sexta-feira, 26 de maio de 2017

Ajax vs Manchester United - reflexões e imagens de uma final poética

Há muito tempo que não estávamos tão entusiasmados com a visualização de um jogo. Depositámos bastantes expectativas no embate entre dois Jogares bastante diferentes, quase opostos face à sua abordagem aos diferentes momentos do jogo.

O Manchester de Mourinho não nos surpreendeu, com a sua organização calculista, algo retrógrada, de elevada imposição táctico-física. Já ao Ajax esperávamos mais, dada a dinâmica ofensiva e total que apresentou em outros contextos.

Ambas as partes da partida tiveram bastante semelhança. Por um lado vimos um Ajax a tentar construir sempre pelos seus defesas-centrais em progressão, de preferência (e convite do United) por Sánchez, condicionados por um lado pela estratégia defensiva de Mourinho, por outro pela própria obsessão a determinados princípios propostos por Bosz.

A pressão passiva de Rashford, que normalmente tapava a linha de passe central-central, convidava à progressão em posse de um dos mesmos que inconscientemente ou não entravam na sua zona de desconforto, a zona dos médios do United.



Com este comportamento o Manchester procurava recuperar a bola com um dos centrais desposicionados permitindo a exploração do espaço pelo Rashford.




Outra dificuldade do Ajax foi a falta de enquadramento individual dos seus médios mais criativos, que muitas vezes não se conseguiram posicionar de perfil para o Jogo, fruto de marcações mais agressivas por parte dos seus defensores directos. Assim, das poucas vezes que as bolas lhes chegavam eram obrigados a voltar a jogar para trás por não estarem corporalmente bem posicionados.



Contudo, a maior dificuldade do jogo ofensivo do Ajax passou por um erro próprio. Bosz que nos desculpe a prepotência mas o jogo fartou-se de mostrar que Schone deveria ter tido outro papel no processo ofensivo do Ajax. O dinamarquês foi excessivamente posicional contribuindo muito pouco para a ligação centrais-meio-campo (contam-se pelos dedos os passes verticais que fez). Alguém que ocupe um espaço tão importante terá de ter outra preponderância para a fluidez de jogo ofensivo da sua equipa.

Ou então, Bosz deveria ter criado outras dinâmicas para não precisar deste jogador. É verdade que o seu posicionamento se mostrou importante para o equilíbrio defensivo da equipa, mantendo-se muito fixo e em constante alerta às subidas dos centrais. Mas também é verdade que o jogo interior do Ajax andou sempre refém de um terceiro elemento.




Além de Schone, também Younes precisa de ser referenciado. O facto deste jogador estar demasiadamente fixo no lado esquerdo do ataque do Ajax também ajudou a anular o dinâmica ofensiva da sua equipa. Além do que, quando a bola lhe chegava ele encontrava-se muitas vezes condicionado a tomadas de decisão individuais, descoberto de coberturas ofensivas e obrigado a partir para situações de 1v1



Não queremos com isto retirar mérito a Mourinho. Acreditamos que mais de dois terços das decisões do Ajax foram escolhidas pelos jogadores do Manchester. Os espaços, maiores ou menores, foram deixados ou tapados com um propósito idealizado por Mourinho. O lado mais estratégico da Táctica foi bastante exacerbado pelas ideias do português e com isso o United foi bastante mais eficaz a defender do que o Ajax a atacar.




As marcações individuais do United foram bastante assertivas. Por mais que não se goste. E o mais interessante desse comportamento foi observar de que maneira é que esse método defensivo mais individual funciona em termos colectivos. Ou seja, é absolutamente fascinante do ponto de vista estratégico vermos um conjunto de jogadores comportarem-se segundo uma ordem quando a base dessa ordem está balizada por um princípio individual.

Muita qualidade tem de ter esse método, quando o Manchester apenas concede um remate à sua baliza na primeira parte. E não é por acaso que esse único remate à baliza de Romero tenha sido concedido quando os dois extremos do Ajax se cruzaram no corredor esquerdo.



Acabou por ser um Ajax pouco flexível, muito ligado a uma criatividade padronizada a outro tipo de organizações defensivas – será que isso se poderá chamar criatividade? – quase que conectado de forma mecânica ao seu próprio estilo.


Já o United manteve-se fiel a si próprio e ao que Mourinho pediu aos seus jogadores. A disciplina em forma de um Jogar. Sem poesia mas com a Taça.