alguma estranheza que uma equipa como o Manchester City não tenha abordado o mercado de transferências de outra forma, antecipando uma época extremamente exigente a nível fisiológico, dada a carga de jogos que os jogadores dos Citizens irão ter entre os seus compromissos de clube e de selecção - Guardiola é mais um dos treinadores de topo que já se queixou sobre essa problemática. Assim, o Manchester City encarou o início de época com “apenas” Gabriel Jesus, Kun Aguero, Kevin De Bruyne, Raheem Sterling, Ryad Mahrez, Bernardo Silva, Ferran Torres e Phil Foden. Parecem muitos, mas estamos a falar de jogadores de dois sectores diferentes, entre médios de características mais ofensivas e avançados. É certo que contabilizamos dois jogadores por posição, mas também é certo que alguns têm alguma propensão a lesões, como os exemplos de Bernardo Silva, Aguero ou Gabriel Jesus, que esta época já falharam jogos por lesão.


Em segundo, e sendo o Manchester City um clube que tanto investe na sua Formação, acaba por ser um pouco incompreensível que Guardiola não “confie” de uma forma mais efectiva nos “miúdos” do clube. É verdade que a equipa tem estado uns furos abaixo a nível defensivo, mas também é verdade que está longe de ser o “rolo compressor“ que já foi. Por isso, e tendo a equipa alguma necessidade de marcar golos, causa-nos também alguma estranheza este desprezo pela Formação. Temos uma posição bastante defensiva sobre a “Pressa” na utilização de jovens talentos, mas neste caso, e olhando para nomes como Oscar Bobb, Liam Delap ou Samuel Edozie, esperávamos que fossem chamados de uma forma mais recorrente.

Não queremos de todo colocar em causa as escolhas de um dos Melhores Treinadores do Mundo. Apenas gostaríamos de entender melhor a justificativa dessas mesmas escolhas, que tanta reflexão nos causam...

Imagens Sport TV



domingo, 8 de novembro de 2020

Manchester United e a sua (des)organização defensiva contra o Basaksehir

 

Sim, o Manchester United tornou a ter uma boa vitória, desta vez em casa do Everton, mas isso não apaga a sua falta de qualidade defensiva que tem mostrado ao longo desta época.

Na quarta-feira foi mau de mais. Foram erros muito explícitos ao nível da organização defensiva, aqueles que o Manchester United manifestou durante a primeira-parte do seu jogo contra o Basaksehir.

Nós trazemos três, mas poderiam ter sido mais.

O que aqui partilhamos em primeiro lugar é aquele que, de tão ridículo, já se tornou viral. Ainda cedo no encontro, Demba Ba é escandalosamente esquecido pelos 10 jogadores de campo do Man United, ficando assim, isolado perante Dean Henderson após passe de Edin Visca.

O segundo lance que aqui trazemos representa um dos maiores problemas da organização defensiva da equipa de Solskjaer. A falta da eficácia das coberturas defensivas. Nesta imagem, vemos que Wan-Bissaka deixa a sua posição mais interior para sair à pressão de Visca que acaba de receber a bola. Com esta "ganância", vemos o imenso espaço que se cria entre Wan-Bissaka e Baily, prontamente aproveitado pelo Basaksehir.

No nosso entender, o lateral direito deveria ter mantido melhor a sua posição, mas ao não fazê-lo a equipa, funcionando em interacção, deveria ter feito o devido ajuste posicional e deveria ter encurtado esta distância para com Wan-Bissaka.

Já o terceiro lance é relativo ao segundo golo sofrido pelo United. Após perda de bola numa recepção falhada de Mata, a equipa teve uma péssima reacção à sua perda.

Os médios demoraram muito a encurtar o espaço junto dos centrais, tal como o defesa-esquerdo Luke Shaw, que no momento de perda estava posicionado de uma forma extraordinariamente ofensiva, bastante projectado no seu corredor.

Imagens Eleven Sports

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Burkina Faso. Dos jovens com futuro, ao passado sem presente – com Rui Vieira

 

Poucas nações africanas contam com uma geração de novos talentos tão interessante como o Burkina Faso.

Jogadores como o elegante defesa-central Edmond Tapsboba (Bayer Leverkusen), o goleador Lassina Traoré (Ajax) e o lateral Issa Kaboré (Man. City) são talvez as maiores promessas dos Les Étalons mas não são as únicas esperanças deste país africano.

