segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Do "Aquecimento Pré-Jogo" para o "Treino Pré-Jogo": uma Mudança de Paradigma!?


E se começarmos a olhar para o “aquecimento” antes do jogo como um “Treino”?

Num recente jogo de juniores da cada vez mais desertificada região de Trás-os-Montes, assistimos a um insólito 11x10. A equipa forasteira teve algumas baixas no seu curto plantel, o que lhe conferiu uma desvantagem numérica logo no momento de início do jogo.

Tanto durante a viagem, como na palestra pré-jogo já se foi tentando acautelar esse desequilíbrio numérico. Contudo, foi no momento do aquecimento que se tentou ajustar a equipa, organizando-a para a necessidade de se jogar com 10. 

Nos primeiros minutos os jogadores realizaram alguns exercícios do chamado “aquecimento funcional” ou “articular”, com movimentos corporais padronizados e transversais a muitas modalidades desportivas. Em seguida, os jogadores realizaram um exercício (ou vivenciaram um contexto) propício para o aparecimento do jogar em duas linhas de 4, segundo a estrutura posicional para o jogo, com 2 apoios, como se pode ver na figura:



Neste contexto os laranjas (linha de médios) tinham como objectivo colocar a bola no avançado (verde), que através de constantes desmarcações, procurava receber, orientar e finalizar. Já os azuis (defesas), tinham como objectivo fechar os espaços entre central-lateral e central-central, e após recuperação colocar a bola no treinador-adjunto, obrigando a linha do meio campo a constantes ajustes de pressão e cobertura para a bola não entrar entre eles.

Esta vivenciação, que durou cerca de 10min, pareceu ter efeitos extremamente interessantes, em especial para o avançado. Esse jogador que tardava em ter uma atitude pró-activa no jogo, por ventura fruto da híper solicitação que teve no exercício, teve um comportamento bastante diferente em relação ao seu último jogo, parecendo ter ficado muito mais concentrado e inteligente em relação à interpretação do Jogo. 

E foi aqui que pudemos ter criado um novo paradigma na nossa cabeça... Terá sido coincidência? Para nós não. A partir desta circunstância, deixamos de ver o AQUECIMENTO como uma PREPARAÇÃO para passarmos a ver o AQUECIMENTO como uma POTENCIAÇÃO. Chegámos a ponte de nos questionarmos: Porque não considerar este espaço como mais um treino!? O futuro nos dará a resposta a esta pergunta…

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Cesc Fàbregas. O rapazito que já deu mais de 100 golos a marcar...

No Mundo contemporâneo cada vez mais apressado, tendemos a esquecer quem não o merece. O que é mau parece ficar. Já o genial precisa de ferramentas para ser relembrado.
Na presente época desportiva, isso está a acontecer com Cesc Fàbregas. Com um papel diminuto na estratégia de Sarri, os holofotes desapareceram daquele que foi um dos ícones de uma geração espanhola que reinventou o Futebol, e que desde 2004/2005 não faz menos de 30 jogos numa época, ao mais alto nível.

Nascido em 87, Fàbregas é um dos craques da classe vintage de La Masia, a mesma de Piqué e Messi. Quis Wenger que com apenas 17 anos, época de 2003/2004, Fàbregas iniciasse uma bela história de amor com a Premier League.

Embora só agora tornado oficial, a 31 de Dezembro de 2016 e 293 jogos depois da sua estreia para o campeonato, o médio-centro espanhol atingiu o record de menos jogos necessários para realizar 100 assistências para golo na Premier League.

Tentámos ver todas elas. Não conseguimos. Mas fomos à procura de padrões comportamentais que caracterizassem esta difícil arte que é a de dar golos a marcar.

Antes de mais, importa que referir que olhamos para Fàbregas como um dos melhores jogadores do Mundo a Passar a bola aos seus colegas. E quando falamos em Passar, escrevemo-lo com letras maiúsculas de propósito porque para nós o Passe não se mede só pela qualidade da sua direcção.

Aquilo que de melhor vemos neste que é um dos melhores é o seguinte: 
·         O domínio perfeito daquilo que são as trajectórias da bola – quanto a nós é uma das capacidades mais negligenciadas por quem procura qualidade num jogador. Contudo, a competência do domínio da trajectória antes e após a saída da bola do jogador é uma qualidade imprescindível para quem bate records no topo do Alto Rendimento. Fàbregas teria de fazê-lo e isso é visível ao longo de muitas das suas assistências em que usa bolas cortadas com o seu pé dominante para um lado ou para o outro; trajectórias aéreas mais directas ou mais altas; recurso a um pé ou ao outro para aplicar diferentes direcções; etc. Mais do que ter um conhecimento alargado sobre o Jogo que lhe permite fazer essa análise, Fàbregas tem depois a qualidade suficiente para ser eficaz na manifestação prática das mesmas.
·         O controlo exímio da relação entre o tempo e o espaço – Fàbregas manifesta uma qualidade soberba naquilo que é a sua interpretação em relação ao Espaço, nomeadamente àquele que possibilita ao seu colega ficar em posição de golo. Mais do que ele próprio estar no sítio correcto – o que grande parte das vezes parece acontecer, ele precisa é de fazer chegar a bola a determinado espaço específico. Contudo, o controlo do Espaço não chega por si só, precisa do devido ajuste em relação ao Tempo da acção. Por vezes o espanhol tem de antecipar, outras tardar e outras até continuar determinada linha temporal de circunstâncias do contexto que lhe permitam realizar o Passe para golo. Esta qualidade nota-se ainda mais na cobrança de bolas paradas, já que é através de cantos e livres indirectos que Fàbregas tantas vezes assiste;
·         A extraordinária Cultura de Jogo – sobretudo no processo ofensivo, o nº 4 do Chelsea tem um posicionamento fantástico naqueles que são os espaços que ligam meio-campo e ataque. Quer naquilo que é a colocação dos seus apoios, quer na sua visão periférica estática e dinâmica (consideramos aqui o seu constante mexer de pescoço), quer na interpretação da informação circunstancial do jogo, ou seja, aquilo que são as condicionantes que o levam a tomar determinada decisão. Parece haver um processamento quase cibernético daquilo que são o número e a velocidade de soluções que ele  pode oferecer à sua equipa para a resolução de determinado problema. Tal é ainda mais potenciado pelo facto do jogador ter tido a necessidade de se ajustar ao longo da sua carreira a Jogares bem distintos naquilo que é a sua matriz ideológica. Neste particular, acreditamos que a Escola que teve em La Masia foi bastante importante para a sua construção enquanto jogador tão culto e flexível (comportamentalmente falando).

