A
poucas jornadas do fim, fomos desafiados pelo amigo Rui Pedro Pimenta para
fazer o nosso “Onze Alternativo do Ano”. Dessa forma, quisemos excluir os
jogadores que compõe os quatro primeiros classificados da presente edição da
Liga Nos, dando espaço a jogadores menos mediáticos mas aos quais reconhecemos
bastante Talento.
E
se é verdade que concordamos com o Carlos Daniel quando nos diz que “o campeonato
foi fraco, com poucas equipas a escapar à mediocridade” também reconhecemos que
individualmente até foi um ano com muita competência, entre estreias,
consolidações e regressos de muitos e bons jogadores.
Em
relação ao nosso XI, o mesmo é escolhido segundo os referenciais
comportamentais que nós mais apreciamos, sejam eles colectivos ou individuais.
Sendo assim, poderemos estar a ser moldados por uma análise mais emocional e
menos racional no que ao valor dos jogadores diz respeito.
Por
fim, gostaríamos ainda de referir a nossa escolha para treinador. Como se exige
talento para lidar com talento, escolhemos Carlos
Carvalhal como aquele que para nós foi um dos melhores treinadores do
campeonato. Em especial no plano da intencionalidade, o Rio Ave apresentou-se
como a equipa mais rica do campeonato, pecando por vezes por alguma falta de
estabilidade para se apresentar ainda de melhor maneira.
Numa
época bastante atípica, aguardamos já pela próxima. Com a esperança que seja
muito melhor do que aquela que hoje terminou…
Na
Espanha o tamanho conta. Quase todos os clubes da principal liga espanhola têm
nos seus plantéis, pequenos génios que deslumbram talento pelos relvados do
nosso país vizinho. De Brahim a Kubo, quisemos aqui nomear os que para nós são
alguns dos “Pequenos Grandes Génios” de La Liga.
Contudo,
não quisemos nomear jogadores como Modric, Marcelo, Hazard, Cazorla, Messi,
Jordi Alba, Arthur ou mesmo Ansu Fati, que têm já o seu Talento consagrado no
panorama internacional. Preferimos antes valorizar outros, que mesmo fazendo
parte de alguns dos melhores clubes do mundo, ainda não atingiram o patamar que
se prevê que eles atinjam.
Ou
seja, colocando os nomes acima de parte, tal só vem comprovar o objectivo desta
reflexão. Para os espanhóis, o tamanho conta!
Brahim
– Real Madrid – 1,71m
Ainda
com muita idade para crescer, nascido no ano vintage de ’99, Brahim é um médio
ofensivo hispano-marroquino, formado no Malaga e no Manchester City. Canhoto,
tecnicamente dotado, é muito forte no drible e na imprevisibilidade nos
momentos de 1v1. Muitas vezes tenta, com sucesso coisas que só parecem serpossíveis nos videojogos e no YouTube,
mostrando um nível de relação bola/corpo, muito acima da média.
Está
com dificuldades em se conseguir afirmar no Real, podendo não ter feito a
melhor escolha na saída do Manchester City. Talvez lhe tivesse sido mais ideal
um contexto com um nível de exigência ligeiramente inferior, mas que lhe
permitisse, ao mesmo tempo, jogar ao mais alto nível.
Riqui
Puig – Barcelona – 1,69m
O
mais baixo desta lista. Puig é um médio-centro com perfil tipicamente blaugrana.
Embora destro, parece jogar melhor sobre o lado centro-esquerdo. Identifica
muito bem aquilo que é a dimensão do Espaço, tanto para jogar, penetrando com
bola com relativa facilidade na estrutura defensiva do adversário – parece
fazer a finta longe do seu adversário, como para fazer jogar os seus colegas.
Parece mesmo que tem aquele sexto-sentido de premonição, por estar
constantemente a ler o jogo para identificar espaços vazios. Tem ainda a
capacidade de esconder a bola como poucos o fazem.
Formado
no Barcelona, ainda não conseguiu estabilizar-se na equipa principal de uma
forma tão recorrente como se antecipava. Daí muitos comentadores, acharem que
uma saída do Barcelona faria crescer muito o jovem espanhol de ’99.
Óliver
Torres – Sevilla – 1,75m
Um
dos mais belos jogadores que passaram por Portugal nos últimos anos. Mais do
que jogar, Óliver faz jogar a equipa, com a sua tomada de decisão fantástica,
acompanhada por uma qualidade executória igualmente extraordinária. Tem muito
passe nos pés, seja ele para perto, para longe, com o pé esquerdo ou com o
direito. Se Puig domina o Espaço, Óliver domina o Tempo como ninguém. Acelera
com tem que o fazer, e trava quando há pressa a mais, mostrando ser um jogador
extremamente inteligente nesta leitura.