Outros como o jovem médio-ofensivo Salifou Diarrassouba (St. Gallen), o polivalente Abou Ouatttara (Vitória Guimarães), o extremo Hassina Bandé (Ajax) e o também extremo Abdoul Tapsoba (Standard Liège) estão na calha para virem a ser boas referências no Futebol local. 

Jovens talentos que se juntando aos ainda jovens jogadores Bertrand Traoré (Aston Villa) e Hervé Koffi (Royal Mouscron), têm tudo para vir a serem uma selecção muito interessante a curto prazo.

Contudo, e embora reconhecendo que o futebol africano é rico em “diamantes brutos”, também é verdade que muitos jovens se vêm a mostrar uns autênticos foguetes molhados e por isso é sempre difícil criar expectativas em relação às selecções deste continente.

Infelizmente para Les Étalons, o Burkina Faso é um bom exemplo disso, quando recordamos a geração Sub17 presente no Mundial de 2011 sob comando do Transmontano Rui Vieira.

Para entendermos melhor a realidade do Futebol jovem em África, particularmente no Burkina Faso, lançámos o desafio precisamente ao Mister Rui Vieira, que teve a amabilidade de nos responder a 5 perguntas:

 

  1. Quando se fazem rankings de jovens promessas do Futebol Mundial, aparecem sempre muitos jogadores africanos ou de origem africana nessas listas. O que faz deles assim tão especiais? 

R.V.: O que faz deles especiais é uma aptidão natural falando a parte técnica, desenvolvida essencialmente no futebol de rua , geralmente em terra batida. (na Europa o futebol de rua desapareceu).

E também uma vontade indomável de vencer na vida, via  futebol.

O El Dourado no futebol africano é a Europa.

Então essencialmente esses dois factores fazem com que muito novos tenham uma qualidade extraordinária tanto técnica como fisicamente.

 

  1. Porque é que assistimos a uma dificuldade tão grande na passagem do jovem jogador africano para as exigências do Futebol profissional?

R.V.: Essa dificuldade da passagem do jogador jovem africano, para o futebol profissional,  tem 2 vertentes essenciais.

A primeira é a dificuldade do jogador africano se adaptar ao futebol super táctico europeu, porque em África privilegia-se um futebol meio anárquico, com rasgos de individualidade.

Os jogadores "africanos" nascidos na Europa, já não têm essa dificuldade.

O outro factor a meu ver, é o deslumbramento.

Nunca foram educados para lidar com uma vida cheia de oportunidades e facilidades que há na Europa.

Esse deslumbramento é o pior que pode acontecer.

 

  1. Tal como a geração de Sub17 de 2007 da Nigéria e do Gana, por exemplo, repletas de qualidade, também o Burkina Faso de 2011 não viu nenhum jogador atingir um patamar competitivo superior. Alguma razão em especial para isso ter acontecido a esse grupo de jogadores?

R.V.: Estão referidas na resposta à pergunta feita anteriormente.

Na minha experiência, só o Bertrand Traoré conseguiu um patamar mais alto.

De resto nenhum conseguiu sequer entrar numa equipa de segunda liga europeia.

E fomos campeões africanos.

 

  1. Porque é que há países em que os jogadores africanos têm mais facilidade em se afirmar do que outros? Portugal tem sido particularmente duro com alguns como: Rabiu Ibrahim (apontado outrora como um dos futuros melhores jogadores do mundo), Moreto Cassamá (quando era Sub17, foi bastante cobiçado pelo Tottenham e Manchester City), Ishmael Yartey (apelidado de Ryan Giggs ganês); no entanto nunca chegaram a atingir o patamar que se antecipava…

R.V.: Na minha perspectiva os países que melhor entendem os jovens africanos são a França, Inglaterra, Holanda.

Talvez porque as comunidades africanas nesses países sejam muito mais integradoras,  devido à sua grande proporção nesses países.

Então eles têm um suporte diferente dos outros países.

 


5.    O que é que é preciso acontecer para vermos mais Talentos africanos nos grandes palcos europeus num futuro próximo?

R.V.: Na minha perspectiva tem que haver um acompanhamento maior e uma intervenção psicológica de proximidade.

O grande problema é a procura do lucro fácil e não querem gastar tempo com essas medidas.

Mas estou em crer que resultaria.