«Hoje
em dia é mais difícil para um jogador talentoso ter sucesso. Não sou forte a
nível físico, não sou o mais rápido, não sou o mais forte, pelo que tenho de
tentar estar à frente de outro modo. Sei que para ter sucesso hoje em dia é
preciso ser muito forte, correr muito e isso não é fácil. O futebol está a
mudar e cada dia que passa vemos menos talento e mais poder físico»
Quando
se compara o futebol do presente com aquele que era jogado há alguns anos
atrás, saltam à vista determinados factos que parecem abordar uma tendência
evolutiva do Jogo.
Uns
mais relacionados com a dimensão táctico-física do Jogo, como o aumento das
distâncias percorridas pelos jogadores, o incremento do número de jogos
realizados por época e até a alteração morfológica dos jogadores. Outros, mais
orientados para a dimensão táctico-estratégica, como a exponenciação da zona
pressing em determinados processos defensivos, ou a eficácia e eficiência dos
princípios e sub-princípios de posse em determinados Jogares como por exemplo o
do “tiki-taka”.
Até
mesmo sobre as equipas técnicas que compõem as equipas de futebol, estamos a
assistir ao aparecimento ou consolidação de novas funções. Uma vez mais, conectadas
sobretudo ao físico e ao estratégico do Jogo, como o são respectivamente os
recuperados físicos e os analistas (e não observadores, que a nosso ver
são cargos diferentes).
Se
olharmos para estes factos de uma forma mais linear e menos sistémica,
poderemos dizer que o Futebol estará a caminhar num trilho muito próspero, de
elevada qualidade com os jogadores a serem cada vez melhores atletas,
orientados cada vez mais por inputs tecnológicos, que permitem aos jogadores
apresentarem-se com uma eficácia de prestação quase comparada a um ser
mecânico…
Mas
será que os factos não reclamam outra análise? Acreditamos que sim.
Aquilo
que Fabregas chama de “talento” está a ser relegado para um plano secundário. A
arte, o romântico, o humano do Jogo parecem estar a ser menosprezados por quem
o comanda. Tanto ao nível da formação como no futebol profissional. São
precisamente equipas que mostram essas valências aquelas que mais nos apaixonam
enquanto aficionados. São jogadores como Cristiano Ronaldo (no início da sua
carreira), Messi, Quaresma, Neymar, Di Maria, que nos brindam com o seu talento
que nos fazem apaixonar diariamente pelo Jogo.
Embora
reconheçamos que só com uma boa organização colectiva o talento individual
poderá emergir, é o TALENTO dos jogadores que mais parece estar estagnado na
perspectiva evolutiva do Jogo.
Reconhecemos
a importância da evolução de determinados parâmetros comportamentais dos
jogadores e das equipas. Mas se o Futebol evoluiu na tal dimensão física e
estratégica porque não evolui também na dimensão mais táctico-técnica? Porque é
que ainda é tão difícil vermos jogadores a top serem exímios no último passe?
Porque é que determinadas fintas 1v1 só ainda existem no YouTube? Porque é que
quando vemos um golo de “pontapé de bicicleta” ou um passe “de letra” ainda ficamos tão admirados?
Porque é que ainda vemos jogadores a top tão limitados com o seu pé-fraco?
Porque é que há guarda-redes que quando têm a bola nos pés se atrapalham tanto
com ela?
Num
futebol cada vez “mais forte, mais rápido e mais alto” tem que haver
obrigatoriamente espaço para o TALENTO. Se não houver, deixaremos de lhe chamar
Futebol.