Oriundo
das escolas do Atlético de Madrid, não é dos jogadores com o habitual perfil de
Simeone, embora tenha feito mais de 30 jogos na época 2015/2016 sobre o seu
leme. Outrora apontado como o “próximo Xavi” talvez tenha perdido esse comboio com
épocas menos conseguidas no Porto, fruto de um modelo de jogo menos exploratório
das suas capacidades.
Marc
Cucurella – Getafe – 1,75m
Talvez
o jogador menos virtuoso desta lista, mas dos mais eficazes nas suas acções.
Faz com qualidade qualquer uma das posições do corredor esquerdo e parece
também poder encaixar com qualidade em diferentes jogares. Daí não ser fácil
identificar se é mais forte a defender ou a atacar. Tecnicamente dotado do seu
pé esquerdo – não usa muito o direito – é bastante bravo e combativo, encarando
o jogo sempre a altas velocidades. Cucurella tem ainda uma boa capacidade de
último passe, levando 6 assistências na La Liga.
Embora
seja produto do Barcelona, não é dos jogadores que se note claramente essa
escola, embora tenha traços comuns ao perfil blaugrana. Depois de empréstimos
ao Eibar e ao Getafe, já estará certa a sua continuidade no clube madrileno.
Iker
Muniain – Athletic Bilbao – 1,70m
Embora
destro, joga habitualmente no lado esquerdo do ataque, procurando naturalmente
os espaços mais interiores para assim poder usufruir melhor do facto de jogar
com o “pé trocado”. Além disso, funciona muitas vezes como um segundo-avançado
nas dinâmicas ofensivas do Athletic, procurando espaços deixados em aberto por
Iñaki Williams. Com uma personalidade forte, é o capitão do Athletic, tendo
também nos escalões de formação espanhola, desempenhado as mesmas funções. Com
um drible curto, de muitas simulações epára-arranca,
Nascido
e criado no Athletic, de lá nunca saiu, e corre o risco de nunca sair, seguindo
a cultura de muitos outros grandes jogadores bascos, que permaneceram neste
ambiente basco muito particular. Com 3 lesões graves ao longo da sua carreira,
mesmo sem ainda ter completado 28 anos, fica a dúvida e o “se” poderia ter sido
diferente sem essas adversidades.
Kangin
Lee – Valencia – 1,73m
Sul-coreano
canhoto, ainda com idade júnior (!!!), manifesta um estilo asiático muito
presente no seu jogar. Tanto no lado mais colectivo, onde se mostra muito
irrequieto na procura constante de linhas de passe; quer no lado mais
individual, sempre muito ágil e rápido nas suas acções. É um jogador muito
forte no 1v1, embora às vezes não tenha necessidade desse confronto, adornando
por vezes demais essas suas acções. Isso mostra-se ainda mais um handicap,
porque Lee até tem uma boa qualidade de passe, fazendo muito bem a ligação
entre meio-campo e o ataque.
Embora
tenha vindo para a Europa com apenas 10 anos de idade, não se nota muito. Está
desde essa altura nos quadros do Valencia, mas a sua impressão digital
futebolística ainda nos remete muito para as suas origens asiáticas. Tem ainda
muito para crescer, e nada melhor que um bom clube espanhol para o fazer.
Enis
Bardhi – Levante – 1,72m
Dos
melhores jogadores Macedónios da actualidade, Bardhi é um médio-ofensivo
destro, muito forte no último passe. Graças a uma excelente tomada de decisão e
leitura de jogo enquanto tempo e espaço, Bardhi é o motor do jogo ofensivo do
Levante. Embora jogue normalmente como médio-centro, gosta muitas vezes de
fugir, literalmente, para os corredores laterais, para assim poder construir o
jogo com menos adversários por perto. Bardhi é ainda muito forte nas mudanças
de direcção e de velocidade quando encara os adversários em situações de 1v1.
Tem
um percurso de carreira bastante exótico, saindo cedo do seu país para a Escandinávia.
Contudo foi no Újpest da Hungria que alcançou um patamar qualitativo mais
interessante, antes de ser recrutado pelo Levante. Tem sido associado ao
Arsenal de uma forma muito intensa, e com a ligação do clube à Espanha, é
bastante credível que essa mudança possa acontecer.
Rafinha
Alcântara – Celta de Vigo – 1,74m
Internacional
brasileiro já por duas ocasiões, o mais novo dos Alcântaras é um médio-centro
canhoto com qualidade, tanto para defender como para atacar. Tecnicamente
evoluído, não tem qualquer problema em ser agressivo a defender, indo muitas
vezes ao choque na procura da conquista da bola, sendo um jogador com um número
interessante de recuperações de bola. Quando está em terrenos mais próximos da
baliza adversária, não tem qualquer problema em procurar o golo, através do
remate exterior. De drible curto, mas pouco explosivo, tanto gosta de um futebol
mais prático de toca e passe, como gosta de adornar os lances à bela maneira
brasileira, com simulações de corpo e toques de habilidade.
