quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Quaresma vs Letónia e as implicações no processo de treino

No passado domingo, Portugal venceu a Letónia por 4x1. Num jogo que parecia estar complicado, Quaresma entrou aos 65min a tempo de ser, para nós, o “homem do jogo”.

Muitos treinadores, em especial na formação, estão tão preocupados com basculações, coberturas e diagonais que depois se esquecem de treinar/ensinar comportamentos mais individuais.

Consideramos importante que no processo de treino e ensino/aprendizagem se valorize o lado estratégico do jogo, a dimensão mais colectiva que permite aos jogadores jogarem segundo um modelo comum. No entanto, consideramos também que os jogadores devem aprender e/ou desenvolver paralelamente no seu treino, as suas habilidades motoras mais individuais. 

Com um posicionamento largo, e com uma técnica de top mundial, Quaresma conseguiu concretizar em assistência para golo os cruzamentos que foi fazendo. Foram dele os passes para os golos de William Carvalho e o segundo de Cristiano Ronaldo.

Enquanto este último, por exemplo, ao longo da partida cruzava a bola para a grande área à espera que algum colega lhe acertasse e a colocasse na baliza, sem que com isso existisse uma preocupação posicional dos seus colegas e das suas movimentações, ou seja, sem qualquer critério, Quaresma fazia precisamente o oposto. Para ele, o cruzamento é uma forma de passar a bola aos seus colegas, podendo ser executado das mais diversas formas – sendo a sua trivela a mais mediática. Para Quaresma, o cruzamento está carregado de intencionalidade e de propósito para um fim, sendo tudo menos aleatório e fortuito.

A nossa inquietação surge pelo facto de não vermos jogadores de top mundial com essa habilidade de interpretar os seus recursos técnicos, no caso os cruzamentos. Comparando Quaresma a CR7, o “Mustang” deu-lhe “vinte a zero” neste capítulo específico e a sua exibição deveria servir como uma excelente lição daquilo que deve ser um cruzamento: decisão, direcção, força, trajectória… tudo deve ser contemplado! E Quaresma fê-lo.


Com a sua performance e com as suas assistências, Ricardo Quaresma fez-nos pensar naquilo que deve ser mais vezes o treino. Mais preocupação com comportamentos menos complexos, mais individuais, mas tão ou mais importantes que as tais “basculações, coberturas e diagonais”…


sábado, 5 de novembro de 2016

Quando se ganha por 32 a 0!

Hoje o Benfica ganhou 32 a 0, num jogo de infantis. Infelizmente, este caso não é único, e embora não seja frequente, vai acontecendo ao longo da época nas mais diversas regiões de Portugal.

Num resultado destes há muita coisa que nos faz confusão. Tanto numa equipa como na outra.

Começando pelo Mem Martins e desconhecendo por completo essa equipa, não deixa de ser lamentável que se apresente em competição com um grupo de jogadores capaz de tal feito histórico. Temos consciência e também nós provocamos os jogadores para que eles sintam que o Futebol não é um “mar de rosas”. Mas expor as crianças a tal humilhação é tudo o que menos se quer no futebol de formação. Como se sentiam as crianças no final do jogo? Que palavras lhes disse o seu treinador no final do mesmo? Como ficariam os pais depois de verem os seus pequenotes a ser desvalorizados daquela maneira?

Passando para o lado do Benfica, cujo seu lema é “formar a ganhar”, julgamos que deveria repensar melhor a sua estratégia para o seu futebol de formação de iniciação. Pelo menos para este jogo. Não acreditamos que a hora que os meninos passaram nesta partida tenha contribuído para o seu processo formativo. Algo está errado quando se marca um golo de 2 em 2 minutos e quem menos culpa tem, são obviamente as crianças.

Com este resultado presumimos que a equipa se apresentou na sua máxima força, com os seus melhores jogadores nas suas melhores posições. Daí, deixarmos umas interrogações. Não seria melhor para o jogo, o treinador tem colocado em campo menos jogadores do que o seu adversário? Não seria melhor para o jogo, o treinador colocar os jogadores em posições menos confortáveis criando-lhes alguma dificuldade naquilo que é o seu processo? Não poderia o treinador ter criado algumas condicionantes estratégicas aos seus jogadores para eles marcarem golo (por exemplo: remate com pé não-dominante, passar a bola por todos antes de marcar golo)?

Temos consciência que se estaria a descaracterizar a essência do jogo, mas acreditamos que a formação das valências técnicas e humanas das crianças é prioritária a qualquer recorde e fome de ego que possa haver. Pelo menos, é esta a ideia de quem tem uma visão romântica do jogo.


Ficamos a aguardar outras opiniões…