Treinador: Porque é que não abordaste o avançado e lhe
cortaste a bola!? E tu guarda-redes!? Porque é que nem sequer tentaste
defender!?
Jogadores: Porque não queremos jogar nessa posição…
Somos manifestamente apaixonados pelas histórias de
resiliência, que ajudam o ser humano a ser melhor no seu Todo. Felizmente, no
Futebol, são vários os casos de sucesso onde muitos craques para chegarem ao
topo tiveram de ultrapassar diversas adversidades, umas até bem agressivas do
ponto de vista emocional, mas que se mostraram profícuas para o seu
crescimento.
No caso concreto exposto acima, numa equipa Sub13 de
Futebol de 9, com treze jogadores no plantel, sendo que apenas um é
guarda-redes, estamos a ter vários problemas na questão da “Posição” a ocupar
em campo. “Não gosto de jogar lá” ou “não quero jogar ali” são expressões
diárias do processo que têm atrapalhado bastante o rendimento do mesmo.
Até agora temos estado a ser intransigentes quanto às
nossas ideias e decisões. Temos adoptado uma postura rígida, tomando decisões
em conformidade com aquilo que achamos ser o melhor para a equipa, mesmo que
para isso estejamos a tornar os jogadores infelizes.
Mas valerá a pena? Valerá a pena estarmos a “marcar” as
crianças de uma forma tão negativa? Valerá a pena estarmos-lhes a gerar
sentimentos negativos que atrapalham o seu processo de aprendizagem? Valerá a
pena termos crianças tristes e frustradas na nossa equipa?
Sabendo que “as emoções, o pensamento e a aprendizagem
estão todos ligados”, e estando a Emoção compreendida como uma “importante
componente da aprendizagem” (Jensen, 2002:11), achamos que a resposta é NÃO!
António Damásio (1994) fala-nos dos Marcadores-Somáticos,
que podem “ser entendidos como um processo inconsciente do organismo que
aumenta a eficácia do processo de decisão, destacando para isso opções marcadas
positivamente (por exemplo, que originariam um estado corporal de prazer) e
eliminando outras (por exemplo que provocariam um estado corporal desagradável)”
(Oliveira, 2008). “Os Marcadores-Somáticos são um caso especial do uso de
sentimentos gerados a partir de emoções secundárias. Essas emoções e
sentimentos ligados, pela aprendizagem, a resultados futuros previstos de
determinados cenários” (Damásio, 1994).
Nesse sentido o “treinador deve funcionar como
catalisador positivo dos comportamentos desejados, associando-lhes emoções
positivas e/ou marcadores somáticos positivos” (Guilherme Oliveira, 2004).
Por isso, por mais adversidades que estejamos a criar na
aprendizagem dos jovens jogadores, tal poderá ultrapassar os limites do
aceitável, transformando o meio de aprendizagem numa espécie de prisão
depressiva, que poderá orientar estes jovens para extremos tão nefastos como o
abandono da equipa.
Porque para haver uma equipa teremos de ter jogadores…
Bibliografia
DAMÁSIO, A. (1994). O Erro de Descartes. Emoção, razão e
cérebro humano. Mem Martins. Publicações Europa-América.
GUILHERME OLIVEIRA, J. (2004). Conhecimento Específico em
Futebol. Contributos para a definição de uma matriz dinâmica do processo ensinoaprendizagem/treino
do Jogo. Dissertação de Mestrado. FCDEF-UP. Porto.
JENSEN, E. (2002); O cérebro, a bioquímica e as
aprendizagens; Edições Asa; Porto.
OLIVEIRA, A. (2008). As Emoções como condição essencial
na Aprendizagem de um “jogar”. Dissertação de Licenciatura. FADE-UP. Porto.
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