Na
passada quarta-feira tivemos o prazer de assistir no Estádio da Luz ao duelo da
Champions entre o SL Benfica e FC Bayern.
As
diferenças entre as duas equipas foram muitas, tendendo maior parte delas, na
nossa opinião, em favorecimento do Bayern de Munique.
É
conhecido a intencionalidade de Guardiola estruturar a Organização Colectiva da
sua equipa “em função de como querer atacar e o como atacar”. Embora pareça
paradoxal, tal propósito tem como base uma atitude extraordinariamente
defensiva, retirando dessa forma a bola ao adversário e antecipando posicionalmente,
fruto de um número elevado de jogadores na zona da bola, a possibilidade de a
perder – não é um acaso a sua eficácia no momento de transição defensiva. Enquanto
o Bayern utilizou essa dinâmica ofensiva, o Benfica utilizava outra estratégia,
colocando apenas normalmente 2 jogadores no espaço circundante da bola, o seu
portador e mais um apoio. Este princípio ajudava a que a equipa se mantivesse o
mais rígida e disciplinada possível no que refere à sua estrutura em campo,
tentando manter a equipa o menos descomposta possível para o momento de
transição defensiva.
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No
que à sub-dimensão técnica do Jogo diz respeito, os jogadores do Bayern Munique
são bastante superiores aos do Benfica. Não querendo ter uma opinião bastante
extremada, e reportando-nos somente às características táctico-técnicas dos
jogadores, julgamos que dificilmente algum jogador do Benfica teria lugar na
convocatória do clube alemão. A qualidade com que os jogadores do Bayern jogam
sob fortes constrangimentos espácio-temporais, é enorme. Com excepção do Javi
Martinez que nos pareceu mais limitado e “pesado” de movimentos, todos os
outros jogadores são verdadeiramente fenomenais e eficazes tecnicamente.
A
permanência de Fejsa em campo durante o jogo todo pareceu-nos exagerada. Embora
apreciemos as suas qualidades defensivas, não conseguimos perceber porque é que
o seu papel ofensivo na equipa é nulo. Muito raras foram as vezes em que Fejsa
tenha tocado na bola sem ser nas suas recuperações. Isto é, mesmo que se
encontrasse livre de oposição, ele não constituía uma solução ao jogador
portador da bola da sua equipa. Ele estava em campo para desempenhar tarefas
quase exclusivamente defensivas. Acreditamos que é importante questionar e
reflectir se fará sentido num jogo a Top onde o Benfica tinha que ganhar, o
Fejsa apresentar-se com um comportamento ofensivo tão limitado? Ou então, com o
desenrolar da partida, não seria importante ele ser substituído por outro
jogador com outro perfil de médio-defensivo, como por exemplo Samaris, tentando
dar alguma mais continuidade à posse de bola
da sua equipa?
Também
por sermos bastante admiradores do Jogar do Bayern Munique, tentámos decifrar
alguns padrões comportamentais que nos ajudassem a entender melhor o porquê do
mesmo ser tão cativante. Daquilo que conseguimos “atingir” verificámos que:
·
Uma das maiores
dificuldades nesta “análise” do Bayern foi tentar conceptualizar a sua estrutura
posicional com e sem bola. Em especial, por ter andado a “experimentar” algumas
dinâmicas nos minutos iniciais do jogo. Assim, e tentando decifrar a propensão
de comportamentos podemos inferir que:
o com bola, a equipa apresentou-se numa espécie de 1x2x3x4x1,
com Neuer; Javi Martinez (DCE), Kimmich (DCD); Alaba (MDE), Xabi Alonso (DC), Lahm
(MDD); Ribéry (EE), Thiago Alcântara (MIE), Vidal (MID) e Douglas Costa (ED);
Müller (AV).
o sem bola, o Bayern dispôs-se em 1x4x3x3, com o triângulo
do meio-campo a estruturar-se em 1 (Xabi Alonso) x 2 (Alcântara e Vidal).
·
A largura foi
maioritariamente assegurada pelos extremos, que mesmo jogando sobre o lado do
pé não-dominante, raramente viram o defesa lateral realizar o chamado “overlap”.
