Quando um clube é
considerado bom na formação, um ponto que se exige que esteja presente nessa
qualidade é o recrutamento de jovens jogadores. Principalmente quando a
perspectiva resultadista está bem assente, e o clube tem algumas condições
financeiras para oferecer condições a jogadores de "fora", o recrutamento
é uma premissa diária na estrutura da formação. A maioria dos clubes utiliza e
precisa desse trinómio deteção, seleção e recrutamento de talentos, pois até os
melhores treinadores precisam de boas uvas para fazerem bons vinhos.
Esse mesmo aproveitamento
dos melhores, deverá surgir nos escalões jovens, para melhor potenciar todo o
processo de formação de determinado clube, onde o chamado “Departamento de
Scouting” tem o seu papel fundamental (Moita, 2008). Hoje em dia, o
recrutamento e toda a sua envolvência, chegou a um ponto bastante precoce, onde
a prospecção chega a idades tão precoces como absurdas!
Assim como os jogadores
começam a chegar às academias, escolas e clubes de futebol com idades bastante
reduzidas, chegando algumas crianças a essas instituições com apenas 3 anos de
idade (!) (http://www.portoccd.org/293), também o recrutamento se dá em crianças
com idades a partir dos 7 anos.
Além disso, o recrutamento
chegou a um ponto tão detalhado que não basta à criança e ao jovem ser bom, é
preciso que ela, através do seu jogar, manifeste determinadas características
assentes em determinado “modelo/perfil de jogador”. Uma das “Escolas de
Futebol” mais prestigiada em todo o mundo, o Ajax de Amsterdão utiliza o modelo
apelidado de TIPS, siglas que em inglês significam a (T) técnica, discernimento
(o I é de “insight” que não tem tradução à letra), (P) personalidade e (S de
speed) velocidade. Já outras equipas da Premier League utilizam outros modelos como
o TABS ou o SUPS (Moita, 2008). Coincidência ou não, estes três modelos têm
quatro iniciais, ou seja quatro referências de atributos de qualidade que o bom
jogador deverá ter, tal como acontece na caracterização dos expertos, que deverão
apresentar o domínio de quatro Domínios. Assim, os modelos apelam normalmente a
qualidades ligadas ao domínio técnico, cognitivo, emocional e fisiológico.
Relativamente à questão do
“modelo/perfil do jogador” numa equipa de formação, concordamos que o mesmo
deva existir mas de uma forma bem flexível. No entanto, mesmo que este esteja
subjacente a um referencial ou a um padrão qualitativo, tal como por exemplo o
do Ajax, o “modelo/perfil de jogador” deverá ser, sobretudo, flexível e deverá
potenciar a adaptabilidade do jogador de formação a diferentes filosofias ou
modelos de jogo. Concordamos por isso com o Jean Paul (in Moita, 2008), na altura
diretor técnico da formação do Sporting, quando afirma que “o que faz sentido é
que nós sejamos capazes de formar jogadores aptos para se adaptarem a qualquer
modelo de jogo ou sistema”. Para isso acontecer caberá ao jogador ser
inteligente e autónomo para colocar em prática essa adaptabilidade.
O Scout, ou “olheiro”, de um
determinado clube e neste caso de jogadores da formação, deverá então conseguir
detetar crianças e jovens que se enquadrem nas linhas orientadoras do “modelo/perfil
de jogador”, linhas essas que deverão ser flexíveis como já foi abordado acima.
A partir daí deverá projetar a evolução dos domínios do expertise, olhando para
o jogador como um ser treinável. A nosso ver, a competência do Scout de jogadores
jovens está dependente de um número elevadíssimo de factores, muitos deles
dependentes de terceiros, pelo que o verdadeiro valor do Scout jovem só pode
ser mensurável anos após o início da sua atividade, quando atletas propostos
por ele conseguem alcançar patamares qualitativos de excelência.
Assim, concordamos com
algumas das competências propostas por Proença (1982), que definem um bom
desempenho de função de Scout, como a imparcialidade, o conhecimento do jogo, a
mente aberta, o perfecionismo e o conhecimento dos jogadores da própria equipa
(para comparações) (Santos, 2012). Acrescentamos ainda o fator “sensibilidade”,
de interpretação de comportamentos positivos ou negativos em determinado contexto,
e o fator “conhecimento maturacional do indivíduo” relacionado com conhecimento
sobre o processo de maturação biológica do indivíduo.
Moita, M. (2008). Um
percurso de sucesso na formação de jovens de Futebol. Estudo realizado no
Sporting Clube de Portugal – Academia Sporting/Puma. Monografia não publicada, Faculdade
de Desporto da Universidade do Porto, Porto.
Proença, J. (1982). A
observação e a intervenção do professor. Ludens, 7, 33-44.
Santos, P. (2012). O modus
operandi de um Departamento de Scouting de Futebol – Estágio Profissionalizante
realizado na Futebol Clube do Porto – Futebol, SA. Relatório de Estágio Profissionalizante,
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Porto.