Embora
nascido no Brasil, é o melhor “produto” da geração de ’93 de La Masía, se
considerarmos que Icardi não foi um “produto” acabado lá, tendo iniciado em
2007 o seu percurso na Academia do Barcelona. E desde então, nunca perdeu a
ligação com os blaugrana, mesmo tendo já representado o Inter e estando já na
sua segunda passagem pelo Celta. Contudo, e embora já tenha muitos quilómetros
na Europa, há algo de muito brasileiro no seu Futebol.
Takefusa
Kubo – Mallorca – 1,73m
Um
dos jogadores mais empolgantes desta lista. Ainda um miúdo com idade júnior, já
marcou 4 golos e fez 5 assistências em La Liga, sendo também já internacional
japonês. Embora seja mais um canhoto, joga maioritariamente partindo do corredor
direito para assumir o papel de organizador de jogo. Tem um footwork
extraordinário, muito rápido e ágil na finta, mas também muito rápido e ágil na
interpretação do jogo. Não se “esconder” do jogo é mesmo uma das suas melhores
características, utilizando constantemente o “jogo de pescoço” para observar o
que se passa à sua volta. Tanto “destrói” um adversário mais modesto como
brilha contra o Real, Barça ou Atlético de Madrid. Por vezes parece
entusiasmar-se de mais, perdendo um pouco o timing para tomar uma decisão mais
acertada.
Veio
em tenra idade para a Catalunha, onde se desenvolveu no Barcelona entre 2010 e
2015, antes de regressar ao seu país. Com muitos jogos pelo FC Tokyo, no início
da presente temporada foi novamente recrutado para jogar na Espanha, fazendo
neste momento parte dos quadros do Real Madrid. Depois de uma época brilhante
ao serviço do modesto Mallorca, tem tudo para assegurar um lugar nos Merengues
para a próxima época.
Estes
foram apenas 9 dos pequenos grandes génios que brilham em Espanha.
Recordamos
que a lista foi baseada na informação recolhida no site zerozero.pt e referente
a jogadores com, no máximo, 1,75m de altura.
Após
a paragem forçada por causa do Covid-19, várias foram as equipas em Portugal
que manifestaram em campo o recurso a uma estrutura defensiva composta por 5
defesas (ou 3 defesas-centrais, se preferirem).
Dos 6 primeiros classificados em Portugal, Sporting CP, SC Braga e Rio Ave, já
utilizaram neste período uma defesa com três defesas-centrais, apesar das
diferentes nuances estratégicas e dinâmicas estruturais de cada um.
A
partir da observação de alguns jogos temos tirado alguns apontamentos acerca de
pontos mais positivos ou negativos que essas dinâmicas posicionais nos têm mostrado.
Começamos
pelo que constatamos de positivo.
1. boa
associação numa primeira fase de construção, fruto de uma superioridade
numérica em zonas mais recuadas do relvado. Quem procura uma construção através
de passes mais curtos e apoiados, parece estar a conseguir ter uma maior
facilidade neste sub-momento do jogo, utilizando muitas vezes 5 jogadores + o
guarda-redes para “sair a jogar”;
2. variação
rápida e eficaz do centro de jogo, de um corredor para o outro, devido a uma
aproximação mais curta das coberturas ofensivas. Por estarem em grande parte
das vezes três jogadores atrás da linha da bola, permite através de uma forma
segura e eficaz, que a bola passe de um corredor lateral para o outro com
relativa facilidade;
3. utilização
do apoio frontal, facilitando a dinâmica do “terceiro-homem” em espaços mais
adiantados, devido ao deslocamento do extremo para terrenos mais interiores. A
largura é muitas vezes assegurada pelo ala, convidando o extremo a ir mais para
dentro.
Contudo,
nem tudo tem sido manifestado da melhor maneira.
1. dificuldades
na ligação associativa entre o sector intermédio e o sector atacante,
principalmente quando as equipas se encontram em posse em terrenos mais
adiantados e o espaço para jogar é bastante mais reduzido, com o aumento do
número de adversários;
2. dificuldade
em atacar "por fora", por muitas vezes serem utilizados jogadores
nestes espaços com mais dificuldades no momento ofensivo. Ou seja, como muitas
vezes os alas são escolhidos predominantemente devido às suas competências
defensivas, mostram alguma dificuldade no momento ofensivo, consequência de uma
maior debilidade em acções como o drible, a finta, o último passe, etc.;
3. falta
de complementaridade das duplas, seja a de duplo-pivot em meio-campo a dois; ou
dupla de avançados, em meio-campo a três. Por ser uma estrutura que coloca
muitas vezes estas duplas em inferioridade numérica, exige tacticamente muito
dos jogadores, obrigando-os a serem bem mais fortes no seu todo do que a soma
das suas partes.
Embora,
sabendo que não deveríamos desassociar os momentos das transições, não o
fizemos por opção própria neste texto, esperando reflectir sobre isso numa
próxima vez…
Resumindo,
e vendo jogar estas equipas com esta estrutura, verificamos que tem tudo para
ter vindo para ficar.