Ao contrário do que muitas vezes se assiste, os extremos não trocaram de lado durante
a partida.
·
Das poucas vezes que
os laterais realizaram movimentos de rotura, sobre a defesa adversária,
originaram golo. Isso aconteceu no primeiro golo do Bayern, quando Lahm entrou
no espaço entre Eliseu e Jardel; e no golo anulado a Müller quando Alaba entrou
nas costas de Lindelöf. A linha defensiva do Benfica não pareceu estar muito
bem preparada para se ajustar perante estas desmarcações dos laterais
contrários.
·
Como os defesas-laterais
não passam muitas vezes para terrenos mais adiantados que os extremos, permite
à equipa estar muito mais preparada para as percas de bola.
·
Em organização defensiva,
o Bayern cria uma zona de pressão com muitos jogadores sobre a bola que tornam
a zona extremamente sufocante. Contudo, quando a mesma não é eficaz e os
adversários se conseguem libertar, existe alguma dificuldade em reajustar os
seus posicionamentos e em definir uma outra zona de pressão sufocante que
condicione os seus adversários. Isso aconteceu por algumas vezes na parte
inicial da partida, culminando a favor do Benfica com o golo inaugural de
Jimenez que aproveitou um belo cruzamento de Eliseu, que se livre de pressão
durante alguns momentos foi progredindo até efectuar a assistência para golo.
·
As referências do
processo ofensivo eram precisamente os extremos. A equipa procurava fazer uma
sequência de passes sobre um corredor, de forma a libertar o mais possível
tempo e espaço defensivos do adversário sobre o outro corredor – quase sempre
no sentido esquerda direita, para Douglas Costa ficar em situação de 1v1 para
Eliseu.
·
Sempre que a bola era
chutada por Neuer ou por qualquer defesa para zonas adiantadas do campo, a
linha defensiva “subia” em sprint (como se fosse uma final dos 100m!) para a
frente, com o propósito de retirar o máximo de espaço ao seu adversário,
confiando a Neuer o controlo da profundidade;
·
O Jogar das equipas
de Pep Guardiola é caracterizado por se basear num futebol de posse dinâmica e
apoiada. No entanto, um dos jogadores mais importantes nesta partida foi Xabi
Alonso, que se destacou pelos seus passes… longos! à procura dos extremos.
Acreditamos que esta característica específica de Xabi (talvez um dos melhores
do mundo nesta tarefa táctico-técnica) tenha sido fulcral (para a sua
contratação e) para a estratégia de Pep para este jogo
·
Por fim, queremos
destacar o entendimento que os jogadores do Bayern têm da ideia do seu
treinador. Sempre que o jogador X tem a bola, os outros 10 jogadores sabem o
que têm de fazer. Seja uma cobertura ofensiva, uma desmarcação em profundidade,
um movimento de largura ou aproximação ao portador da bola… e fazer isso a uma
exigência Top é extremamente complexo e extraordinário. Comparando novamente as
equipas, no caso do Benfica, por mais do que uma vez se constatou a dificuldade
que os jogadores com bola tinham em resolver os seus problemas. Sobretudo na
primeira-parte, o portador da bola encontrava imensas dificuldades em obter
algo de positivo com ela. A tal noção colectiva que o jogo do Bayern foi
completamente díspar da do seu adversário. Enquanto que vimos, por exemplo o
Renato Sanches ao “meiinho” no meu de três adversários, vimos jogadores do
Benfica com bola como o Pizzi, Carcela-Gonzaléz e Salvio em “meiinhos” de
pressão do seu adversário, sem saber o que fazer com ela, fruto de uma
abordagem mais individualista do jogo.
Por
fim, não podíamos deixar uma palavra de apreço a toda a “nação benfiquista”.
Embora reconheçamos muita mais qualidade no conjunto bávaro, o campeão nacional
tem, sem dúvida, uma falange de apoio de fazer arrepiar. Embora se tenham
deixado ir um pouco a baixo no momento do empate, a verdade é que não faltou
apoio aos jogadores encarnados que podem contar com os seus adeptos para o que
falta do campeonato. Com este ambiente, ficará mais acessível atingir o 35º
título de campeão nacional…