segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Na procura do Talento eu quero ser um Experto – a complexidade do Recrutamento!

Quando um clube é considerado bom na formação, um ponto que se exige que esteja presente nessa qualidade é o recrutamento de jovens jogadores. Principalmente quando a perspectiva resultadista está bem assente, e o clube tem algumas condições financeiras para oferecer condições a jogadores de "fora", o recrutamento é uma premissa diária na estrutura da formação. A maioria dos clubes utiliza e precisa desse trinómio deteção, seleção e recrutamento de talentos, pois até os melhores treinadores precisam de boas uvas para fazerem bons vinhos.

Esse mesmo aproveitamento dos melhores, deverá surgir nos escalões jovens, para melhor potenciar todo o processo de formação de determinado clube, onde o chamado “Departamento de Scouting” tem o seu papel fundamental (Moita, 2008). Hoje em dia, o recrutamento e toda a sua envolvência, chegou a um ponto bastante precoce, onde a prospecção chega a idades tão precoces como absurdas!

Assim como os jogadores começam a chegar às academias, escolas e clubes de futebol com idades bastante reduzidas, chegando algumas crianças a essas instituições com apenas 3 anos de idade (!) (http://www.portoccd.org/293), também o recrutamento se dá em crianças com idades a partir dos 7 anos.

Além disso, o recrutamento chegou a um ponto tão detalhado que não basta à criança e ao jovem ser bom, é preciso que ela, através do seu jogar, manifeste determinadas características assentes em determinado “modelo/perfil de jogador”. Uma das “Escolas de Futebol” mais prestigiada em todo o mundo, o Ajax de Amsterdão utiliza o modelo apelidado de TIPS, siglas que em inglês significam a (T) técnica, discernimento (o I é de “insight” que não tem tradução à letra), (P) personalidade e (S de speed) velocidade. Já outras equipas da Premier League utilizam outros modelos como o TABS ou o SUPS (Moita, 2008). Coincidência ou não, estes três modelos têm quatro iniciais, ou seja quatro referências de atributos de qualidade que o bom jogador deverá ter, tal como acontece na caracterização dos expertos, que deverão apresentar o domínio de quatro Domínios. Assim, os modelos apelam normalmente a qualidades ligadas ao domínio técnico, cognitivo, emocional e fisiológico.

Relativamente à questão do “modelo/perfil do jogador” numa equipa de formação, concordamos que o mesmo deva existir mas de uma forma bem flexível. No entanto, mesmo que este esteja subjacente a um referencial ou a um padrão qualitativo, tal como por exemplo o do Ajax, o “modelo/perfil de jogador” deverá ser, sobretudo, flexível e deverá potenciar a adaptabilidade do jogador de formação a diferentes filosofias ou modelos de jogo. Concordamos por isso com o Jean Paul (in Moita, 2008), na altura diretor técnico da formação do Sporting, quando afirma que “o que faz sentido é que nós sejamos capazes de formar jogadores aptos para se adaptarem a qualquer modelo de jogo ou sistema”. Para isso acontecer caberá ao jogador ser inteligente e autónomo para colocar em prática essa adaptabilidade.

O Scout, ou “olheiro”, de um determinado clube e neste caso de jogadores da formação, deverá então conseguir detetar crianças e jovens que se enquadrem nas linhas orientadoras do “modelo/perfil de jogador”, linhas essas que deverão ser flexíveis como já foi abordado acima. A partir daí deverá projetar a evolução dos domínios do expertise, olhando para o jogador como um ser treinável. A nosso ver, a competência do Scout de jogadores jovens está dependente de um número elevadíssimo de factores, muitos deles dependentes de terceiros, pelo que o verdadeiro valor do Scout jovem só pode ser mensurável anos após o início da sua atividade, quando atletas propostos por ele conseguem alcançar patamares qualitativos de excelência.

Assim, concordamos com algumas das competências propostas por Proença (1982), que definem um bom desempenho de função de Scout, como a imparcialidade, o conhecimento do jogo, a mente aberta, o perfecionismo e o conhecimento dos jogadores da própria equipa (para comparações) (Santos, 2012). Acrescentamos ainda o fator “sensibilidade”, de interpretação de comportamentos positivos ou negativos em determinado contexto, e o fator “conhecimento maturacional do indivíduo” relacionado com conhecimento sobre o processo de maturação biológica do indivíduo.

Moita, M. (2008). Um percurso de sucesso na formação de jovens de Futebol. Estudo realizado no Sporting Clube de Portugal – Academia Sporting/Puma. Monografia não publicada, Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Porto.

Proença, J. (1982). A observação e a intervenção do professor. Ludens, 7, 33-44.


Santos, P. (2012). O modus operandi de um Departamento de Scouting de Futebol – Estágio Profissionalizante realizado na Futebol Clube do Porto – Futebol, SA. Relatório de Estágio Profissionalizante, Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Porto.

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