domingo, 22 de outubro de 2017

Pode um Jogador ser feliz se não Joga onde quer?

Treinador: Porque é que não abordaste o avançado e lhe cortaste a bola!? E tu guarda-redes!? Porque é que nem sequer tentaste defender!?
Jogadores: Porque não queremos jogar nessa posição…

Somos manifestamente apaixonados pelas histórias de resiliência, que ajudam o ser humano a ser melhor no seu Todo. Felizmente, no Futebol, são vários os casos de sucesso onde muitos craques para chegarem ao topo tiveram de ultrapassar diversas adversidades, umas até bem agressivas do ponto de vista emocional, mas que se mostraram profícuas para o seu crescimento.
No caso concreto exposto acima, numa equipa Sub13 de Futebol de 9, com treze jogadores no plantel, sendo que apenas um é guarda-redes, estamos a ter vários problemas na questão da “Posição” a ocupar em campo. “Não gosto de jogar lá” ou “não quero jogar ali” são expressões diárias do processo que têm atrapalhado bastante o rendimento do mesmo.
Até agora temos estado a ser intransigentes quanto às nossas ideias e decisões. Temos adoptado uma postura rígida, tomando decisões em conformidade com aquilo que achamos ser o melhor para a equipa, mesmo que para isso estejamos a tornar os jogadores infelizes.
Mas valerá a pena? Valerá a pena estarmos a “marcar” as crianças de uma forma tão negativa? Valerá a pena estarmos-lhes a gerar sentimentos negativos que atrapalham o seu processo de aprendizagem? Valerá a pena termos crianças tristes e frustradas na nossa equipa?
Sabendo que “as emoções, o pensamento e a aprendizagem estão todos ligados”, e estando a Emoção compreendida como uma “importante componente da aprendizagem” (Jensen, 2002:11), achamos que a resposta é NÃO!
António Damásio (1994) fala-nos dos Marcadores-Somáticos, que podem “ser entendidos como um processo inconsciente do organismo que aumenta a eficácia do processo de decisão, destacando para isso opções marcadas positivamente (por exemplo, que originariam um estado corporal de prazer) e eliminando outras (por exemplo que provocariam um estado corporal desagradável)” (Oliveira, 2008). “Os Marcadores-Somáticos são um caso especial do uso de sentimentos gerados a partir de emoções secundárias. Essas emoções e sentimentos ligados, pela aprendizagem, a resultados futuros previstos de determinados cenários” (Damásio, 1994).
Nesse sentido o “treinador deve funcionar como catalisador positivo dos comportamentos desejados, associando-lhes emoções positivas e/ou marcadores somáticos positivos” (Guilherme Oliveira, 2004).
Por isso, por mais adversidades que estejamos a criar na aprendizagem dos jovens jogadores, tal poderá ultrapassar os limites do aceitável, transformando o meio de aprendizagem numa espécie de prisão depressiva, que poderá orientar estes jovens para extremos tão nefastos como o abandono da equipa.
Porque para haver uma equipa teremos de ter jogadores…

Bibliografia
DAMÁSIO, A. (1994). O Erro de Descartes. Emoção, razão e cérebro humano. Mem Martins. Publicações Europa-América.
GUILHERME OLIVEIRA, J. (2004). Conhecimento Específico em Futebol. Contributos para a definição de uma matriz dinâmica do processo ensinoaprendizagem/treino do Jogo. Dissertação de Mestrado. FCDEF-UP. Porto.   
JENSEN, E. (2002); O cérebro, a bioquímica e as aprendizagens; Edições Asa; Porto.

OLIVEIRA, A. (2008). As Emoções como condição essencial na Aprendizagem de um “jogar”. Dissertação de Licenciatura. FADE-UP. Porto.