Ainda estamos no início da época, é certo. Mas esperamos que esta ausência de referência a esta recordista mundial, seja apenas um lapso…




quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Obrigado Silas! Já abalaste o Futebol em Portugal!

O treinador Jorge Silas foi apresentado no passado dia 19 de Janeiro como novo treinador do histórico Belenenses.

Não somos do tempo em que o clube era um colosso nacional, mas crescemos a ver este clube repleto de jogadores interessantes. O próprio Silas foi um deles. Outros haviam como Tuck, Neca, Antchouet, Marco Paulo, Zé Pedro, Ruben Amorim, Rolando e André Almeida.

Desde logo o Silas, na sua apresentação, manifestou um discurso de quem pensa em grande, é ambicioso e tem paixão pelo clube por já ter passado alguns anos. E acreditamos que não o fez só da boca para fora, já que logo no dia a seguir conseguiu que o Belenenses empatasse com o Marítimo nos Barreiros.

E ao contrário do que muitas vezes acontece, houve coerência nas palavras de Silas com aquilo que o Belenenses manifestou com o Benfica.

Ficamos extraordinariamente encantados com a proposta do Jogar desta equipa. Fixação pela posse através do passe, com criação de linhas de passe constantes por parte dos colegas do portador da bola, crença na colectivização do jogo que foi desde o guarda-redes ao ponta-de-lança, transições em segurança para consequente valorização da bola, dinâmicas de espaço muito bem equilibradas e preparadas para possível transição defensiva e escalonamentos de coberturas muito bem distribuído na organização defensiva. E toda esta eficácia contra o tetracampeão português para valorizar ainda mais o feito de Silas!

Contudo, mais do que a tão romântica ideia de jogo, foi a sua concretização em tão curto espaço de tempo! Foi precisamente este hiato tão curto entre a sua apresentação e o jogo contra o Benfica que nos deixou estupefactos com aquilo que aconteceu.

Por aqui já falámos naquilo que são os Hábitos. Mas a transformação seja táctico-técnica ou emocional dos Hábitos operacionalizados do Domingos Paciência para os de Silas deixam qualquer especialista em Neurociências de boca aberta!

Ter a Ideia de querer jogar da maneira como jogou é uma coisa. Fazê-lo é outra totalmente diferente. E ou muito nos enganamos, ou o Treino não teve muito de escadas de coordenação, estacas e barreiras. Teve sim muitos contextos de propensão para que toda essa Ideia Macro fosse possível de se manifestar.

No entanto, apreciamos ainda mais o trabalho do Silas por ele ter conseguido que os seus jogadores acreditassem na sua ideia com uma crença, uma paixão e uma emoção tão grandes quanto aquela que mostraram no Jogo. Pois ver sair o primeiro “chutão” aos 90 e tal minutos contra um grande é um feito para poucas equipas.

O facto de ser um treinador “descredenciado” faz aumentar ainda mais o valor deste seu empate. Segundo as regras da Liga NOS, o Silas não tem a totalidade da certificação para ser treinador-principal nesta competição por não possuir o Nível IV de Treinador. Contudo, Silas mostra-nos que, por um lado, não são precisos canudos para mostrar a real competência do indivíduo; por outro leva-nos a inferir que ele valoriza o acto de treinar de uma forma partilhada com os seus adjuntos.

Em relação a este último ponto, Silas, escolheu nomes como Zé Pedro, um ex-colega de meio-campo no próprio Belenenses, que até se iniciou nas lides do treino de uma forma interessante ao serviço do Alcochetense. E Nuno Presume, ex-colega nos painéis da SportTV que pela obrigatoriedade regulamentar de ter alguém com o Nível IV na sua equipa técnica terá forçosamente de ser respeitado pelo próprio Silas. No caso de Nuno Presume, parece ser alguém que na teoria e comunicação social mostra excelentes análises daquilo que é o a complexidade do Jogo.


Esperamos muito que esta partida não tenha sido um acidente no caminho do Silas e que esta proposta de jogo lhe permita vir a alcançar todo o sucesso que merece. A jogar assim podemos não saber se ganha, mas estará mais perto de o fazer do que maior parte das outras equipas da Liga NOS.