sábado, 3 de dezembro de 2016

André Silva e os golos - dissecando a sua performance

Consideramos, tal como muitos, que André Silva é o melhor avançado português da actualidade. Com apenas 21 anos, o ponta-de-lança portista mostra uma grande capacidade e potencial para ser um jogador de eleição.

Desenvolveu-se fora da corrente doutrinada por muitos dos pensadores do futebol de formação do FC Porto, tendo na dimensão física do seu jogo, uma das suas maiores armas. Contudo, o que mais nos cativa, é o facto de ser muito habilidoso com os dois pés, inteligente nas diagonais e na ocupação dos espaços perto da baliza, de passada larga. Para nós, tem tudo para ser um jogador de referência. Mas porque é que ainda não o é?

Julgamos que, desde cedo, acolheu em si uma responsabilidade tremenda de ser o marcador dos golos do FC Porto. Ainda como jogador da “B” era muita a pressão para ser a 1ª escolha da equipa principal, e até para ser convocado para os AA de Portugal. Já nesta época, e agora como indiscutível no FC Porto e na Selecção Campeã Europeia é-lhe incutida ainda maior “obrigação” para ser a solução dos problemas da sua equipa.

Daí nos perguntarmos. Será fácil aguentar com tal responsabilidade num “grande” como o FC Porto? Para nós, não. É assim que interpretamos o jogar de André Silva…

Não, desde logo pelo modelo de jogo operacionalizado pela sua equipa. É intenção do treinador Nuno Espírito Santo que o seu avançado tenha princípios de “construção” e menos de “finalização”. Esses princípios fazem com que André Silva jogue muitas vezes afastado das principais zonas de remate, aparecendo de costas para a baliza a dar apoios frontais aos médios-centro, não podendo depois explorar zonas mais adiantadas no terreno, já que as dinâmicas paralelas à sua ocupação mais recuada não são, depois, devidamente exploradas. Além disso, o FC Porto é uma equipa que vive muito dos cruzamentos, mas não consegue ser eficaz na ocupação devida do eixo atacante, estando muitas vezes André Silva em (muita) inferioridade numérica no momento dos cruzamentos.

E também dizemos que não, pela pressão que sofre por ter de tentar resolver um problema colectivo e estrutural na equipa, a ausência de golos. Recorde-se, por exemplo, o jogo em Tondela, onde o André teve uma exibição muito pouco conseguida, com tomadas de decisão muito individuais, fruto de uma necessidade quase obrigatória de ser ele a marcar o golo. Tentemos fazer o acompanhamento dos dados estatísticos relativos aos golos marcados pelo Porto.
  • ·         Em 20 jogos disputados nesta época, André Silva marcou 10 golos;  
  • ·         Dos 10 golos marcados, 6 dão a vitória, o empate ou a reviravolta;
  • ·         Já em 12 jogos não fez o “gosto ao pé”.

Para nós, que olhamos para o “Golo” de uma forma qualitativa e contextual mais do que apenas quantitativa, consideramos que são valores com uma carga emocional tremenda no jogar de um jovem jogador, que logo no início da época tem de marcar a sua posição, sem sequer ter conseguido impor-se na época anterior. É normal que interfira nos seus níveis de concentração e tomada de decisão.


Daí deixarmos esta pergunta no ar. Não será este um contexto demasiadamente adverso para André Silva mostrar o seu real valor?  

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